sexta-feira, 23 de dezembro de 2016
Relógio azul com fundo rosa
Um homem sentado no canto, mão na cabeça, olhos azuis fatigados, uma mochila, espécie de mala, com ele. E um relógio. Um relógio azul escuro, números brancos, e um fundo rosa choque. Sapatos engraxados, nao sei se vai trabalhar ou se já foi. Olha para cima, como que sonhador.Mas não é um olhar de esperança. É como que um olhar
angustiado, semicerrando as pálpebras conforme o trem se desloca. E ele deixa
os olhos penderem, quase fechando, mas não os fecha, como se quisesse provar
para si que ainda restavam forças, que não cederia tão facilmente. E coça o olho, sempre alerta, vislumbrando a paisagem que
passa diante de suas órbitas, rápida como os anos de sua juventude, agora
deveras distante. No momento, há rugas em sua
testa morena, pés de galinha nos cantos de seus olhos, suas mãos são frágeis e
repletas de veias saltitantes. Mas e o relógio? Em seu torpor de roupas preto e
brancas, seu relógio quebra a melancolia que encobre seu ser. Em meio aos tons,
ausência e presença completa de cores, há algo exótico ali no meio. Seria um
presente de aniversário de filhos, dois, uma garota e um garoto, que tentaram
estabelecer um presente com uma equidade de cores superficialmente
representativas? Poderia também ser uma memória física de sua infância, quando
tudo era colorido e mágico, vivo e pleno como o relógio de plástico. Mas também
poderia ser uma lembrancinha da mulher desajeitada, que na hora da compra
pensara ser o presente ideal, mas depois percebera o quão deslocado ficaria agregado a imagem de
seu marido? E será que ele quer usa-lo? Que o acha bonito? Que gosta de usa-lo?
Será que não passa de gentileza para com sua família? Que, na verdade, o
relógio o desagrada, sua vivacidade o irrita? O lembra que os tempos passam
rápido e que a hora dele já passou? Não, ele não tem um semblante irritadiço, não
parece guardar rancor em seu coração. Parece, apenas, que suas forças foram
sugadas, na rigidez que ele cruza os braços, um gesto claro de proteção,
autodefesa involuntária. Por fim, ele deixa-se ceder, talvez desconfortável por
eu estar o observando, fecha os olhos e embarca em um sono que nunca saberei se
é superficial ou profundo. Provavelmente o primeiro. Ele tenta achar sossego em
meio ao caos. Quando eu me dou conta, depois de várias estacoes, não o vejo
saindo, meus olhos não tem a chance de se despedir. Fico triste com isso.
Espero que o relógio seja passado adiante. É um bonito objeto.
segunda-feira, 12 de dezembro de 2016
Bolsos e Bolsas
Você já tentou correr com uma bolsa pendurada em um dos
ombros? Ou então, já esteve em um show de rock, e precisou colocar as mãos nos
bolsos para o conteúdo que se encontrava neles não caísse e fosse pisoteado
abruptamente por brutamontes metaleiros? Pois é. Conheça a teoria conspiratória
- BOLSOS + BOLSAS.
Bolsas. Artefatos de couro, camurça, plástico, ou materiais
ligeiramente mais vagabundos. Totalmente não práticas para quem mora no rio de
janeiro. Alças curtas que escorregam dos ombros, e o fardo da bolsa batendo em você
se andar um pouco mais rápido. Um artefato que valoriza a estética, pois bem.
Futuros contratantes, usarei meus melhores ternos se, no
futuro, precisar dessa vestimenta para trabalhar. MAS VOU LEVAR UMA MOCHILA
PARA TRANSPORTAR MEUS BENS. PONTO.
Não sei quem botou na cabeça dos publicitários e designers
de moda que toda mulher ama usar bolsas.
E o que me intriga é que algumas pessoas conseguem nutrir conversações
complexas sobre marcas, estilos, um diálogo que endeusa a estética e a
maravilha que são os acessórios. E tecem comentários sobre as bolsas das outras
pessoas, elaboram críticas e elogios, julgando os demais e seguindo seus
respectivos estilos.
Desculpe-me, eu sou uma pessoa que nutre certo repúdio por
acessórios. Gosto de nadar, lutar, shows e aventuras, não uso brincos, pulseiras,
colares, anéis, perco tudo e acho deveras desnecessários. São apenas mais um
bando de coisas para te enfeitar como uma árvore de natal.
Voltando a pauta: bolsos. Designers de calças/ shorts
femininos e de bolsas se uniram para uma estratégia maligna: vamos diminuir os
bolsos de qualquer peça jeans feminina, assim elas precisariam urgentemente
consumir nossas lindas bolsas. Assim, quando uma mulher desprovida de interesse
nas sacolas de couro, como eu, precisa colocar as chaves no bolso, fica uma protuberância
duvidosa no jeans, uma coisa linda de se ver.
Não cabe identidade nesses bolsos, não cabe carteira,
enquanto nas mesmas peças, mas masculinas, tem espaço para tudo isso e muito
mais. Minha carteira de identidade está toda amassada, coitada. Os fabricantes
de calças ficam tão obcecados com a estética de uma calça feminina apertadinha
que se esquecem da praticidade, deixando os bolsos praticamente obsoletos. Quantas
vezes eu tive que pedir para um amigo levar alguma coisa para mim por falta de espaço
nas vestimentas?
Está aí minha crítica. Enquanto houver apenas designers
desse tipo, vou ter que continuar botando meus pertences nas botas durante os
shows, do contrário, eu pulo, tudo que está no bolso voa. Por um mundo com
bolsos dignos nas peças femininas e menos endeusamento de bolsas.
sexta-feira, 9 de dezembro de 2016
Sonhos ruins
Tristeza.
Sinto a tristeza fazendo uma pressão interna indescritível.
É como se todos os sentimentos negativos se juntassem e acabassem com os resquícios de coisas boas em mim. Pensamentos ruins, sonhos ruins.
Sonhos de coisas se dilacerando.
Sonhei que eu enfiava uma tesoura no meu estomago. Sonhei que baratas se prendiam em mim, que fios eram puxados das minhas clavículas, que pessoas agrediam umas ás outras, que animais eram mortos sem dó.
Quando meus sonhos ficaram tao pesados? Eu não me lembro de ter sonhado coisas bonitinhas há muito, tanto tempo que não me lembro.
Tanto tempo, mas me lembro dos péssimos. Me lembro dos pesadelos em que brigava com minha família, em que eu chorava na vida real e no sonho.
Eu arrancando bolinhas azuis dos meus dedos, como se retirasse todo o recheio de mim.
Eu fazendo prova. Se não são sonhos macabros, são sonhos muito estranhos, ou ligeiramente eróticos. Acontece.
A questão é: Estou cansada, sabe.
Eu queria sonhar coisas bonitinhas. Um sonho tranquilo, não sei. O último sonho tranquilo e normal que eu tive e me lembro, era de quando tinha 10 anos e gostava de um garoto da minha escola. Eu sonhava que conversava com ele e o beijava, olhem que fofo e inocente.
A tristeza é como se fosse o chá que tomei há pouco, esquenta meu corpo todo, se funde, se espalha, e percebo que a essência dela é inerente ao meu ser.
Se é inerente, precisamos aprender a lidar com ela, né amiguinhos.
Mas sabem, prefiro sonhar coisas horríveis do que não sonhar nada.
Se precisamos estudar tristes, estudamos tristes.
Acontece.
Sinto a tristeza fazendo uma pressão interna indescritível.
É como se todos os sentimentos negativos se juntassem e acabassem com os resquícios de coisas boas em mim. Pensamentos ruins, sonhos ruins.
Sonhos de coisas se dilacerando.
Sonhei que eu enfiava uma tesoura no meu estomago. Sonhei que baratas se prendiam em mim, que fios eram puxados das minhas clavículas, que pessoas agrediam umas ás outras, que animais eram mortos sem dó.
Quando meus sonhos ficaram tao pesados? Eu não me lembro de ter sonhado coisas bonitinhas há muito, tanto tempo que não me lembro.
Tanto tempo, mas me lembro dos péssimos. Me lembro dos pesadelos em que brigava com minha família, em que eu chorava na vida real e no sonho.
Eu arrancando bolinhas azuis dos meus dedos, como se retirasse todo o recheio de mim.
Eu fazendo prova. Se não são sonhos macabros, são sonhos muito estranhos, ou ligeiramente eróticos. Acontece.
A questão é: Estou cansada, sabe.
Eu queria sonhar coisas bonitinhas. Um sonho tranquilo, não sei. O último sonho tranquilo e normal que eu tive e me lembro, era de quando tinha 10 anos e gostava de um garoto da minha escola. Eu sonhava que conversava com ele e o beijava, olhem que fofo e inocente.
A tristeza é como se fosse o chá que tomei há pouco, esquenta meu corpo todo, se funde, se espalha, e percebo que a essência dela é inerente ao meu ser.
Se é inerente, precisamos aprender a lidar com ela, né amiguinhos.
Mas sabem, prefiro sonhar coisas horríveis do que não sonhar nada.
Se precisamos estudar tristes, estudamos tristes.
Acontece.
quarta-feira, 7 de dezembro de 2016
Bichos
Um dos sonhos mais perturbadores que tive.
Estava eu na casa de algum amigo/a. Tudo bem. De manha,
cerca de dez horas. Resolvo subir as escadas e me encontrar no terraço coberto
da casa, era um dia nublado. Telhas ficavam acima de minha cabeça, mas dava
para ver um espaço aberto. No final do canteiro, umas trepadeiras, umas plantas
altas. Andando um pouco por lá, via uns materiais de construção, uns entulhos,
e uma cama elástica. Eu amo camas elásticas, tenho paixão platônica por elas.
Chegando perto, vejo cerca de três meninos pequenos adormecidos, pergunto ao
dono da casa o que aconteceu, ele me disse que os três estavam brincando tanto
que pegaram no sono ali mesmo. Aqui as
coisas ficam bizarras. O tal dono da casa veio falar comigo, no tal terraço, e
eu sinto algo estranho no meu cabelo, como se algo tivesse pousado nele, se
agarrado nele. Sinto que meu cabelo fica cada vez mais embaraçado, mas tudo
bem. Ainda sentia esses mini empurrões e sabia que tinha alguma coisa errada. O
caseiro falou para mim:
-Acho que tem uma barata no seu cabelo.
E eu gritei:
-AHHH! TIRA, TIRA!
E ele começou a catar baratas presas no meu cabelo, eu
estava quase chorando. Ele tirava várias, fazia um verdadeiro ninho no meu
cabelo, e elas nunca paravam de chegar, e eu só pedia a ele que tirasse logo,
volta e meia eu via alguma presa em uma mecha perto do meu rosto, vontade de
vomitar. E ele arrancando, com força, e eu falo:
-Não é possível. Eu vou virar para frente para encarar esses
demônios.
Então, fica ele mexendo no meu cabelo, e eu de frente para
onde elas vinham. Vem uma, do lado das trepadeiras, voando a velocidades
estratosféricas, E DÁ COM TUDO NO MEU OLHO ESQUERDO. Eu vejo o inseto voando muito rápido, na minha direção, destemido, suicida. Ela basicamente se explode
ao bater no meu olho, que deveria estar protegido pela lente do meu olho, mas não
repele a investida que a barata dá. E assim vem várias, e todas vindo em linha
reta, atingindo meu olho esquerdo. O que aconteceu com o corpo delas? Acho que
foi pulverizado com o impacto, só sei que suas asas se transformaram em
palhetas. Isso, palhetas, de tocar violão, guitarra. Essas palhetas eram meio
grudentas e ficavam se acumulando entre meu olho e minha pálpebra, e eu
precisava ficar tirando, estava me incomodando de verdade. Eu tirava pilhas de palhetas,
as asas mortas das baratas que vinham me acertar. No final, eu não aguentava
mais e estava com o olho esquerdo muito vermelho e inchado, e pedi para ir ao
hospital. Na escada, eu expressei a minha angústia:
-OLHA ISSO! AS ASAS DELAS VIRARAM PALHETAS! PELO MENOS VOCÊS
PODEM VENDER ESSAS DESGRAÇAS!
Mas as palhetas não apresentavam desenhos ou coisas
bonitinhas, eram palhetas brancas, simples, com algo insignificante escrito. E
assim fomos ao hospital. Chegando lá, sou posta em uma maca, e a doutora fala
para meu amigo que ``o meu reflexo tende a cada vez decrescer, se já é ruim
agora, depois vai piorar``, e a causa disso foi a pior possível. Pois eu tinha
muita esperança. (?). Enfim, a médica diz que nós não temos colírio, ela poe
uma compressa com soro fisiológico sobre meus olhos, e sai. Enquanto ela está
fora, tiro a parte do olho direito e procuro por informações sobre o meu
estado. Vejo um quadro na parede que fala sobre Dengue ou Febre amarela tipo B.
Criei uma doença no meu sonho. Essa última seria transmitida por ratos, morcegos,
e ... baratas. Eu começo a entrar em pânico, quando a doutora chega, pergunto-lhe
se tem risco de eu contrair febre amarela tipo B. Ela diz que tem uma
probabilidade muito mínima.
Foi basicamente isso, deveras perturbador.
terça-feira, 6 de dezembro de 2016
Auxílio
-Doutor, eu tentei me matar de novo.
-E não deu certo?
-Não consegui, doutor!
-Qual foi o método?
-Tentei me jogar do décimo andar.
-E o que houve?
-Caí no chão, quebrei muitas costelas, uma perna, um braço,
mas sobrevivi! Ah , um traumatismo craniano também. Depois de cinco meses,
fiquei bem da cabeça.
-Já tentou se jogar de novo?
-Olha, doutor, eu não tenho mais coragem, já passei por isso
uma vez, é muito ruim.
-Já tentou colocar uma arma contra a cabeça e atirar?
Funciona!
-Meu amigo tentou fazer isso, sabe doutor, e a arma
escorregou para frente e abriu um buraco na parede dele! Não é como nos filmes,
as armas escorregam e dão um tranco danado. Além do mais, é difícil conseguir a
arma, só com o tráfico, e isso é perigoso.
-Tudo bem... Corda?
-Pelamor, morro de medo do sufocamento.
-Cortar os pulsos?
-Não sou uma adolescente de quinze anos, doutor.
-Você já repensou? Quer morrer mesmo?
-Doutor, não dá para matar uma pessoa que já está morta. Só
quero me livrar dessa casca.
-Corda não, arma difícil de arranjar, trauma de se jogar... Há
poucas alternativas. Você pode tentar se esfaquear, mas processo doloroso e pode sobreviver. Furada. Literalmente.
-Ah, se eu tivesse dinheiro, doutor. Iria me mandar para o espaço e morrer por algo como despressurização. Ou ir na direção do sol até meus miolos derreterem e minha pele se descolar dos músculos e dos ossos e eu me incinerar por completo.
-Você pode muito bem botar fogo em si mesmo.
-Puta que pariu, doutor, vão achar que eu morri em um acidente! Ou como um personagem maldito do the sims!
-Hahahah, eu gostava de queimar meus sims. Ou afogar. Já pensou em...
-Não, me disseram que merda boia. Eu iria sobreviver. Mentira, eu apenas não quero morrer na água, é como se estivesse reiniciando um ciclo, nasci num útero, morri na água, não quero isso, quero por um ponto final na minha existência, sabe? Uma maneira bem concreta de morrer, que vá me dilacerar de verdade, para não haver velório nem nada dessas frescuras. Eu queria que alguém pudesse me matar de
maneira inusitada, como uns assassinos particulares. O senhor pode me conceder
eutanásia?
-No Brasil é proibido.
-Porra, doutor. Já tentei até ingerir uns dez comprimidos de
paracetamol , vomitei tudo.
-Por que você não tenta coma alcoólico e overdose?
-Doutor, sempre que vou beber, esse é o meu objetivo. Me tornei muito resistente. E as outras drogas mais pesadas são caras, estou sem dinheiro.
-Querido, já tentou bater com o carro? É a morte perfeita,
duzentos quilômetros por hora, aventura, aproveita, bebe bastante, comete umas infrações,
se diverte, e morre da melhor maneira!
-Ok, doutor. Vou pegar meu carro e fazer isso mesmo, onde
pode ser? Avenida Brasil?
-Não, vai causar muito transito desnecessário. Pega uma estrada Petrópolis-Rio. Uma descida.
-Não, vai causar muito transito desnecessário. Pega uma estrada Petrópolis-Rio. Uma descida.
-Obrigado! Espero não ter que voltar aqui mais!
-De nada! Boa sorte!
*Porta se fecha com um baque*.
-Caralho, que indivíduo difícil de morrer.
Destruído / Parte 2
Um momento, indo pegar algo para nós bebermos. Digo eu,
levantando, e repousando a cabeça dela, que antes estava parcialmente em meu
colo, em uma almofada.
Eu sou um fracassado mesmo. Passou o momento feliz da noite.
Cresci, virei um merda que individualista e egoísta que ninguém gosta, estou de
saco cheio disso tudo.
Pego uma garrafa de licor de menta, uma das minhas bebidas
favoritas, não vai fazer falta nesse bar imenso.
Aproximo-me do sofá, ela está quase dormindo.
-Aqui, beba. Coloco a garrafa praticamente na boca dela, e
ela sorve a bebida com avidez, um bom amontoado dela. Depois é minha vez.
Sento e ponho a cabeça dela em meu colo novamente, começo a
acariciar os cabelos dela. Depois de muitos goles e muitos pensamentos ruins bêbados,
ela vira para mim e fala:
-Me ajuda.
Ela quer vomitar, acho. A puxo pelo braço, pergunto onde
fica o banheiro a uma garota aleatória que se entrepõe sobre mim e ela. A
garota diz:
-Deixa que eu ajudo! Ela sempre fica assim.
Eu respondo que não precisa, eu a levo, não estava fazendo
nada mesmo.
-Mas ela nem te conhece, seu maníaco!
Eu simplesmente empurro a garota magérrima da minha frente,
e lá fomos nós dois rumo ao banheiro. Havia toda uma fila na frente da porta
que dizia: ``SE FOR VOMITAR, VASO SANITÁRIO``, com vaso sanitário sublinhado
umas três vezes. Todos estavam ligeiramente drogados, bêbados, destruídos.
Quando chegou a vez da garota, muitos tentaram me parar, dizer que era melhor não,
que eu não tinha uma fama boa, que ia dar problema. Um cara da minha idade,
aparentemente, veio me parar, falando:
-Qual é a tua, cara? Estuprar a mina que está mal?
Eu fiquei com tanta raiva que dei um soco na cara do desgraçado,
mais rápido do que eu pensava que podia, bêbado. No mesmo momento o nariz dele começa
a sangrar, e ele resolve partir para cima de mim, desvio, sempre com uma mão na
garota, empurro a porta com meu ombro, e entramos os dois. Fecho a porta, giro
a trava. Posiciono a mulher de quatro, sobre o vaso sanitário.
E ela vomita. Bastante. Quase dorme sobre a tampa do vaso
sanitário. E eu começo a pensar coisas ruins. Pensar sobre eu estuprando essa
garota vulnerável, meu pau entrando e saindo dela, conforme ela grita e pede
para eu parar, tentando se defender com unhas e garras, mas eu sou maior, não adiantaria.
Eu só a machucaria mais, tentando enfiar papel higiênico em sua boca para parar
de gritar, ou até mesmo acertar a cabeça dela na borda de mármore da banheira
desse banheiro requintado.
Só de pensar isso, me dá vontade. De verdade. Pego o
revólver que vim guardando para esse momento especial, aponto para a cabeça dela.
Está tão louca que nem percebe.
Não.
Ela parece uma pessoa boa. Ajeito os braços dela ao redor do
assento do vaso, ajeito o cabelo dela.
Destranco a porta, saio. Saio com meu Taurus 85 na mão. Não miro.
Em meio a todas essas luzes, toda essa música, todo o barulho cessa quando eu
atiro, quando o trovão do estrondo da bala sendo disparada enche o ambiente.
Gritos. Gritos e mais disparos meus. Disparo nas pessoas da fila, todas
correndo como formiguinhas sendo dispersas pela grande mão que vai amassar elas
todas. Disparo na direção das pessoas que antes dançavam, e agora todas tentam
se esconder, e eu gasto as muitas balas que enfiei nessa preciosidade.
Uns dez tiros, devo ter machucado algumas, não sei se matei
alguém. Acontece.
Para deixar o lugar mais pintado de vermelho, pego meu Colt
e tento acertar mais gente, como em um jogo de tiro, só que de verdade. É divertido
quando eu acerto o alvo. Acho que explodi uma melancia. Ou a cabeça de alguém.
Vai saber.
Sou só eu, no meio do recinto, a estrela, merecendo toda a atenção
que eu sempre quis. Estou feliz. Minha angústia se dissipa conforme os trancos
das minhas amigas mexem com meu senso de equilíbrio, quase caio.
Escuto gritos de pessoas dizendo que fulano não respira, fulana
não se mexe.
Corro na direção da varanda, portas abertas, pessoas
assustadas, olham para minha arma, tentam me pegar, me parar, fazer qualquer
coisa em meio a pânico e caos. Atiro neles. Taco as armas sem munição neles,
elas são pesadas e nocauteiam um sujeito que estava perto de mim.
Aproximo-me da beirada, não penso duas vezes.
E eu me jogo em direção ás ruas margeadas pela praia, indo
de encontro mortal com o asfalto. Doze andares, e lá foi meu corpo beijar o chão.
Meu nome era Gustavo, um assassino em potencial. Ah, e nunca soube o nome da
garota que me rejeitou. Espero que eu não tenha a matado também.
Destruído / parte um
Ipanema, 07/12/2016
Meu nome é Gustavo. Gustavo Borges Lehia. Também conhecido
como Gus B`Lehia, ou só baleia.
Fui para a festa me sentindo o rei da beleza. Com terno de
grife e sapatos lustrosos, não teria para ninguém. Chegando a portaria, vejo o chão brilhante e
as obras de arte requintadas, dá vontade de sair quebrando tudo para acabar com
a ordem irritante desse lugar. Plantas, fontes, estatuetas, tudo minuciosamente
arranjado. Subo pelo elevador com portas deslizantes, contém um espelho enorme
de corpo inteiro, olho para mim, esboço um sorrio, olho para o teto. Chegando à
cobertura, vou até a porta de madeira de lei e aperto a campainha. Meu antigo
colega de escola me recebe, de smoking, e diz:
-Entra aí, Gus! Nisso, ele já está entrando para dar atenção
a outras pessoas.
O ambiente é bonito, todo cheio de luzes neon, um sofá
moderno listrado no centro, um bar no canto, janelas com vista para o mar,
parece cenário de filme. Muitas pessoas mesmo, indivíduos endinheirados que
bebem até perder os sentidos para abafar as vidas ligeiramente vazias que a
maioria deles sustenta. Mulheres de vestidos coladíssimos, se preocupando com
nada mais nada menos com a aparência, em busca de alguma diversão para o
pós-festa.
A maioria das pessoas me é nova, amigos recém-conquistados
pelo meu colega, logo, dou umas voltas para analisar quem me agrada. Sim, eu só
vim por segundas intenções, na verdade acho esse pessoal muito chato. Mas,
muito tempo sem me divertir com alguém, fiz esse sacrifício.
Não sou bonito. Tenho uma barriga protuberante, dentes
ligeiramente acavalados e um cabelo liso e seboso que não ajeito de jeito
nenhum. Mas tenho uma autoestima mediana. Encarava algumas mulheres, elas
desviavam o olhar. Algumas se lembravam de mim, nunca fui a pessoa mais divertida,
ou a mais esperta. Sempre fui o mediano. O tapa buracos. Mas hoje só haveria um
buraco que eu precisava tapar, ah sim.
Comecei a beber. Peguei a garrafa da bebida mais forte, algo
parecido com um absinto, e fui derramando o conteúdo na minha boca. Gosto de
morte. Bom. Eu, um deslocado meio antissocial, em uma festa de gente rica e
refinada. Quem diria que esse seria meu futuro promissor. Todos sorrindo muito,
tanto que incomoda. Sorrisos brilhantes, reluzentes, de suas últimas sessões de
clareamento. Essa felicidade que emana deles, com seus futuros assegurados,
seus relacionamentos longínquos, toda essa babaquice me enoja. Eu tinha me
esquecido o quanto repudiava essa gente.
Percebi que as pessoas ou não se lembravam de mim, ou evitavam
contato. A solidão me consumiu por completo, notei que não tinha nenhum amigo
próximo, ninguém para ser meu parceiro no crime, ninguém para contar minhas
novidades, e que talvez vir aqui tenha sido um erro.
Ah, não foi. Melhor beber.
E eu, no meu estado de torpor, fui para a pista de dança improvisada,
perto da televisão. Estavam dançando funk, umas batidas bem caracteristicamente
gerais e comuns, e eu me soltei, comecei a tentar mexer meu corpo, embora ele não
tenha sido projetado para dançar.
Não deu muito certo, se eu estivesse sóbrio pararia. Mas não
parei. Comecei a dançar ao lado de uma garota que estava muito empolgada
também, ela estava muito feliz em seus saltos enormes e vestido azul brilhante,
com seu cabelo platinado. Mexia seus braços, seus olhos castanhos me fisgaram,
e por um momento eu estava só com ela.
Eu olhava para ela, e me devolvia um olhar tão cândido e
repleto de amor, como se fosse a primeira vez que eu olhava para alguém, de
verdade. Ela tomou minhas mãos, mexendo as para lá e para cá, e depois de muito
tempo, me senti vivo. Esqueci toda a carga negativa que me levava aos lugares
mais escuros, só queria continuar naquele momento, mesmo que meio estúpido e
descontraído.
Todo o pessoal ao
nosso redor sumiu momentaneamente. Bebi mais, percebi que estava com a garrafa
nas mãos. O cansaço me atingiu e fui me direcionar para o sofá, mas sem esquecer
a garota que continuava chamando a atenção de todos na pista de dança. No
caminho para o sofá, esbarro em uma mesa de canto, derrubo umas duas garrafas,
uma quebra instantaneamente, a outra rola para baixo da cômoda. As pessoas se
assustam, e um antigo rival da minha série diz:
-Só podia ser o Baleia, nunca muda.
E assim concorda todo um coro de gente que nem imaginava que
estava ali, olhando.
-Porra, só faz merda, esse gordo. Diz um colega do mesmo. Os olhares de ódio
dos rostos deles me faz ter flashbacks de quando eu tinha que conviver com os
mesmos, e como eu sofria. E pedia para sair daquele inferno, e meus pais nunca
me tiraram.
Sentia-me tão sozinho naquele lugar, só queria tomar um
pouco de ar , antes que eu perdesse o controle. Baixei a cabeça, não reagi aos
insultos deles, fui ao sofá. Fiquei muito nervoso, batendo dentes, arrancando
pele dos cantos de minhas unhas, há muito roídas.
Quando já estava começando a sangrar levemente e doer
consideravelmente, a garota do vestido azul claro sentou ao meu lado, tacou a cabeça
para trás, e disse, com voz lindamente embriagada:
-Porra, tu saiu do meu lado! Nisso ela tacou o braço para
frente, no objetivo de me alcançar, encostando-se ao ar entre mim e ela.
-Não estou bem, querida. Respondo eu, seco, e ainda com
raiva de mais cedo. A coragem tomou conta de mim.
-Me beija? Perguntei eu.
-Não! Exclama ela, feliz da vida, mas mal conseguindo manter
seu tronco ereto, ia quase deitando no sofá.
quarta-feira, 30 de novembro de 2016
Sensações toscas
Vazio
Meus olhos estão pesados
Meus dedos se movimentam rápido
Tec tec tec tec
A luz branca da tela me incomoda
Minhas pálpebras mal se aguentam
Meu corpo está cansado
Clama por piedade
Depois de um dia exaustivo, quase sem repouso.
Minha mente não permite, não consegue.
Se desligar
Quero dormir
Mas minha cabeça está cheia de ideias
Ideias ligeiramente inúteis
Levemente insubstanciais
Já falei com todos que passaram
Por essa madrugada amena
Foram dormir
E aqui resto eu digitando, tentando expressar meus pensamentos.
É como se nada passasse pelo meu cérebro
Fosse direto do meu inconsciente para meus dedos e então
Para a tela.
Ah, a tela
Tao brilhante, mas brilho ruim
Brilho maligno que perturba minhas retinas
E música
Que com seu barulho
Tenta anular o barulho que tem dentro de mim
Caos destruindo o caos
Silêncios fazem mal
Vou repousar minha cabeça
Nesse travesseiro
E você se pergunta
Por que você escreve em pequenos períodos?
E eu digo:
Pois acho que assim o texto fica mais fluido
Me considere modernista
Poderia rimar, sim, poderia.
Mas enche o saco. Fica parecendo texto de teatro.
Vou cerrar meus olhos, fechar as cortinas, enxergar o breu.
Faz bem, sabe.
Boa noite.
segunda-feira, 28 de novembro de 2016
Décimo segundo andar
Segunda feira. Depois de um treino, eu suada, querendo subir
logo pelo elevador de serviço lento. Abro a porta para uma mãe e sua filha,
morenas, a mãe alta de cabelo liso preto, bonita, e sua filha, fofa, de cerca
de uns cinco anos, eu presumindo, apenas. Mas sou boa em deduzir idades.
A criança aperta o
seu andar, com certo esforço, pois mora no decimo segundo andar.
Eu, sem pensar
sobre a mágica que os botões exercem sobre as crianças, apertei o meu andar.
Ela gostaria de
ter apertado para mim.
Vacilei.
- Você é do sete –
ela diz para mim, entusiasmada.
Respondo: Sim...
Cansada e sem a mesma energia.
-Eu sou do doze!
Continua ela.
- O meu é mais
alto!
Eu tento rir,
tento dar a interação que ela deseja.
-A minha mãe não me
deixa chegar ``na`` janela. Bufa ela, como que reclamando, mas de maneira fofa.
–Só acompanhada de um adulto.
E eu falo a coisa
mais estúpida:
-Um dia você fica
grande e pode ir sozinha.
Eu comecei a
pensar em coisas super negativas, como: você pode chegar na janela, sozinha,
daqui a quinze anos, perceber que seus sonhos eram uma mentira, depois de ter
se perdido no mundo e visto o quanto ele é ruim, você pode visitar a janela
sozinha sim,..
Mas eu estava me
contendo, pensando:
ELA É UMA
CRIANCINHA, NÃO FALE NADA PESADO, VOCE ESCREVE SOBRE ISSO DEPOIS.
A mãe dela olhando
para ela, como que achando que estava me incomodando.
-É muito alto. –Prossegue
ela - se eu cair eu abro um galo na minha cabeça
E lá fui eu
pensando.
Querida, eu
presenciei dois suicídios em frente ao meu prédio, dois casos de homens que
aparentemente se jogaram de andares bem altos, e nenhum deles ficou com um galo
na cabeça.
Se você realmente
caísse, seu corpo iria se fragmentar em partes, o seu sangue iria banhar o asfalto, seus
membros iriam se distorcer nos mais estranhos ângulos, seus pais chorariam, ah,
chorariam, uma multidão se aglomeraria e você seria levada de maca... Muito
mais que um galo.
Mas eu me contive.
E estou feliz porque eu me contive. No momento tive um mini-momento de não saber
oque fazer.
A mãe dela disse:
-Ia ser mais que
só um galo. Rindo.
Eu também estava
rindo.
Falei:
Pois é...
Rindo, de maneira apreensiva. E a
garota, começou a imaginar que o seu galo cresceria a ponto de servir como uma
escada, e falou que plantaria bananeira para poder entrar em casa, só com o
galo dela, pois ele ficaria tão imenso que chegaria no decimo segundo andar.
O mundo é muito
cruel para as crianças, olhe essa imaginação.
Saí do elevador, não
antes de escutar o final da teoria dela sobre o galo gigante. Ao fechar a porta,
respirei fundo e pensei:
Por isso não quero
ter filhos.
sábado, 26 de novembro de 2016
Notebook quebrado e tretas
Ok, vamos rebobinar um pouco. Eu estava em uma instituição de
ensino, não vou dizer o nome dela. E tinha uma garota meio loira com quem eu
tinha uma rixa, e eu precisava resolver alguma coisa muito importante com meus
conhecidos lá.
Havia uma grande mesa no meio do cômodo, só para esclarecer
os momentos seguintes. Eu eu fui amparar uma grande amiga minha que estava em
cima da mesa, Ela tinha acabado de passar por umas situações difíceis e eu só
fui cumprir o meu papel e tentar faze-la se sentir melhor.
Enquanto isso, meu pai esperava impaciente para eu sair de
lá logo. No momento em que eu fui me deslocar para cima da mesa, a garota loira
viu. Ela tinha cara de uma pessoa muito desgostosa, muito cretina mesmo, vão
por mim. Sabe aquela pessoa que te olha torto, empina o nariz, te olha com um
desprezo imensurável? Pois é. E ainda loira pintada, cabelos longos e ondulados
que emolduravam o rosto da discórdia, do cão chupando manga. Meu notebook
estava aberto em uma cadeira perto dessa mesa com um trabalho que eu tenha acabado
de fazer e tinha que apresentar mais tarde no mesmo lugar.
Só sei que quando eu fui recuperar meu notebook, depois de
segurar minha amiga em meus braços e dizer a ela que tentaria dar o máximo de
suporte possível, ao ir embora, a tela estava totalmente rachada. Totalmente, não
tinha nenhum espaço salvo, tudo destruído. A raiva foi subindo em mim muito
rápido, como fogo se alastrando em uma floresta. Eu encurralei a garota loira em
um canto e comecei a gritar com ela.
-FOI VOCE, NÉ, SUA VADIA?
E ela não muito intimidada, apesar de ser mais baixa. Ela
falou:
-Não, foi uma outra garota.
E eu:
-EU VI QUE FOI VOCE! MEU PAI ESTÁ AÍ DE TESTEMUNHA!
E ela se desvencilhou e foi embora.
Mas não por muito tempo. Eu a segui e a encurralei contra
uma parede de algum estabelecimento.
Era cerca de duas da tarde, dia ensolarado.
Eu cheguei à frente dela, só parede atrás, e tentei dar uns
socos na cara da cretina.
Mas o soco não ia, meu braço ia para trás para pegar
impulso, mas quando eu tentava alcançar a cara dela, não ia de jeito nenhum, me
deixando um tanto frustrada, e ela não me atacava não se defendia, não fazia
muita coisa.
E eu tentei dar dois tapas nas faces do rosto dela, mas acho
que dei dois tapas bem devagar, nem machuquei nada. Eu comecei a xingar de
coisas ruins que não vale a pena comentar aqui. E ela só reclamando, falando
que eu sou maluca, que ela não tinha quebrado nada.
Mas eu sabia.
Eu sabia que aquela maldita tinha deixado a tela do meu pc
em frangalhos, e eu ainda gritei, da forma mais infantil possível:
-ISSO VAI TER REVANCHE, NÃO VAI FICAR ASSIM, ESSA PUTA VAI
PAGAR PELO QUE FEZ!
Tinha umas quatro pessoas comigo, meu pai, minha mãe, a
raysse e mais um amigo aleatório. Não sei por que não me pararam, não me
contiveram.
Só sei que eu fiquei com muita raiva. Muita mesmo. A garota
se desvencilhou e começou a andar com a família dela, ela bem no meio para não acontecerem
mais ameaças minhas. Depois ela me mandou um áudio falando assim:
-Tenho gravada a parte que você falou que queria me matar, vou
mandar para a escola.
Eu respondi:
-Você tem quatro testemunhas, eu tenho cinco, eles sabem que
você quebrou meu computador, a sua denúncia vai ser anulada.
E eu não sei mais o que ela disse. Fiquei meio abalada,
repetindo várias vezes:
-ELA QUEBROU MEU NOTEBOOK!
Depois fui falar com a garota no telefone.
A raiva tinha se transformado em dor.
Eu perguntei:
-POR QUE? O QUE QUE EU TE FIZ? Eu sempre tentei ser uma
pessoa legal com você!
E ela foi respondendo assim:
-Pois é... Ela respondia de maneira fria e calma, enquanto
eu morria do outro lado da linha.
-VOCE SABIA QUE EU USAVA MEU COMPUTADOR PARA ESTUDAR??? E AGORA,
COMO VOU FAZER?
Nessa hora o cenário do sonho mudou
terça-feira, 22 de novembro de 2016
Não gosto do natal
Inteligentes são os grandes titereiros do comércio
Que vendem presentes para as pobres criancinhas
Pois é natal
Natal é sinônimo de presentes
Quanto dinheiro deve estar se acumulando nos bolsos desses grandes homens
Baseado na misericórdia de muitos
Lembra a igreja, não?
Não gosto do natal porque não vejo motivo para celebrar
Uma data de nascimento de uma figura religiosa
De uma religião que eu não pratico
Não gosto dessas imagens vermelhas e verdes
E douradas e brancas
Tudo tao utópico
Valorizar a família
A família que mal se fala o ano todo
Os filhos jogando em seus aparelhos eletrônicos
Sem ao menos olhar para a cara dos parentes
Pudera, eles vão criticá-los se forem realmente conversar
Um com o outro
Avós cansadas que insistem em fazer mesas grandes e cheias
De comida ligeiramente requintada
Para provar algo para alguém (?)
Essa tradição já não faz mais sentido
E todas essas imagens já tao elaboradas
Construídas
Não temos neve aqui, não temos lareira
Temos mosquitos que sugam nosso sangue
Sol que queima nosso couro cabeludo
E os mesmos papais-noéis vestidos com toda a parafernália
Embaixo do sol de Bangu de 40 graus
Só para tentar falar para nossas crianças que elas vão ser boazinhas
E receber presentes
Se se comportaram bem
Me diga
Qual a diferença disso para cachorros, que ganham recompensas
se não fizerem xixi no tapete?
E todo o mito
Da alegria do natal
Da magia do natal
Abram os olhos, amigos
Isso tudo é inventado
Estão tentando lhes persuadir que a vida pode ser bonita no natal
Mas o natal é comercial
Compras de natal
Sempre que eu escuto isso meu estomago se embrulha
E as luzes? Tudo tao feliz, família reunida
Trate os outros bem, acolha todos
Na noite de natal, eles dizem
Eu digo: faça o bem quando você puder
Não tente achar propósito para isso
:)
Que vendem presentes para as pobres criancinhas
Pois é natal
Natal é sinônimo de presentes
Quanto dinheiro deve estar se acumulando nos bolsos desses grandes homens
Baseado na misericórdia de muitos
Lembra a igreja, não?
Não gosto do natal porque não vejo motivo para celebrar
Uma data de nascimento de uma figura religiosa
De uma religião que eu não pratico
Não gosto dessas imagens vermelhas e verdes
E douradas e brancas
Tudo tao utópico
Valorizar a família
A família que mal se fala o ano todo
Os filhos jogando em seus aparelhos eletrônicos
Sem ao menos olhar para a cara dos parentes
Pudera, eles vão criticá-los se forem realmente conversar
Um com o outro
Avós cansadas que insistem em fazer mesas grandes e cheias
De comida ligeiramente requintada
Para provar algo para alguém (?)
Essa tradição já não faz mais sentido
E todas essas imagens já tao elaboradas
Construídas
Não temos neve aqui, não temos lareira
Temos mosquitos que sugam nosso sangue
Sol que queima nosso couro cabeludo
E os mesmos papais-noéis vestidos com toda a parafernália
Embaixo do sol de Bangu de 40 graus
Só para tentar falar para nossas crianças que elas vão ser boazinhas
E receber presentes
Se se comportaram bem
Me diga
Qual a diferença disso para cachorros, que ganham recompensas
se não fizerem xixi no tapete?
E todo o mito
Da alegria do natal
Da magia do natal
Abram os olhos, amigos
Isso tudo é inventado
Estão tentando lhes persuadir que a vida pode ser bonita no natal
Mas o natal é comercial
Compras de natal
Sempre que eu escuto isso meu estomago se embrulha
E as luzes? Tudo tao feliz, família reunida
Trate os outros bem, acolha todos
Na noite de natal, eles dizem
Eu digo: faça o bem quando você puder
Não tente achar propósito para isso
:)
domingo, 20 de novembro de 2016
Crise de 1/5 de vida
Mas meu amigo
Nós éramos feitos de sonhos
Eu disse que queria salvar o planeta
Nós desenhávamos, pintávamos.
Esculpíamos, escrevíamos as coisas que pensávamos.
Mas meu amigo, o que aconteceu?
Perdemos as esperanças?
``Não dá dinheiro``, eles dizem
Queremos dinheiro, nós pensamos
Mas e o planeta?
Nós precisamos sobreviver, argumentamos
Mas meu amigo, e a luz que pertencia aos nossos olhos?
Somos desertores da imaginação
E o que aconteceu comigo, que dizia que ia preservar
Todas as espécies, ajudar todos os animais?
Fazer química, quem diria
Fazer química, quem diria
E você, que queria desenhar prédios, desenhava
Você traçava as linhas mais retas que eu já vi
Para onde foram esses sonhos, amigo?
O que aconteceu conosco?
Estamos cegos pela ganancia, presos pelo comodismo?
Meu pai desenhava
Virou economista
Hoje não sabe desenhar nem um boneco de palitinhos
Meu amigo
Teremos virado máquinas?
A dureza da vida teria matado
A nossa inocente criatividade?
Nós dizíamos que poderíamos ser tudo
Nós dizíamos que poderíamos ser tudo
Nos disseram que poderíamos ser tudo
Crescemos
Aprendemos
Nós não podemos ser tudo
Nós não vamos ser tudo
Nós vamos ser algo, uma parcela pequena
De um tudo muito complexo
Viramos artificiais, meu amigo
O mundo era um quarto com papel de parede colorido
E esse agora está descascando
Revelando suas paredes cinza e rachadas por baixo
Mas meu amigo
Nós acreditávamos em amor
Mas não o amor banalizado da mídia
O amor impecável do coração das crianças
Eu ainda tento, meu amigo
Eu ainda tento resistir
E mostrar que no fundo
Bem no fundo
Eu ainda sou humana
E você?
Violência cotidiana, todo mundo se engana
Estava eu voltando do rio sul, em uma jornada curta até meu
humilde apartamento em Copacabana. Ia passar pelo túnel, era cerca de duas
horas da manha. Sozinha, eu com uma blusa preta e shorts, nada demais, sem
dinheiro, sem celular.
Eu escuto, de repente, o barulho de uma bicicleta se
aproximando. Olho para trás e há um sujeito típico do Rio de janeiro, moreno,
camisa, bermudas e chinelos. Começo a andar mais rápido.
Ele vai mais rápido que eu, me passa. Continuo andando.
Lá na frente, quase no fim do túnel, a bicicleta dele está
atravessada, impedindo a passagem.
Ele está logo ao lado de sua bicicleta, brandindo alto uma
faca grande, de churrasco, com a mão
direita, com uma expressão odiosa na cara, e fala:
-Passa tudo, ou vai ser furada!
Eu me aproximo, e falo:
-Não tenho celular.
Tento estar calma, pois sei que em assaltos, os ladroes estão
mais nervosos que a vítima.
Ele parte para cima de mim, para tentar me revistar, ou
coisa do gênero.
Sem pensar, passo a perna esquerda para frente e faço um
gancho com a direita, derrubando-o no chão. Ele está meio atônito.
-Que ``mulhé`` maluca! Ele grita, mas não dá mais tempo para
dizer nada, pois estou socando a cabeça dele, de pé, acertando em cheio no crânio.
Ele , com a faca, tenta me acertar, consegue fazer um grande
arranhão no meu braço, e sua outra mão está protegendo a cabeça.
Eu, com raiva, ajoelho a perna esquerda em seu tórax e faço força
para tirar a faca de sua mão.
-Filho da puta! Xingo eu, o sangue no meu braço escorrendo
para o chão úmido do túnel.
Depois de muito castigar o rosto dele, acertar seu nariz,
sangrando agora, consigo pegar a faca para mim.
Não penso. Em um instinto animal tiro o joelho de cima dele
e o esfaqueio uma, duas, três vezes, nas costelas. É muito mais difícil que
parece nos filmes e tal, sinto que os cortes estão muito superficiais. Ele
tenta alcançar qualquer parte minha, puxar minha perna, mas sua força está se
extinguindo rapidamente, tento esfaqueá-lo mais, enfiando a faca lá no fundo,
ás vezes bate em suas costelas, seria muito desajeitada para ser açougueira.
O sangue está em minhas mãos, seu odor ferroso impregnado em
todo lugar, no chão, nas paredes. O homem grita de dor, tento chutá-lo na
barriga mesmo, para faze-lo calar a boca. Ele cospe sangue. Depois de, talvez,
umas dez facadas, ele virou um peso morto no chão. Pego sua faca, vou levar
para casa, vai que a polícia pega e ache minhas digitais. Espero que fragmentos
de pele, unhas ou cabelo não impregnem o cara, pois assim as coisas se complicarão
para mim. Vou embora, poderia pegar a bicicleta dele, mas não sei conduzi-la. Decido
ir para um hospital tratar do meu arranhão, mas antes vou passar no mar (está
ligeiramente perto), para remover esse sangue todo.
quarta-feira, 16 de novembro de 2016
Crise
Coisas que eu estou evitando comprar/ nunca compro
As coisas estao caras e o dinheiro é pouco, precisa-se gastar conscientemente
Café no starbucks -> podia ser 1/4 de livro
Croissant -> podia ser 1/8 de livro
Milkshake-> podia ser 1/4 de livro
Cinema -> podia ser 1/2 de livro
Bebida alcóolica -> podia ser 1/3 de livro
Maquiagem -> nem pensar, uma parada equivale a um livro
Roupa nova -> pffff, dois ou três livros!
Sapato-> Ta de sacanagem, né
Passagens do coletivo alheio-> preciso pagar mas me dói ao pensar que é 1/8 de livro
Coisas que eu pago sem ficar mal:
Livro -> :)
As coisas estao caras e o dinheiro é pouco, precisa-se gastar conscientemente
Café no starbucks -> podia ser 1/4 de livro
Croissant -> podia ser 1/8 de livro
Milkshake-> podia ser 1/4 de livro
Cinema -> podia ser 1/2 de livro
Bebida alcóolica -> podia ser 1/3 de livro
Maquiagem -> nem pensar, uma parada equivale a um livro
Roupa nova -> pffff, dois ou três livros!
Sapato-> Ta de sacanagem, né
Passagens do coletivo alheio-> preciso pagar mas me dói ao pensar que é 1/8 de livro
Coisas que eu pago sem ficar mal:
Livro -> :)
terça-feira, 15 de novembro de 2016
Instrucoes para se eu morrer em breve
Posso estar andando, tranquila, por Copacabana, e do nada pode surgir um piano e cair sobre mim, esmagando cada osso do meu corpo. Nunca se sabe.
Quero que meu corpo seja doado para a ciência, se puder escolher, para a UFRJ. Sempre bom tentar ser útil, não?
Confortem meus parentes, digam a eles que eu nunca fui muito apegada á vida.
Aos amigos mais distantes, digam o mesmo. Digam a todos que eu estou mais feliz do outro lado, é verdade. No vazio da inexistência, o caos da minha consciência vai ter abaixado. Como diz nessa música aqui:
https://www.youtube.com/watch?v=xZ2yP7iUDeg
É como se eu tivesse pertencido a esse mundo por um milênio
Fazer vocês aceitarem é difícil, mas a morte vem para todos
Depois que eu for, tomem um sorvete de menta, vejam um musical, sejam felizes por aí
Leiam os livros que eu deixei na minha estante
Eles são lindos e querem ser lidos, são meus bebes
Eles não merecem ficar apodrecendo em algum lugar sombrio, deem a eles luz e carinho
E se alguém quiser fazer algum ritual religioso para mim, agradeço , de antemão
Qualquer homenagem é bem-vinda
Esqueçam as crises que eu já tive e deixem a imagem de eu rindo
Na memória de vocês
Eu reclamando
Ah e leiam meu blog
Eu morta ficaria com consciência muito mais leve se vocês lessem meus textinhos
Eles também sao meus queridinhos
E não fiquem falando que fui tao cedo ou coisas do tipo
Eu fui/ irei no momento que for para ser, nem cedo nem tarde
E por favor, se eu não falo com você/ não falei quase/ , nao importa, pode publicar textinho na minha página
Fico triste por nunca poder ler esses textinhos
:( Queria ler os textinhos
Análise - eu no shopping
Primeiramente, preciso realizar um apelo a todos meus
amigos: saiam mais comigo, estou refletindo tanto que estou quase virando um
espelho. Segundamente, fui eu andar pelo shopping da Zona Sul, Rio sul. Nome autoexplicativo.
Várias pessoas diferentes passam por lá, mas posso traçar um estereótipo:
jovens levemente bem vestidas, baixinhas, com tênis da moda, alguns
acessórios... Ah, geralmente andam em bando, com seus Smartphones nas mãos,
geralmente rindo e comentando sobre algum famoso. E os homens? Jovens com
bonés, os mesmos tênis da moda, umas blusas sem mangas, bermudas, tudo de
marca, os famosos playboys. Isso sem contar a quantidade incrível de casais e
famílias, todos geralmente abastados, a família muitas vezes vai toda, levando
até os pequenos, que ficam correndo e berrando por aí, mas os parentes tentam
compreender e reprimir qualquer sentimento negativo e achar bonitinho que os
mais novos sejam mini demônios. E as lojas? Todas arrumadinhas, com vitrines chamativas,
noventa porcento lojas de roupas, lojas para grávidas, ah sim, muitas grávidas
e casais novos e ricos, que querem fazer quartos banhados em ouro para seus primogênitos.
E eu passando por todos esses, me sentindo ridícula em meus trajes, um vestido
florido, coisa que quase nunca uso, me sinto bruta demais para isso, sério, me
sinto como um urso em um vestido. E pensando em como eles devem gastar dinheiro
com roupas, e que eu queria ter apenas dez porcento disso para comprar livros.
O único lugar daquele recinto das compras em que eu me sinto confortável era na
livraria mesmo, e cada vez que eu via um livro que já havia lido, esboçava um
sorriso. É como rever velhos amigos, espero que eles sejam vendidos, prezo por
eles, gosto de verdade. E o mar de possibilidades, poder embarcar em várias
aventuras, é demais. Achei um livro que me encantou por ter um assunto
interessante, o qual não vou comentar aqui, mas enfim, paguei e fui para a fila
do ônibus ( ônibus de graça, olhem que maravilha), fiquei lá, prostrada,
embaixo de chuva fina de fim de domingo. Domingo já é deprimente, quem dirá o
fim dele. Casais e as famosas famílias esperando para pegar os táxis e, risos, úberes,
(não sei se essa última palavra existe, se não, acabei de criar um neologismo.).
E fui embora, ia escrever mais, mas está bom
domingo, 13 de novembro de 2016
Últimas considerações
Passando pela incrível rede social denominada Facebook
Percebi que eu tiro fotos com meu lápis e minhas canetas
E escrevo minha alma
Em inglês ficaria mais legal
``I write my soul off``
É isso, boa noite
Percebi que eu tiro fotos com meu lápis e minhas canetas
E escrevo minha alma
Em inglês ficaria mais legal
``I write my soul off``
É isso, boa noite
Tristeza ao metaescrever
Eu leio meus textos aqui, sabe
E cada vez mais penso se são legais ou não
Cada vez mais penso se não são só mais um bando de palavras distribuídas aleatoriamente
E fico pensando
Quando será que começarei a escrever coisas legais
Que serão valorizadas e até parafraseadas
Eu vejo tantos textos
Mas ás vezes bate um vazio
Como se a pessoa que escreveu não estivesse mais aqui
Como se fosse tudo banalidade
Como se eu estivesse tentando regar uma planta
Que não germina
Que fica embaixo do sol ferrenho, que tem tudo para dar lindas flores
Mas não brota, nadinha
Esse deve ser um dos complexos da escrita
Eu não sei, fiquei confusa agora
Eu escrevo porque sinto quase que uma necessidade
Eu sei que vocês gostam mais dos meus desenhos
Eu queria que mais gente gostasse de ler
Que debatessem mais ideias comigo
Fico escrevendo para meu destinatário invisível
E tentando escoar esses sentimentos por meio de palavras
Mas pessoas não tem mais paciência para palavras
Ver memes é mais legal
GIFs, jogar, e tal
Eu queria
Saber prender a atenção das pessoas
Queria saber escrever decentemente
E publicar meu livrinho com coisas pequenas
Mas substanciais
Eu, acima de todos
Ia amar esse livro mais que tudo
Ia ser pequeno, talvez
Eu poderia ilustra-lo também
O faria com o maior prazer
Ideias brotam, não quero que elas morram
E a ideia de que talvez isso seja muito difícil de fazer
E que não sou renomada, não tenho contatos
Me deixa triste
Eu queria saber moldar melhor minha criatividade, que acredito que seja bastante
Querer, ás vezes, não é poder
Preciso voltar a ler
E cada vez mais penso se são legais ou não
Cada vez mais penso se não são só mais um bando de palavras distribuídas aleatoriamente
E fico pensando
Quando será que começarei a escrever coisas legais
Que serão valorizadas e até parafraseadas
Eu vejo tantos textos
Mas ás vezes bate um vazio
Como se a pessoa que escreveu não estivesse mais aqui
Como se fosse tudo banalidade
Como se eu estivesse tentando regar uma planta
Que não germina
Que fica embaixo do sol ferrenho, que tem tudo para dar lindas flores
Mas não brota, nadinha
Esse deve ser um dos complexos da escrita
Eu não sei, fiquei confusa agora
Eu escrevo porque sinto quase que uma necessidade
Eu sei que vocês gostam mais dos meus desenhos
Eu queria que mais gente gostasse de ler
Que debatessem mais ideias comigo
Fico escrevendo para meu destinatário invisível
E tentando escoar esses sentimentos por meio de palavras
Mas pessoas não tem mais paciência para palavras
Ver memes é mais legal
GIFs, jogar, e tal
Eu queria
Saber prender a atenção das pessoas
Queria saber escrever decentemente
E publicar meu livrinho com coisas pequenas
Mas substanciais
Eu, acima de todos
Ia amar esse livro mais que tudo
Ia ser pequeno, talvez
Eu poderia ilustra-lo também
O faria com o maior prazer
Ideias brotam, não quero que elas morram
E a ideia de que talvez isso seja muito difícil de fazer
E que não sou renomada, não tenho contatos
Me deixa triste
Eu queria saber moldar melhor minha criatividade, que acredito que seja bastante
Querer, ás vezes, não é poder
Preciso voltar a ler
Livros
Dia 07 de novembro, segunda-feira.
Depois de um treino, de desgaste físico e tudo mais, me senti incompleta.
Me senti vazia.
Precisava ler.
Embarcar em uma história.
Mergulhar em palavras de novo.
Coisas novas, aventuras.
Sedenta por aventuras.
Vivencias.
Há cinco dias comprei um livro.
Li.
Há três dias comprei outro livro.
Li.
Hoje comprei um livro.
Li praticamente metade dele hoje.
Minha estante fica mais bonita.
Meus bolsos ficam mais vazios.
Natal está chegando.
Hei de pedir de maneira muito gentil
Livrinhos para a família
Livros sangrentos de lindas capas duras
Com cheiro de novos
Já dizia algum poeta:
``Se você quiser escrever, leia. E depois? Leia mais. E depois? Leia. E quando você estiver de saco cheio de ler? Leia. E quando você pensar que já leu de tudo? Leia mais. Aí depois, só depois, você escreve.``
Depois de um treino, de desgaste físico e tudo mais, me senti incompleta.
Me senti vazia.
Precisava ler.
Embarcar em uma história.
Mergulhar em palavras de novo.
Coisas novas, aventuras.
Sedenta por aventuras.
Vivencias.
Há cinco dias comprei um livro.
Li.
Há três dias comprei outro livro.
Li.
Hoje comprei um livro.
Li praticamente metade dele hoje.
Minha estante fica mais bonita.
Meus bolsos ficam mais vazios.
Natal está chegando.
Hei de pedir de maneira muito gentil
Livrinhos para a família
Livros sangrentos de lindas capas duras
Com cheiro de novos
Já dizia algum poeta:
``Se você quiser escrever, leia. E depois? Leia mais. E depois? Leia. E quando você estiver de saco cheio de ler? Leia. E quando você pensar que já leu de tudo? Leia mais. Aí depois, só depois, você escreve.``
Rede Social
E eu fico aqui
Passando essas notícias
Que nada me interessam
Umas curiosidades aqui
Umas banalidades lá
Umas opiniões de uns conhecidos
Mas nada muito útil
Tudo muito superficial
E eu me pergunto
As pessoas realmente conseguem passar horas nisso?
Eu estou contaminada com isso há muito
Fico vendo o meu próprio perfil, ás vezes.
Para examinar o impacto
Que a minha imagem deve causar nas pessoas
Devem pensar que sou uma pessoa festeira
E muito feliz, sorridente sempre.
Que gosta de desenhar
Mas...
Sou mais que isso
E vocês são mais que isso
E essa droga dessa rede social
Não é uma rede boa, é uma rede que captura essas almas
mortais
E nos transforma em produtos em uma vitrine
A espera que algo impactante aconteça
É difícil
Deixarmos de ser míseros telespectadores
E começarmos a ser protagonistas
Aprendi De verdade Na escola
-Prestar o mínimo de atenção te garante sucesso.
-Por incrível que pareça, a grande maioria não alcança o
mínimo.
-Ficava vangloriando as turmas mais velhas, admirando,
quando me tornei um deles, no topo, pensei: ``Grandes merdas me tornei, espero
que eles não me admirem também``.
-Amizades de escola são circunstanciais, a maioria mal vai
falar com você fora dela, puro utilitarismo.
-Anos de sistema retrógrado e cansativo me fizeram uma
pessoa ligeiramente preguiçosa, que faz resumos de resumos.
-Se antes eu me preocupava com faltar, percebi que pegar
conteúdo por conta própria é a coisa mais simples do mundo.
-Percebi que uma hora eu não precisava mais prestar atenção
no conteúdo de humanas, a matéria foi passada tantas vezes que eu a tinha de
cabeça, só revisava.
-Percebi que me isolar do mundo, por forma de desenhos e
leituras aleatórias, me fez continuar na sala de aula. Do contrário, acho que
eu teria surtado.
-Aprendi que chega uma hora em que você cansa. Cansa de
tentar ser legal, cansa de tentar ir arrumadinho, eu rio quando penso que já
passei maquiagem para ir a escola.
-Aprendi a ter raiva eterna de calças jeans. Todo dia
usando, por mais de dez anos. Raiva eterna.
-Percebi o quanto eu não sirvo para trabalhos em grupo. O
quanto eu ficava cobrando e me desgastando para pessoas que não estavam
ligando, no final acabava fazendo tudo, por ser muito perfeccionista tive
vários atritos.
-Percebi o quanto uma pessoa pode se tornar conformada,
resignada, domada pelo sistema. O quanto eu tinha vontade de entrar, sair
correndo, gritar, quebrar tudo. Aprendi que fui controlada, fui designada para
ser passiva e ficar no meu canto.
-Aprendi que, no final, não importa se você passou de ano ou
não. Importa se aquilo acrescentou algo na sua vida. Aprendi a ter o mínimo de
animo para estudar coisas que não me interessavam totalmente, coisas
entediantes, coisas que vou descartar imediatamente após passar para uma
faculdade.
-Aprendi a não odiar professores. A culpa de um eventual mau
humor na maioria do tempo era por causa dos alunos. Aprendi a valorizar essa
profissão, que, no fundo, me ensinou uma grande parte das coisas que sei no
presente. Eles, por mais diferentes que possam ser, querem transmitir o
conhecimento, e essa é uma das causas mais nobres que tem.
-Aprendi a não tentar ser melhor que ninguém, parar de
querer me comparar com tudo e todos, estavam todos no mesmo nível, só mudava o
nível de dedicação.
-Aprendi que as memórias escolares são muito romantizadas.
Vejo anos passados, e vai ficando tudo enevoado. Como se as más memórias fossem
se dissipando e só me lembrasse das boas. Hoje, olho pra trás e sinto falta do
tempo rindo com, por exemplo, um dos meus melhores amigos. Mas não posso me
deixar esquecer os dias em que chegava, me fechava em meu mundo e só desejava
ir embora. A maioria dos dias era assim. Alguns, (POUCOS, ressalto), colegas me
faziam não querer sair dali correndo, ás vezes. Logo, aprendi a ter
autocontrole.
-Aprendi que, por ter
estudado em escola particular, a instituição visa totalmente ao lucro e poucas
vezes realmente se importa com você. E que os professores se importam, em sua
grande totalidade.
-Embora eles tenham suas próprias vidas, e, depois de te dar
aula, somem do mapa, como se nunca tivessem estado lá antes. Isso já me deixou
triste, pois considerava alguns professores como amigos, uma pena mesmo.
-Aprendi que a comida lá é muito cara e muitas vezes é
necessário ficar com fome em nome do bem maior.
-Aprendi que estudar é muito bom e quero continuar o
fazendo, embora esteja cansada da mesma matéria de ensino médio.
-Aprendi que mesmo tendo um longo caminho pela frente, o
tempo sempre passa, obstáculos são ultrapassados.
Comecei a ter um olhar diferenciado para os alunos mais novos, e penso: Eu nunca passaria por isso de novo. Mas eles precisam passar, como diria meu pai, A paciencia é a maior das virtudes.
Pois bem, a escola me ensinou uma ou duas coisas
quinta-feira, 10 de novembro de 2016
Nomes
Odeio
Mas nao odeio tanto
Quando estou lendo um livro
E o nome dos personagens me lembra alguém.
Li um há dois dias em que se chamavam
Clarice e Teodoro.
Clarice é o nome que alguns dos meus amigos me chamam, principalmente um.
É o nome que eu queria ter.
E fiquei imaginando o Teodoro como o que eu conheço- Alto, barbudo, e tal.
Agora estou lendo um que acabei de ver o ``vilao``, o nome dele é Victor.
Queria me desprender das memórias que tenho das pessoas
Mas nao odeio tanto
Quando estou lendo um livro
E o nome dos personagens me lembra alguém.
Li um há dois dias em que se chamavam
Clarice e Teodoro.
Clarice é o nome que alguns dos meus amigos me chamam, principalmente um.
É o nome que eu queria ter.
E fiquei imaginando o Teodoro como o que eu conheço- Alto, barbudo, e tal.
Agora estou lendo um que acabei de ver o ``vilao``, o nome dele é Victor.
Queria me desprender das memórias que tenho das pessoas
Estava demorando para eu sonhar com o enem
Primeiramente sonhei com o enem. Sonhei que estava eu e
Larissa e os pais dela (?) em algum lugar parecido com uma recepção de algum
lugar, acho que ela estava indo ao médico. Eu só sei que recebi a incrível
notícia que no papel de escrever as respostas do enem, tinha que colocar
respostas intercaladas, uma área para humanas e outra para natureza, com cores
diferentes. E que você precisava ver o número das questões bem específicas
porque ás vezes elas vinham trocadas. Resultado: Eu surtei. Eu recebi essa notícia
e já fui falando:
-Tudo bem, eu vou fazer uerj. Comecei a me amaldiçoar por não
ter me inscrito na FUVEST. Fiquei pensando em um ano em que eu iria ficar
naqueles prédios cinza e sombrios, com laboratórios disputados.
E a mae da Larissa tentou me confortar, falando que não devo
ter ido mal. E eu comecei a tentar contar meus pontos levando em conta meus erros. Outra pessoa chegou, acho que era
minha amiga Giovanna, e me falou que o esquema de marcar as respostas era
facílimo, que estava em roxo bem brilhante, e eu surtei de novo, falando que não
vi nada roxo, só rosa. Branco e rosa. Mas a Larissa cismou que tinha azul
também, um azul escuro que ficava bem separado. Entrei em pânico, dizendo:
-Assim fica difícil, sem a foto do cartão resposta pela
internet.
Vocês não tem ideia o quanto eu fiquei aflita.
Continuando.
Muda o cenário, muda a história.
Estava eu com o Diogo, outro amigo meu.
No terraço de uma empresa importante de construção, acho.
Tinha umas escavadeiras, uns guinchos, umas pessoas pegando coisas para lá e
para cá. E eu lembro de ter perguntado a ele o que era aquilo tudo, mas esqueci
a sua resposta. Ele andava no meio de todo aquele caos, o chão cheio de cal e
poeira, eles carregando sacos de areia (?) e instrumentos, o tempo todo, quase
que ignorando a gente lá no meio.
Até que vejo um policial levando um cachorro marrom grande,
como um doberman mas com cara de vira-lata, mas bem sério, o cão. Eu fiquei
curiosa para saber como era a cabeça de um cachorro desses e assobiei para ele,
mas nem ligou, só estreitou as orelhas. Presumi, então, que se tratava de um
detector de bombas. Fomos dar um passeio em um carrinho de polícia que vagava
por lá, (já percebi que meus sonhos são repletos de veículos), e descemos em
uma parte mais isolada do terreno, em frente a alguma coisa coberta de cimento
fresco. Saímos, eu, Diogo, o policial. Vi um cachorrinho lindo, filhote, um
husky siberiano de olhos azuis e pelo cinza, a coisa mais linda do mundo.
Fiquei brincando com ele, fazendo carinho nele, deleitada
com o cachorro. Eu percebia que ele era meio avoado, ás vezes não percebia o
que eu fazia, mas eu fiquei muito feliz com ele. O policial avisou:
-Ele ficou completamente surdo com uma explosão. Não tem
mais valor comercial nenhum.
De algum motivo, eu sabia que iam sacrificar o coitado do
cachorro. Eu, moradora de apartamento, convivente com pessoas odiadoras de animais,
entrei em pânico novamente.
Quis levar o bicho para casa, dar lar e amor para ele, um
cachorrinho tao dócil que mordiscava meus dedos, de brincadeira. Me partia o coração,
de verdade.
Eu comecei a chorar. E disse:
-Já que ele não serve mais, vocês jogam fora. Era só mais
uma peça na empresa de vocês, só mais uma máquina.
A droga do policial afirmou com um menear de cabeça e eu
chorando com o cachorro no colo, eu morrendo, o cachorro brincando e feliz da
vida.
Eu estava tao tocada e tao emocionada, que no fim do sonho
eu acordei, e senti uma lágrima escorrendo, e percebi que não era a primeira.
Sou um lago de emoções mesmo.
quarta-feira, 9 de novembro de 2016
De boas
Lendo um livro de um autor brasileiro
Um romance de terror psicológico que se passa
Na minha cidade
Ouvindo rock brasileiro
Estou tao compatriota
Feliz
Um romance de terror psicológico que se passa
Na minha cidade
Ouvindo rock brasileiro
Estou tao compatriota
Feliz
quinta-feira, 3 de novembro de 2016
Quatro dias de Festa
``Parecia que não ia acontecer com a gente
Nosso amor era tão firme e forte, diferente
Não vai dizer que eu não avisei você``
Foi você que me avisou.
Quatro dias.
Foi esse o tempo que ficamos juntos, eu na sua casa, na sua
cama, você em mim. A maioria do tempo. E você se enjoou, e você me disse que se
enjoaria E que fica com as pessoas até que elas enchem o saco.
E eu tenho um problema, eu me cativo muito rápido pelas
pessoas, e como uma boa romântica, sinto que as pessoas se tornam responsáveis
por mim quando me cativam, sou uma maravilhosa inocente.
E você se cansou.
Foi amor à primeira vista, lembra?
Lembra, lembra quando eu estava lá na grade daquele show, e você
olhou para mim, eu olhei para você, perguntei o que você fazia da vida, você me
disse qual era seu curso, qual era sua faculdade, e uma das primeiras coisas que eu te disse foi:
-Uau, você deve ser muito inteligente.
Você é. Inteligente de maneira
arrogante, ás vezes. Ou é só raiva por eu não ser tanto assim.
E então você olhava para mim de
uma maneira que eu quero mas não vou esquecer. Um olhar apaixonado mesmo , e eu
não te disse tchau. Ah, eu nunca te disse tchau.
Eu fui embora e te
deixei lá. Fui embora e curti o show.
Mas cheguei a casa e precisei procurar o nome daquela pessoa
que tanto me marcou.
Só lembrava o sobrenome, procurei na página da sua
faculdade, eu ávida, não descansaria até te achar, no google, procurei no
facebook só pelo sobrenome e não consegui achar.
Então eu fiz o que os desesperados fazem: Chutar.
Procurei quatro vezes só, acho que coloquei Lucas, Matheus,
e... o seu nome. Eu consegui. E Eu fiquei tão feliz.
A primeira coisa que te disse foi:
-``Há! Te achei!
E nós conversávamos cinco horas por dia, direto, eu recebia
suas mensagens, quando eu via que você me respondia, sorria. Não importa o que você
fosse dizer, sobre o que fossemos falar, eu sorria.
E falávamos, e falávamos e nos mandávamos indiretas e tudo
era lindo.
Nós nunca nos dávamos tchau. Nunca. Deixávamos um ao outro
no vácuo, mas nunca dávamos tchau.
Até que eu propus de eu ir te ver. De nós nos encontrarmos,
finalmente.
E fui para aí.
E não resisti a você.
Por quatro dias, eu nunca conseguindo resistir a você.
E eu deitada, olhando nos seus olhos, o olhar mais cálido do
mundo, e você me elogiando e elogiando o que eu fazia. Parabéns, você sabe
iludir uma pessoa.
Eu acreditei, seriamente.
Olhei nos seus olhos e retribuí tudo que você me fazia,
mexia nos seus cabelos e éramos quase um só. Até que eu fui embora.
E na escada rolante da rodoviária, você olha para mim e diz
que vai sentir minha falta.
É isso que me quebra. Eu nunca fui boa em despedidas, nunca
fui boa em dizer tchau, estava quase chorando. Mas não ia te dar o gosto disso.
Não ia te dar o gosto, mas te abracei como se fosse a última
coisa na terra a que me agarrar, como se fosse a coisa mais preciosa que
existisse. E fui embora, e disse que não
ia olhar para trás.
Cheguei no ônibus e chorei, chorei, chorei. Fui falar com você...
ADIVINHA?
Você estava diferente. Menos atencioso. Menos amoroso. Menos
carinhoso, divertido, nada. Parecia que você falava comigo por obrigação. Quase
um mês se passou, desde então. E eu sofri, não queria encarar o fato de que...
foi passageiro, acabou.
Um amigo meu, do mesmo lugar que você mora, falou a mesma
coisa.
``-Foi bom, Mariana. Acabou.``
Até que eu não aguentei mais falar contigo. Há três dias.
Minha mão coça para te escrever, para que eu tente dizer algo que vá trazer a
pessoa que era antes de consumirmos o que quer que tinha entre nós. Mas não. Você
me disse que, for fucks sake, eu preciso deixar as coisas irem embora. Estou
deixando você ir embora.
``Estou aprendendo a viver sem você. Estou aprendendo e não quero
aprender. ``
segunda-feira, 31 de outubro de 2016
Mais pena
Comi um yakisoba
E fiquei muito feliz, realizada mesmo
Catei moedas para comer esse yakisoba
Iria escrever sobre esse yakisoba
Com muito custo consegui uns vinte reais, mais um refresco,
sobrou um real
Ia botar no meu cofre e tentar recomeçar a contagem
Até que, andando pelas retas ruas de Copacabana
Em uma segunda-feira ( Dia em que recolhem lixo)
Perto das fatídicas caçambas, havia cerca de quatro garotos,
remexendo o lixo
Como animais, sim, deveras triste.
Mal consegui refletir sobre como eles lembravam pobres gatos
raquíticos procurando comida
Já veio um, metade do meu tamanho, parecia ter uns sete
anos, me pedir dinheiro
Por um momento eu hesitei, e até pensei em recusar
Mas o que é um real? Para ele ia valer mais que para mim
Quando ele já ia embora, falei um pouco mais alto:
``-Tenho.`` E lhe entreguei as duas moedas de cinquenta
centavos.
Não vi a expressão dele, se ficou feliz, conformado com sua situação,
não sei.
Se ele pudesse ler isso, eu diria:
``-Desculpe.``
Desculpe por não poder ter te dado mais. Desculpe por não fazer
uma mudança significativa na sua vida, por não poder te oferecer as mesmas
oportunidades que eu tive. Desculpe por esse governo, que durante grandes
eventos, os escondem, como se não fizessem parte dessa realidade.
Se você vai comprar comida, drogas, passagens, não me
interessa. Pessoas precisam de dinheiro para viver.
Eu queria que você pudesse comer um yakisoba assim ,quando
tivesse vontade.
Mas querer não é poder, não sou uma milionária solidária,
sou mais uma estudante ferrada.
Desculpe.
sexta-feira, 28 de outubro de 2016
Pena
Estava eu desbravando as florestas tropicais da América
Latina, Brasil, com meu equipamento próprio e ferramentas, quando uma situação
me chamou a atenção. Passando por trepadeiras, arbustos, samambaias e ipês, me
deparo com duas aves peculiares caminhando pelo meio das enormes árvores
latifoliadas. Isso, caminhando, uma atrás da outra. Duas araras vermelhas, uma
maior que a outra. De acordo com todo meu conhecimento acerca de biologia, o
que estava atrás era macho, e a da frente, fêmea. O macho tinha penas verdes ao
redor de um pescoço robusto, bonito de ver, enquanto a fêmea tinha cores mais
brandas, atenuadas. Mas ainda assim eram duas manchas vermelhas no meio de
tanto verde, e isso me chamou a atenção. Estava cansada, depois de um dia
caçando pacas, entrando em rios, molhando as botas. Mas precisava parar para
analisar esses dois seres tão peculiares e tão bonitos. Mas de bonito, só a
aparência das aves, mesmo, pois daqui para frente as coisas ficam meio
estranhas. Eu estava reparando no que os seres emplumados estavam fazendo, e
acabei notando que o macho estava, não acompanhando a fêmea, mas a seguindo,
quase perseguindo. Ela andando, e ele atrás, sempre, circulava uma árvore,
circulava outra, e ele sempre atrás. Achei peculiar, mas só observando mesmo.
Depois de andarem um pouco mais, a fêmea alça voo, para cima de uma pedra, e...
O macho vai junto. Abre suas asas coloridas quase ao mesmo momento e se projeta
para seguir a parceira que tanto almeja. Penas de cores variadas, amarelas,
verdes e vermelhas se alteram, até que ele se põe exatamente ao lado da coitada
da ave fugitiva. E é tristemente engraçado como a fêmea tenta se desvencilhar,
ela tenta dar uns passinhos curtos para o lado, e está voltada com a cauda para
a frente do macho, acho que eles vão querer privacidade. Mas não, ela continua
tentando ir para frente, mas sem cair da pedra, como se estivesse ligeiramente
incomodada, mas não totalmente aborrecida. E então, ela se vira para o macho, e
fica encarando-o. Fico pensando, será que vão fazer como nas fotos, encostar os
bicos? Mas não, ficam apenas se encarando, trocando mensagens somente através
de suas expressões ovíparas. Ela olhando para ele, ele olhando para ela, e eu
lá, sentada em uma pedra, apreciando esses lindos espécimes, queria ter uma
câmera. Embora o macho esteja sendo ligeiramente evasivo com a coitada, dá uma
foto legal, olhe como a natureza é perversa.
A fêmea voou, voou embora, para cima de uma árvore qualquer.
O macho voou atrás, seguindo suas penas. Perdi-os de vista. Fiquei frustrada,
segui meu rumo na selva. Nunca saberei
qual foi o desfecho dessa história emocionante. Espero que os passarinhos
estejam bem.
PS: Para maior veracidade dos fatos, transforme as araras em
pombos e a floresta na praça do metro, em Copacabana.
terça-feira, 25 de outubro de 2016
Metaescrevendo
Eu não quero.
Escrever sobre um problema que assola a sociedade no
cotidiano brasileiro.
Não hoje.
Eu quero escrever sobre os mais profundos sentimentos, sobre
o ódio que eu sinto, a repulsa, o amor, o carinho, esse mix de felicidade e tristeza
que está sempre se renovando. Quero exprimir minhas emoções, botar para fora
todo esse fluxo que vem me assolando e me fazendo refletir, eu comigo mesma.
Não quero me forçar a colocar um monte de conjunções em um
texto, só para ficar mais coesivo. Dane-se a coesão, eu quero que minhas
palavras toquem quem lê, e não que uma pessoa leia rápido, com pressa, e ainda
enumere o que ele acha que é uma nota para meu texto! Obrigar-me a escrever um
texto mecânico, utilitário, frio, é perverso. Escrevo como quem descarrega uma
carga emocional muito grande em seus textos, gosta de transmitir isso, de fazer
com que os outros se lembrem de que estamos todos vivos. Mas com o outro texto não,
com o outro, somos máquinas, todos iguais, uns com mais erros que os outros. E
ce euh comesá a ixcreve acim, vou ter menos valor como quem escreve certo? Vou
ser uma pessoa melhor se eu empregar a vírgula em todos os períodos certos? Se
eu desenhar um coração no fim da página, vou ser desclassificada?
Subordinar-me-ei a esse sistema. Pois quero ingressar em uma
universidade. Não vai doer tanto me privar de toda minha criatividade, e
escrever só mais um texto mostrando que eu aprendi e que não sou uma
analfabeta. Eu escrevo, escrever me acalma, nesse contexto escrever me deixa
nervosa, isso é muito ruim. A criação é totalmente repugnada, imagine que, ao
invés de uma redação, fosse um poema. Iríamos achar uns muito bons, gemas no
meio de vários textos, inúmeros.
Não quero escrever sobre fontes renováveis, mobilidade
urbana, obesidade. Já escrevi sobre isso. Quero escrever sobre como foi meu
dia, sobre como sinto saudades das coisas pequenas da vida, quero escrever
sobre como um conhecido meu matou uma barata cruelmente só porque ela se
aproximou dele, e eu fiquei com pena dela.
Por que não tem ninguém online para conversar comigo ás
quatro da manha? Por isso fico escrevendo, eu conversando comigo, olha que reflexões
legais que eu faço.
Enfim, eu vou sim fazer a tal da redação, mas não hoje. Hoje
estou no clima de fazer outras coisas, de digitar coisas aleatórias, mas
humanas, não estou a fim de ser máquina hoje.
sexta-feira, 21 de outubro de 2016
Simulação de queda
Estou caindo.
Isso mesmo , estou eu em um avião com destino a São Paulo, e
estou em queda livre. Coloquei meus fones, com certo custo, estão todos
gritando aqui. Se é para sentir o caos, coloco logo Dragonforce, no último
volume. Então, vamos lá... Estava eu relaxada, sentada, quando as turbulências se
agravaram em um ponto desesperador e só consegui ouvir pelo alto falante:
-Atenção, em detrimento do mau tempo, a turbina esquerda da
aeronave queimou e a segunda está ruim. Teremos que tentar realizar um pouso forçado.
Logo abaixo de nós, as grandes montanhas que separam Rio de São Paulo. Não sei
onde iremos pousar, mas algo não me cheira bem. Até que avisam que a segunda
turbina queimou e todos surtaram. Buzinas, luzes vermelhas, tudo vibra, tudo
faz muito barulho, estou tendo um show audiovisual com elementos extras ao
redor de mim, fogo nas turbinas lá fora, todos os corações dos presentes aqui
cheios de pânico e terror, um pandemônio.
Todos menos eu, olha que legal. Estou até com o cinto de segurança
ainda, embora caindo a uma velocidade surpreendente. Esse texto todo equivale a
um minuto de queda livre. Pessoas gritando, sacudindo os braços, estariam
orando para seus respectivos deuses se pudessem ter tempo para pensar
racionalmente. Queria ter um Deus para pensar: Hmmm, vou continuar existindo e
vou para o céu, mas não acredito. Vou virar comida de verme, mas vou virar
comida de verme com consciência livre. Eu mesma estou parecendo em transe,
sentada, sentindo toda essa adrenalina percorrer o meu corpo, como se eu
estivesse em um daqueles brinquedos de parque de diversão, aqueles que você cai
e no final tem uma inclinação e nada acontece. Pois é, estou sentindo isso, mas
dessa vez é para valer. Dessa vez não vai haver a recuperação do folego, é um
tiro certeiro para a morte, eu despencando para sempre. Pego meu celular, mãos tremulas,
e tento mandar a coisa mais plausível que consigo pensar em meio a tanto
barulho, tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, digito rapidamente, para
minha mãe: Te amo. Obrigada p. tudo. Droga, não deveria ter mandado isso, ela
vai chorar muito. E nem sei se o sinal está pegando, eu deixei o telefone
ligado e com internet durante o voo, contrariando as normas. Grande maravilha,
estamos caindo de qualquer jeito. Olho para o lado e vejo uma família se abraçando,
juntos como pinguins em uma nevasca. Tento pensar sobre minha vida, e não consigo
enxerga-la na frente dos meus olhos, como já foi dito. Estou pensando em como
gostaria de ter me despedido de certas pessoas, e de como algumas nem vão sentir
minha falta. Pensando nas últimas coisas
que fiz, embrulhei minhas malas, dei um beijo de despedida em meu ex-amante, e
penso... Vivi bem. Não vivi para, não sei, passar em uma prova, ou ter
dinheiro. Vivi para me divertir, para aproveitar algo da minha insignificância,
desfrutar dos pequenos ( e grandes) prazeres, fazer os outros felizes. Fiz ações
boas, deixei uns desenhos para mais de uma dúzia de pessoas, estou feliz, não falta
nada. Uma hora o bico desse avião vai encostar-se ao chão, e eu vou ser pedacinhos
voando pelo ar. Deleitante, morrer como os Mamonas morreram. Vou ter minhas partículas e a de umas cem
pessoas espalhadas por aí como sementes, comida para os vermes... Que honra,
que honra. As árvores se aproximando, o verde surgindo como um borrão, as
enfermeiras tirando os sapatos... Tirando os sapatos? Que diabos? Enfim,
continuando, não sei se gostaria de ter um revólver, agora, em minhas mãos,
para poder tirar o poder desse mundo cruel de me matar. Parece que tudo passa
em câmera lenta, haja ansiedade. Vivi em detrimento de mim mesma, fiz uns
agrados ali e aqui, ninguém vai se lembrar de mim, mas vai aparecer minha foto
no noticiário. Espero que peguem uma foto bonita. Sorrindo. Minha vida não era
flores, nem um pouco. Sempre que alguém morre, parece que a vida dela era uma
coisa espetacular, pois bem, a minha era bem medíocre, se existisse pós-morte
eu só sentiria falta de algumas coisas, essas que foram construídas com afeto,
que me cativaram. Ó, meus amigos, não chorem por mim, estou bem do jeito que estou,
era para isso acontecer. Tragédias acontecem, vamos todos seguir em fren
sábado, 15 de outubro de 2016
Heliofobia
Talvez
Seja difícil para mim dormir á noite
Por medo de ter de encarar o gigante amarelo
Ao chegar a alvorada
Ou
Por receio de abandonar a Lua, e as milhares de estrelas
Cobertas pela poluição, tadinhas
Tenho medo do dia
Medo de sorrisos barulhentos
Medo dos raios que rasgam minhas retinas
Que queimam meu couro cabeludo
Alvo, parcialmente protegido pelos cabelos.
Sou frágil, sou noturna
Não consigo lidar com essa iluminação
Que ferve minha epiderme
Que esquenta meu sangue
Que aumenta minha pressão
Que me faz suar
Que me faz pensar
Que eu não pertenço a esse mundo diurno
Cheio de rostos iluminados, olhares determinados.
Passou a época em que eu pulava por aí, sobre grama ou areia.
Até mesmo o mar, agora o vejo como um parente distante
Perdi o contato com ele, mas as boas lembranças prevalecem.
Fico enclausurada, cortina fechada.
Quando chega a noite, a lua vem de supetão
Me banha com esse halo alvo
Me deixa feliz
Por esses e outros motivos
Quando todos estão indo dormir
Estou acordando.
Quando todos estão sonhando
Estou escrevendo
Em frente ao meu computador
Luz não natural terrível que fere minha visão
Embaça o que tenho de enxergar, mesmo com o brilho no
mínimo.
Não vale a pena
Me arriscar a sair sob o sol de quarenta graus
Ter a pele queimada, tostada, fritada, sem piedade.
Fico no escuro, na sombra, nos lugares imperceptíveis.
A madrugada me acolhe, e aqui estou eu, escrevendo
aleatoriedades... E a prova da UERJ é daqui a praticamente cinco horas. Um beijo dos falsos inteligentes
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