terça-feira, 25 de outubro de 2016

Metaescrevendo

Eu não quero.
Escrever sobre um problema que assola a sociedade no cotidiano brasileiro.
Não hoje.
Eu quero escrever sobre os mais profundos sentimentos, sobre o ódio que eu sinto, a repulsa, o amor, o carinho, esse mix de felicidade e tristeza que está sempre se renovando. Quero exprimir minhas emoções, botar para fora todo esse fluxo que vem me assolando e me fazendo refletir, eu comigo mesma.
Não quero me forçar a colocar um monte de conjunções em um texto, só para ficar mais coesivo. Dane-se a coesão, eu quero que minhas palavras toquem quem lê, e não que uma pessoa leia rápido, com pressa, e ainda enumere o que ele acha que é uma nota para meu texto! Obrigar-me a escrever um texto mecânico, utilitário, frio, é perverso. Escrevo como quem descarrega uma carga emocional muito grande em seus textos, gosta de transmitir isso, de fazer com que os outros se lembrem de que estamos todos vivos. Mas com o outro texto não, com o outro, somos máquinas, todos iguais, uns com mais erros que os outros. E ce euh comesá a ixcreve acim, vou ter menos valor como quem escreve certo? Vou ser uma pessoa melhor se eu empregar a vírgula em todos os períodos certos? Se eu desenhar um coração no fim da página, vou ser desclassificada?
Subordinar-me-ei a esse sistema. Pois quero ingressar em uma universidade. Não vai doer tanto me privar de toda minha criatividade, e escrever só mais um texto mostrando que eu aprendi e que não sou uma analfabeta. Eu escrevo, escrever me acalma, nesse contexto escrever me deixa nervosa, isso é muito ruim. A criação é totalmente repugnada, imagine que, ao invés de uma redação, fosse um poema. Iríamos achar uns muito bons, gemas no meio de vários textos, inúmeros.
Não quero escrever sobre fontes renováveis, mobilidade urbana, obesidade. Já escrevi sobre isso. Quero escrever sobre como foi meu dia, sobre como sinto saudades das coisas pequenas da vida, quero escrever sobre como um conhecido meu matou uma barata cruelmente só porque ela se aproximou dele, e eu fiquei com pena dela.
Por que não tem ninguém online para conversar comigo ás quatro da manha? Por isso fico escrevendo, eu conversando comigo, olha que reflexões legais que eu faço.

Enfim, eu vou sim fazer a tal da redação, mas não hoje. Hoje estou no clima de fazer outras coisas, de digitar coisas aleatórias, mas humanas, não estou a fim de ser máquina hoje.

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