domingo, 20 de novembro de 2016

Violência cotidiana, todo mundo se engana

Estava eu voltando do rio sul, em uma jornada curta até meu humilde apartamento em Copacabana. Ia passar pelo túnel, era cerca de duas horas da manha. Sozinha, eu com uma blusa preta e shorts, nada demais, sem dinheiro, sem celular.
Eu escuto, de repente, o barulho de uma bicicleta se aproximando. Olho para trás e há um sujeito típico do Rio de janeiro, moreno, camisa, bermudas e chinelos. Começo a andar mais rápido.
Ele vai mais rápido que eu, me passa. Continuo andando.
Lá na frente, quase no fim do túnel, a bicicleta dele está atravessada, impedindo a passagem.
Ele está logo ao lado de sua bicicleta, brandindo alto uma faca grande, de churrasco,  com a mão direita, com uma expressão odiosa na cara, e fala:
-Passa tudo, ou vai ser furada!
Eu me aproximo, e falo:
-Não tenho celular.
Tento estar calma, pois sei que em assaltos, os ladroes estão mais nervosos que a vítima.
Ele parte para cima de mim, para tentar me revistar, ou coisa do gênero.
Sem pensar, passo a perna esquerda para frente e faço um gancho com a direita, derrubando-o no chão. Ele está meio atônito.
-Que ``mulhé`` maluca! Ele grita, mas não dá mais tempo para dizer nada, pois estou socando a cabeça dele, de pé, acertando em cheio no crânio.
Ele , com a faca, tenta me acertar, consegue fazer um grande arranhão no meu braço, e sua outra mão está protegendo a cabeça.
Eu, com raiva, ajoelho a perna esquerda em seu tórax e faço força para tirar a faca de sua mão.
-Filho da puta! Xingo eu, o sangue no meu braço escorrendo para o chão úmido do túnel.
Depois de muito castigar o rosto dele, acertar seu nariz, sangrando agora, consigo pegar a faca para mim.
Não penso. Em um instinto animal tiro o joelho de cima dele e o esfaqueio uma, duas, três vezes, nas costelas. É muito mais difícil que parece nos filmes e tal, sinto que os cortes estão muito superficiais. Ele tenta alcançar qualquer parte minha, puxar minha perna, mas sua força está se extinguindo rapidamente, tento esfaqueá-lo mais, enfiando a faca lá no fundo, ás vezes bate em suas costelas, seria muito desajeitada para ser açougueira.

O sangue está em minhas mãos, seu odor ferroso impregnado em todo lugar, no chão, nas paredes. O homem grita de dor, tento chutá-lo na barriga mesmo, para faze-lo calar a boca. Ele cospe sangue. Depois de, talvez, umas dez facadas, ele virou um peso morto no chão. Pego sua faca, vou levar para casa, vai que a polícia pega e ache minhas digitais. Espero que fragmentos de pele, unhas ou cabelo não impregnem o cara, pois assim as coisas se complicarão para mim. Vou embora, poderia pegar a bicicleta dele, mas não sei conduzi-la. Decido ir para um hospital tratar do meu arranhão, mas antes vou passar no mar (está ligeiramente perto), para remover esse sangue todo. 

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