Segunda feira. Depois de um treino, eu suada, querendo subir
logo pelo elevador de serviço lento. Abro a porta para uma mãe e sua filha,
morenas, a mãe alta de cabelo liso preto, bonita, e sua filha, fofa, de cerca
de uns cinco anos, eu presumindo, apenas. Mas sou boa em deduzir idades.
A criança aperta o
seu andar, com certo esforço, pois mora no decimo segundo andar.
Eu, sem pensar
sobre a mágica que os botões exercem sobre as crianças, apertei o meu andar.
Ela gostaria de
ter apertado para mim.
Vacilei.
- Você é do sete –
ela diz para mim, entusiasmada.
Respondo: Sim...
Cansada e sem a mesma energia.
-Eu sou do doze!
Continua ela.
- O meu é mais
alto!
Eu tento rir,
tento dar a interação que ela deseja.
-A minha mãe não me
deixa chegar ``na`` janela. Bufa ela, como que reclamando, mas de maneira fofa.
–Só acompanhada de um adulto.
E eu falo a coisa
mais estúpida:
-Um dia você fica
grande e pode ir sozinha.
Eu comecei a
pensar em coisas super negativas, como: você pode chegar na janela, sozinha,
daqui a quinze anos, perceber que seus sonhos eram uma mentira, depois de ter
se perdido no mundo e visto o quanto ele é ruim, você pode visitar a janela
sozinha sim,..
Mas eu estava me
contendo, pensando:
ELA É UMA
CRIANCINHA, NÃO FALE NADA PESADO, VOCE ESCREVE SOBRE ISSO DEPOIS.
A mãe dela olhando
para ela, como que achando que estava me incomodando.
-É muito alto. –Prossegue
ela - se eu cair eu abro um galo na minha cabeça
E lá fui eu
pensando.
Querida, eu
presenciei dois suicídios em frente ao meu prédio, dois casos de homens que
aparentemente se jogaram de andares bem altos, e nenhum deles ficou com um galo
na cabeça.
Se você realmente
caísse, seu corpo iria se fragmentar em partes, o seu sangue iria banhar o asfalto, seus
membros iriam se distorcer nos mais estranhos ângulos, seus pais chorariam, ah,
chorariam, uma multidão se aglomeraria e você seria levada de maca... Muito
mais que um galo.
Mas eu me contive.
E estou feliz porque eu me contive. No momento tive um mini-momento de não saber
oque fazer.
A mãe dela disse:
-Ia ser mais que
só um galo. Rindo.
Eu também estava
rindo.
Falei:
Pois é...
Rindo, de maneira apreensiva. E a
garota, começou a imaginar que o seu galo cresceria a ponto de servir como uma
escada, e falou que plantaria bananeira para poder entrar em casa, só com o
galo dela, pois ele ficaria tão imenso que chegaria no decimo segundo andar.
O mundo é muito
cruel para as crianças, olhe essa imaginação.
Saí do elevador, não
antes de escutar o final da teoria dela sobre o galo gigante. Ao fechar a porta,
respirei fundo e pensei:
Por isso não quero
ter filhos.
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