-Doutor, eu tentei me matar de novo.
-E não deu certo?
-Não consegui, doutor!
-Qual foi o método?
-Tentei me jogar do décimo andar.
-E o que houve?
-Caí no chão, quebrei muitas costelas, uma perna, um braço,
mas sobrevivi! Ah , um traumatismo craniano também. Depois de cinco meses,
fiquei bem da cabeça.
-Já tentou se jogar de novo?
-Olha, doutor, eu não tenho mais coragem, já passei por isso
uma vez, é muito ruim.
-Já tentou colocar uma arma contra a cabeça e atirar?
Funciona!
-Meu amigo tentou fazer isso, sabe doutor, e a arma
escorregou para frente e abriu um buraco na parede dele! Não é como nos filmes,
as armas escorregam e dão um tranco danado. Além do mais, é difícil conseguir a
arma, só com o tráfico, e isso é perigoso.
-Tudo bem... Corda?
-Pelamor, morro de medo do sufocamento.
-Cortar os pulsos?
-Não sou uma adolescente de quinze anos, doutor.
-Você já repensou? Quer morrer mesmo?
-Doutor, não dá para matar uma pessoa que já está morta. Só
quero me livrar dessa casca.
-Corda não, arma difícil de arranjar, trauma de se jogar... Há
poucas alternativas. Você pode tentar se esfaquear, mas processo doloroso e pode sobreviver. Furada. Literalmente.
-Ah, se eu tivesse dinheiro, doutor. Iria me mandar para o espaço e morrer por algo como despressurização. Ou ir na direção do sol até meus miolos derreterem e minha pele se descolar dos músculos e dos ossos e eu me incinerar por completo.
-Você pode muito bem botar fogo em si mesmo.
-Puta que pariu, doutor, vão achar que eu morri em um acidente! Ou como um personagem maldito do the sims!
-Hahahah, eu gostava de queimar meus sims. Ou afogar. Já pensou em...
-Não, me disseram que merda boia. Eu iria sobreviver. Mentira, eu apenas não quero morrer na água, é como se estivesse reiniciando um ciclo, nasci num útero, morri na água, não quero isso, quero por um ponto final na minha existência, sabe? Uma maneira bem concreta de morrer, que vá me dilacerar de verdade, para não haver velório nem nada dessas frescuras. Eu queria que alguém pudesse me matar de
maneira inusitada, como uns assassinos particulares. O senhor pode me conceder
eutanásia?
-No Brasil é proibido.
-Porra, doutor. Já tentei até ingerir uns dez comprimidos de
paracetamol , vomitei tudo.
-Por que você não tenta coma alcoólico e overdose?
-Doutor, sempre que vou beber, esse é o meu objetivo. Me tornei muito resistente. E as outras drogas mais pesadas são caras, estou sem dinheiro.
-Querido, já tentou bater com o carro? É a morte perfeita,
duzentos quilômetros por hora, aventura, aproveita, bebe bastante, comete umas infrações,
se diverte, e morre da melhor maneira!
-Ok, doutor. Vou pegar meu carro e fazer isso mesmo, onde
pode ser? Avenida Brasil?
-Não, vai causar muito transito desnecessário. Pega uma estrada Petrópolis-Rio. Uma descida.
-Não, vai causar muito transito desnecessário. Pega uma estrada Petrópolis-Rio. Uma descida.
-Obrigado! Espero não ter que voltar aqui mais!
-De nada! Boa sorte!
*Porta se fecha com um baque*.
-Caralho, que indivíduo difícil de morrer.
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