terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Destruído / Parte 2

Um momento, indo pegar algo para nós bebermos. Digo eu, levantando, e repousando a cabeça dela, que antes estava parcialmente em meu colo, em uma almofada.
Eu sou um fracassado mesmo. Passou o momento feliz da noite. Cresci, virei um merda que individualista e egoísta que ninguém gosta, estou de saco cheio disso tudo.
Pego uma garrafa de licor de menta, uma das minhas bebidas favoritas, não vai fazer falta nesse bar imenso.
Aproximo-me do sofá, ela está quase dormindo.
-Aqui, beba. Coloco a garrafa praticamente na boca dela, e ela sorve a bebida com avidez, um bom amontoado dela. Depois é minha vez.
Sento e ponho a cabeça dela em meu colo novamente, começo a acariciar os cabelos dela. Depois de muitos goles e muitos pensamentos ruins bêbados, ela vira para mim e fala:
-Me ajuda.
Ela quer vomitar, acho. A puxo pelo braço, pergunto onde fica o banheiro a uma garota aleatória que se entrepõe sobre mim e ela. A garota diz:
-Deixa que eu ajudo! Ela sempre fica assim.
Eu respondo que não precisa, eu a levo, não estava fazendo nada mesmo.
-Mas ela nem te conhece, seu maníaco!
Eu simplesmente empurro a garota magérrima da minha frente, e lá fomos nós dois rumo ao banheiro. Havia toda uma fila na frente da porta que dizia: ``SE FOR VOMITAR, VASO SANITÁRIO``, com vaso sanitário sublinhado umas três vezes. Todos estavam ligeiramente drogados, bêbados, destruídos. Quando chegou a vez da garota, muitos tentaram me parar, dizer que era melhor não, que eu não tinha uma fama boa, que ia dar problema. Um cara da minha idade, aparentemente, veio me parar, falando:
-Qual é a tua, cara? Estuprar a mina que está mal?
Eu fiquei com tanta raiva que dei um soco na cara do desgraçado, mais rápido do que eu pensava que podia, bêbado. No mesmo momento o nariz dele começa a sangrar, e ele resolve partir para cima de mim, desvio, sempre com uma mão na garota, empurro a porta com meu ombro, e entramos os dois. Fecho a porta, giro a trava. Posiciono a mulher de quatro, sobre o vaso sanitário.
E ela vomita. Bastante. Quase dorme sobre a tampa do vaso sanitário. E eu começo a pensar coisas ruins. Pensar sobre eu estuprando essa garota vulnerável, meu pau entrando e saindo dela, conforme ela grita e pede para eu parar, tentando se defender com unhas e garras, mas eu sou maior, não adiantaria. Eu só a machucaria mais, tentando enfiar papel higiênico em sua boca para parar de gritar, ou até mesmo acertar a cabeça dela na borda de mármore da banheira desse banheiro requintado.
Só de pensar isso, me dá vontade. De verdade. Pego o revólver que vim guardando para esse momento especial, aponto para a cabeça dela. Está tão louca que nem percebe.
Não.
Ela parece uma pessoa boa. Ajeito os braços dela ao redor do assento do vaso, ajeito o cabelo dela.
Destranco a porta, saio. Saio com meu Taurus 85 na mão. Não miro. Em meio a todas essas luzes, toda essa música, todo o barulho cessa quando eu atiro, quando o trovão do estrondo da bala sendo disparada enche o ambiente. Gritos. Gritos e mais disparos meus. Disparo nas pessoas da fila, todas correndo como formiguinhas sendo dispersas pela grande mão que vai amassar elas todas. Disparo na direção das pessoas que antes dançavam, e agora todas tentam se esconder, e eu gasto as muitas balas que enfiei nessa preciosidade.
Uns dez tiros, devo ter machucado algumas, não sei se matei alguém. Acontece.
Para deixar o lugar mais pintado de vermelho, pego meu Colt e tento acertar mais gente, como em um jogo de tiro, só que de verdade. É divertido quando eu acerto o alvo. Acho que explodi uma melancia. Ou a cabeça de alguém. Vai saber.
Sou só eu, no meio do recinto, a estrela, merecendo toda a atenção que eu sempre quis. Estou feliz. Minha angústia se dissipa conforme os trancos das minhas amigas mexem com meu senso de equilíbrio, quase caio.
Escuto gritos de pessoas dizendo que fulano não respira, fulana não se mexe.
Corro na direção da varanda, portas abertas, pessoas assustadas, olham para minha arma, tentam me pegar, me parar, fazer qualquer coisa em meio a pânico e caos. Atiro neles. Taco as armas sem munição neles, elas são pesadas e nocauteiam um sujeito que estava perto de mim.
Aproximo-me da beirada, não penso duas vezes.
E eu me jogo em direção ás ruas margeadas pela praia, indo de encontro mortal com o asfalto. Doze andares, e lá foi meu corpo beijar o chão. Meu nome era Gustavo, um assassino em potencial. Ah, e nunca soube o nome da garota que me rejeitou. Espero que eu não tenha a matado também.



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