sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Pena


Estava eu desbravando as florestas tropicais da América Latina, Brasil, com meu equipamento próprio e ferramentas, quando uma situação me chamou a atenção. Passando por trepadeiras, arbustos, samambaias e ipês, me deparo com duas aves peculiares caminhando pelo meio das enormes árvores latifoliadas. Isso, caminhando, uma atrás da outra. Duas araras vermelhas, uma maior que a outra. De acordo com todo meu conhecimento acerca de biologia, o que estava atrás era macho, e a da frente, fêmea. O macho tinha penas verdes ao redor de um pescoço robusto, bonito de ver, enquanto a fêmea tinha cores mais brandas, atenuadas. Mas ainda assim eram duas manchas vermelhas no meio de tanto verde, e isso me chamou a atenção. Estava cansada, depois de um dia caçando pacas, entrando em rios, molhando as botas. Mas precisava parar para analisar esses dois seres tão peculiares e tão bonitos. Mas de bonito, só a aparência das aves, mesmo, pois daqui para frente as coisas ficam meio estranhas. Eu estava reparando no que os seres emplumados estavam fazendo, e acabei notando que o macho estava, não acompanhando a fêmea, mas a seguindo, quase perseguindo. Ela andando, e ele atrás, sempre, circulava uma árvore, circulava outra, e ele sempre atrás. Achei peculiar, mas só observando mesmo. Depois de andarem um pouco mais, a fêmea alça voo, para cima de uma pedra, e... O macho vai junto. Abre suas asas coloridas quase ao mesmo momento e se projeta para seguir a parceira que tanto almeja. Penas de cores variadas, amarelas, verdes e vermelhas se alteram, até que ele se põe exatamente ao lado da coitada da ave fugitiva. E é tristemente engraçado como a fêmea tenta se desvencilhar, ela tenta dar uns passinhos curtos para o lado, e está voltada com a cauda para a frente do macho, acho que eles vão querer privacidade. Mas não, ela continua tentando ir para frente, mas sem cair da pedra, como se estivesse ligeiramente incomodada, mas não totalmente aborrecida. E então, ela se vira para o macho, e fica encarando-o. Fico pensando, será que vão fazer como nas fotos, encostar os bicos? Mas não, ficam apenas se encarando, trocando mensagens somente através de suas expressões ovíparas. Ela olhando para ele, ele olhando para ela, e eu lá, sentada em uma pedra, apreciando esses lindos espécimes, queria ter uma câmera. Embora o macho esteja sendo ligeiramente evasivo com a coitada, dá uma foto legal, olhe como a natureza é perversa.
A fêmea voou, voou embora, para cima de uma árvore qualquer. O macho voou atrás, seguindo suas penas. Perdi-os de vista. Fiquei frustrada, segui meu rumo na selva.  Nunca saberei qual foi o desfecho dessa história emocionante. Espero que os passarinhos estejam bem.

PS: Para maior veracidade dos fatos, transforme as araras em pombos e a floresta na praça do metro, em Copacabana.

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