Mas acordo, e acordo aflita. Levanto da cama, não consigo ver que cor está o céu. Se está claro ou escuro, eu não sei.
Parece meio...
Roxo.
Desco da cama, e lembro como ontem foi louco
Imagina se fosse só um sonho, as aventuras que tive ontem.
Vejo gatos e cachorros saindo do meu armário. vindo ao meu encontro.
Vejo um gato preto perto de mim
E penso
ISSO NÃO É REAL
um gatinho magérrimo
Não mia, nada
Ele só é muito magro
E um cachorro também
E eu penso
Não não não
Minha avó não deixa animais aqui em casa
E eu penso
Caralho
Está voltando
Flashbacks
Minha avó começa a falar comigo
E outra amiga
Eu falo com a Bianca
E falo que estamos revivendo uma cena de 2013
Todos riem da minha cara
Até minha avó fica meio incomodada
E eu volto pro meu quarto
E penso
Cara bateu a bad
Nao acredito nisso
Veio um flashback e bateu a bad e eu estou delirando
Eu desco da cama, quero tirar todas essas roupas que me sufocam
E tem um casaco amarelo
E ele se embola no meu braco
E eu tento tirar
e nao consigo
e quase me sufoco
Tento puxar
Nao consigo de jeito nenhum me afastar
O casaco se embolou como uma cobra
No meu braco
E eu tento tirar devagar
Mas nao dá
E no final
O casaco fala
-Mariana.
E eu penso
CARALHO
Isso é meu pai me segurando pelo braco
É a voz dele
Eu nao consigo nem olhar para o rosto dele
Será que é ele?
Eu estou alucinando muito
E eu nao consigo muito me comunicar com ele
Porque ele some
E eu vejo uma casa grande
A minha casa, será?
Ando por ela
Surgem pessoas aleatórias
A casa é limpa
E tem espelhos
E eu penso
Cara isso é a minha casa
Na imagem de alguém que se drogou
E vem pessoas
Pessoas estranhas, que eu nunca vi na vida
Elas vem falar comigo
E eu digo coisas
E depois eu penso
CARALHO ESTOU FALANDO SOZINHA
Mas embarco na deles
E olho para as caras estranhas
E tem uma mulher
Que chega para mim
E diz que estou perdida
E ela diz
-Deixa eu te abracar
E eu a abraco
E EU SINTO O ABRACO
e eu penso
Cara. Isso é real.
E pergunto
-Quem é voce?
-Voce é real?
Ela ri, apresenta outra amiga dela, que me abraca
As duas riem mais e vao embora
E eu fico na dúvida
QUEM ERAM ESSAS PESSOAS?
Eu estou acordada. Falando sozinha. Ok.
Daqui a pouco escuto meu pai falando
E respondo
-QUE FOI, PAI?
E ele diz:
-Você está tremendo, se debatendo e espumando no chao.
E nesse momento eu tento falar alguma coisa.
Tento, não consigo.
Minha avó fala:
-Tem que levar para o hospital.
Uma das minhas pessoas imaginárias fala:
-Isso que dá usar LSD.
E eu penso
Cara, não
Deixa eu ficar aqui
Vai passar, não é nada
Mas nada sai da minha boca
E eu me sinto carregada
Não me lembro de descer o elevador,
Não me lembro de chegar no centro
Naã sei nem se é noite ou dia ainda.
Ele me levanta do chão, minha cabeça pende para trás.
Acordo no aterro do flamengo, em direção ao centro, caminhando ao lado do meu pai.
E ele fala:
-Nunca pensei que você fosse se meter com isso.
E eu consigo escutar e respondo ( ou acho que respondo):
- O que? Usar drogas?
E daí fica tudo colorido e tremulo de novo e não sei mais o que é real e o que não é real.
Caralho.
Blackout.
Estou atravessando a rua com meu suposto pai, olho para ele e seu rosto nao é o do meu pai.
Acho que estou de mãos dadas com ele.
Meu pai tem uma bolinha de gordura em uma das mãos, e eu penso: Vou segurar no pulso dele
E assim vou ver se é de verdade ou não.
Segurei. Quando fiz isso, senti a bolinha, mas estou achando que isso é minha mente pregando uma peça. Não pode ser o meu pai, não.
Estou muito louca, no centro, com desconhecidos e seres irreais da minha cabeça.
Quer saber?
Foda-se.
Eu não vou atravessar a rua.
Eu vou provar que não é real, nada disso é real.
E se for, adeus Mariana.
Eu deito no chão onde os carros passam, e eles subitamente param de passar.
Eu consigo, com as mãos, cavar no concreto, como se fosse terra fofa.
Cavo o concreto, que se revira, vivo em minhas mãos.
E lá fico eu
E falo
Calma
Nada é real
Nada faz sentido
Em um pulo
Eu acordo
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