quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Welcome to the hotel california

Ontem ver o André desmaiado no topo da escada me fez me sentir um pouco menos indestrutível.
Pois bem, estava conversando isso com Evandro e um flash correu meus pensamentos antes que eu pudesse dizer qualquer coisa:
-Porra- interrompi da melhor maneira possível- cara, hoje deve estar com um puta por do sol bonito!
Evandro olhou para mim de maneira confusa, e eu simplesmente disse:
-Para de ficar noiando com o André, ele tá bem, dormindo lá, nada dele.
Vamos lá ver o por do sol.
Chegando no topo da pedra, consegui ver um cenário deslumbrante. Quilômetros de campo aberto, nosso querido planalto central, algumas fazendas mais ao fundo. As montanhas, tao escassas, permitiam todo essa contemplação. Alguns animais pastam cá e lá, mas a vermelhidão do por de sol tirava qualquer atenção para detalhes: O brilho era tao hipnotizante que nenhuma forma era possível de se distinguir propriamente, somente as silhuetas negras. Vermelho, laranja e amarelo se fundiam um a um, para dar origem ao espetáculo de cores ligeiramente semelhantes, mas fantásticas. Meu grande e fiél companheiro cochichou:
-Lindo né? E que silencio maravilhoso.
Eu assenti. E me pergunto porque pessoas precisam sempre noticiar e informar coisas boas, em vez de apenas aproveita-las.
-Sabe como pode ficar ainda melhor?- Perguntei eu.
-Como? Seus olhos se abriram com surpresa e expectativa.
Parei de falar. Entenda a mensagem, cabeção. Ah, como eu queria estar em meu fabuloso lar, e assim pudesse tomar um maravilhoso banho de mar. Daqueles geladíssimos, que, em um dia quente, podem te transformar, mudar totalmente seu humor, te acalmar como nenhum calmante pode fazer. Sinto saudade.
Os pássaros grasnavam... e o melhor... Nenhum barulho de carros. Adoramos fazer shows para poucas pessoas com dinheiro, porque aí podemos desfrutar de um pouco de silencio.
Subi as escadas, nada parecia muito novo.
Via as paredes, semelhantes a de um castelo.
Com seus tijolos sólidos, cinza...
E o cheiro. Era um cheiro misto de frango assado com o famoso cheiro de mofo, ou alguma coisa guardada há muito tempo.
Lá fui eu para o quarto, onde eu poderia descansar. Passei pelas portas, todas elas trancadas, e com plaquinhas de ``Não perturbe``.
Nem é da minha conta, nem conseguiria pensar no que os outros ``famosos`` estavam fazendo por trás das portas, elas eram isoladas acústicamente.
Os funcionários? Mal te viam. Te viam quando lhes era permitido ver. Pois é.
Eu me sentia um cavalo com uma viseira, olhando apenas para frente, focando. Sentindo um pouco de fome, admito, principalmente porque o jantar exalava cheiro pelo hotel inteiro.
Mas... era difícil. Era difícil concentrar com tantos pensamentos e alucinógenos na minha cabeça.
``Estou perdido, qual era meu quarto mesmo?`` Pensei.
Olho no relógio, parece que o tempo todo passa devagar.
Devagar e rápido, risos. Sento no chão e começo a divagar.
Olhe como o tempo é perverso: Ele sempre parece curto, correndo, e você se poe nessa frequência.
Você passa a correr junto. A não querer desperdiçar um segundo. E quando você para de correr, e apenas aceitar o tempo, percebe que ele lhe roubou cenas de teus olhos, roubou memórias da tua parca cabeça. Ele passa, pessoas nascem crescem e morrem. E você olha tudo isso, e tem alguém que olha isso através de você. Nada volta atrás, o tempo não pode ser controlado. E o melhor de tudo: Nós que o criamos. Por que? Invenção besta, deixa todo mundo paranoico.
O celular de alguém toca e me desperta do transe.
-Ei, Gus!
Escuto uma voz conhecida gritar meu nome, e no momento já esboço um sorriso. ``Lá vem aquele viking de novo``. Filho de irlandeses, Damian era o melhor. Guitarrista, com coração acalorado e um metro e noventa de altura,  ele era um bom companheiro de viagens.
-Bora pr`uma rave que tá rolando no sítio de uma amiga!
Eu escuto ``rave`` e meu coração bate mais forte.
-Opa, só bora! Disse eu, eufórico. Estou mais de vinte e quatro horas acordado, chapado, bêbado, o que são só mais 20 horas de diversão?
(Fim do capítulo 1)

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