Oi, ciborgue.
Que? Tá achando engraçado?
Você é um ciborgue.
A diferença é que você ainda não acoplou a máquina ao seu corpo.
Ela ainda está ai, nas suas mãos.
Perceba, ela é o centro de todas as suas atenções.
O mundo está passando ao seu redor, e aí está você.
Bom, que orgulho saber que alguém ainda se interessa por palavras assim.
Você dorme com a máquina. Ela esquenta seu travesseiro, te proporciona paz.
Te tira da solidão. Parece com uma outra máquina, que está se tornando um pouco obsoleta.
Sabe de qual estou falando? Uma em que as pessoas que se apresentam te olham nos olhos
E apenas demonstram sentimentos felizes e justiceiros. UAU, TE LEMBRA ALGUMA COISA?
Sentimentos felizes, pessoas mostrando lugares bonitos, pessoas sorrindo SEMPRE, mesmo não estando contentes ou nem mesmo apreciando o lugar onde estão?
As duas máquinas são a mesma coisa, a única diferença é que essa última é menor, mais íntima. E ela se relaciona mais com você.
Quer uma companhia rápida ou sexo fácil? Há um pequeno programa desenvolvido apenas para isso.
Busca amigos estrangeiros para conversar? Idem. Com ele, você tem a sensação de fazer tudo.
Você acorda ao lado dele, seu primeiro momento do dia é checar se alguém precisa/falou/ se importou com você. E CHECA de cinco em cinco minutos, como um iludido com uma geladeira vazia, ele vai lá, sempre na expectativa de achar algo, mesmo sabendo... não achará nada. Essa dependência é estupidamente real, cada um imerso em suas realidades, não há mais conversas francas, há censuras, há tabus, há coisas que não podem ser faladas em público.
Pois é, ciborgue. Eu também sou um. Mas estou tentando me tornar cada vez menos um, não levo a máquina para ver o mundo, ela fica em casa, a menos que minha mãe precise falar comigo. Mesmo assim, preciso dar um jeito nisso, essa máquina me atormenta os nervos e me deixa ansiosa, é um vilão na minha vida.
Isso é a tecnologia. Isso é o século vinte e um. Substituímos um mecanismo tóxico e altamente viciante por outro, talvez mais potente ainda. Qual será o próximo? O que será que ele poderá nos proporcionar? O quanto vai nos sugar para fora de nossas personalidades e transformar tudo em... automático?
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