domingo, 25 de fevereiro de 2018

Bem vindos a minha casa

Aqui, se ouve televisão das oito da manha até as dez da noite. E notícias trágicas.
Não se houve conversas.
As únicas vozes que se escutam são:
1- Minha avó
Extremamente frequente
Angustiada
Sempre com medo de algo acontecer, paranoica
Fico triste, ela é uma pessoa tao boa
Mas amaldiçoada pelo panico que a mídia e a cidade ``grande`` induziram nela
Ou reclamando
Reclama de tudo, dos detalhes dela nao estarem do jeito que ela queria
Poucas vezes a escuto elogiar alguma coisa, bem raro
Odeia animais
Só deixou eu ter um bichinho uma vez, e foi um hamster
2- Meu pai
Raro mas chato
Infelizmente, fala de política de forma extremamente parcial
Sem analisar, mas xingando e falando mal de políticos
Falando mal de pessoas, de presidente, de senadores
Falando mal de negros, de mulheres
E me tratando como uma criança de cinco anos
Sim, ele nunca soube me tratar como uma mulher
Porque desrespeita mulheres
3- Meu avo
Quase lendário
Minha avó fala tanto que o irrita
E ele bota a televisão alto
Para ela não precisar falar
E está em uma depressão terrível
A ponto de olhar a TV e não expressar nada
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Eu cresci como eles
Vendo televisao
Mas eu via desenhos
E os desenhos eram bem mais interessantes
Que todas essas tragédias que aparecem nas notícias dia após dia
Ouvir uma vez, ao jantar, tudo bem
Mas o dia inteiro, no mesmo canal
As mesmas notícias
E então fecho a porta do meu quarto
Fecho a janela com o transito e barulho dos carros
Ai ai, e é por isso, amigos
É por isso que eu nao gosto muito de ficar em casa
Me sinto mais confortável na rua
Onde posso ser eu mesma
Porque aqui em casa preciso usar uma máscara
Queria muito dizer a verdade na cara dos meus familiares
Mas não tenho energia para isso, são vícios profundos demais
Por isso, saio noite adentro
E preciso voltar ao boxe

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