Saia de tua bolha
Caia, é tua escolha
Vem inverno, morre folha
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Morre, no mais tardar
Para que se lamuriar
Do que ficou atrás
Por tantas árvores frondosas
Que primavera trás
Que podes escalar
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Caia, do conforto da dor
Saia, do teu doce e amargo torpor
Da dor não correspondida
Da tua pálida face
Do teu ácido encosto
Tapas e tabefes
E lhe volta a cor
Ao branco rosto
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Te vira sozinho e desmerecido
Te tomas por vencido
Não teria aprendido
Que estavas preso
Perdido?
Na imensidão
Aturdido
Um anjo fraco, caído
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Libera-te das tuas correntes
Tira as talas
És médico, tira das feridas as balas
Deixa teu sentimento correr
Voluptuosas enchentes
E deixa tua figura surgir
Para olhos complacentes
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Renasce, do fogo consumido
Erga-se, corpo corrompido
Vês teu orgulho ressurgido
E teu semblante erguido
Encara o desafio despido
Viro rua, equina, tenho ido
Por todo o veneno bebido
Quebre os frascos, anjo caído
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E pegue os vidros e cacos
Jogue-os do abismo terreno
E transforme ferida fatal
Em arranhão ameno
Permita-se pensar
Em solícita solitude
Se fira, sare, mude
Se vira, se inunde
Permita-se novamente amar
Repouse os carrascos
Escale o fosso
Torne pó
Esses fragmentos de osso
Cesse
O dilacerar
Estanque
Incessante hemorragia
Não há verdadeira
Utopia
Não se deixe consumir
Dia após dia
Entropia
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