Cheguei a aula, tudo tranquilo, cantamos uma música agradável que o professor mesmo fez. Era algo como :
-Vou dar uma volta no mundo
Na volta que o mundo dá
Cada um é cada um é
No desejo e no sonhar
Me senti... Bem. Depois de entoar essas palavras, primeiro recebidas com estranheza, não cantava em aula fazia muito, senti como se elas estivessem entrando em minha carne, mostrando percursos e caminhos a percorrer nessa imensidão de mundo, e como os encontros são efêmeros, a aula um me lembrou essa questão, e além disso, como cada um realmente é único, como histórias são bizarramente diferentes entre si, e como todos esses corpos que ali se apresentam convergem na aula, um universo no meio do fundo da cidade. Bonita a música, professor. Me remete brasilidade, mesmo sendo metade sérvia e, por vezes, ter problemas de não me achar pertencente, sei que é insegurança da minha cabeça.
Nessa aula exercitamos, mais uma vez, a conduta silenciosa, não se comunicar através da fala, meio convencional entre humanos, e tão mal-interpretado. Houve distrações e, posso afirmar, não estive tão concentrada quanto estive aula passada, mas vou tentar manter a expressão neutra próxima aula.
Fizemos uma roda, e nela demos as mãos, nos aproximamos, afastamos, cantamos. Depois, voltamos
EU ESTAVA FAZENDO ESSE TEXTO HÁ UMA HORA, E PROCRASTINEI, fiquei fazendo questionários de TCCs do pessoal da arquitetura/Eba.
Enfim, voltando aos encontros efêmeros:
Houve a questão de dar a mão para o colega e continuar andando, e vi muitas vezes a quebra da comunicação não verbal, anexada com o desespero de alguns para se juntar, pessoas interrompendo seu fluxos para se juntarem. Quanto a mim, tentei agir da maneira mais natural e segurar na mão do outro. Para mim era mais fácil se atar a desatar, era como se andar com a pessoa, como a pessoa, era entrar em um universo diferente, uma temperatura da palma da mão diferente, um respirar diferente, um olhar de canto de olho, ligeiramente oscilante. Volta e meia me via conduzindo, mas ás vezes era conduzida, e não gostava de tomar a mesma direção dos demais, num movimento que se consolidou circular e pulsante, queria ir contra a corrente. Esse ímpeto de traçar meu próprio caminho me deixou ligeiramente incomodada, especialmente com as ''mãos'' mais autoritárias, que impunham um passo mais acelerado, em desarmonia, e assim meu percebia o quanto realmente pode-se causar atritos entre relações não acertadas, onde não há trocas, concessões, apenas imposições. Enquanto vagava sozinha em um dos momentos, dei um esbarrão de frente com uma garota, e senti como se fosse o momento em que na vida, acontece de machucar alguém sem mesmo perceber, a pessoa simplesmente aparece na sua frente e o freio é difícil de puxar. Idas e vindas, pessoas aqui e acolá, não foi estabelecido o círculo de maneira não verbal, a interferência da voz se fez presente. Depois, a intervenção do outro sobre a sua imagem. Me senti ligeiramente abobalhada, com os movimentos curtos que fizeram em minhas mãos, e como ocorreu esse deslocar, essa mudança na expressão. Entoando a palavra que designávamos a nossos corpos, a minha se encaixou perfeitamente com a pose: Desajeitado. E lá ia eu botar a mão acima do peito e elevar a outra até a cintura, um movimento bem sutil. Foi interessante perceber o outro coreografando a mudança, a intervenção, como nosso ''eu interior'' se julga e é julgado, e como somos moldados não apenas pelos vícios de pensamento, mas pelo olhar do outro, que nos faz tão diferentes. Tão diferentes mas de carne osso e sangue, iguais. Vi colegas mudarem sua palavra primordial, como se a antiga não coubesse mais, como o professor mesmo disse, e Tales antes dele, um rio nunca é o mesmo rio, um minuto depois não somos os mesmos. E via todos aqueles corpos, com trejeitos diferentes, palavras diferentes, julgamentos diferentes. Viva a diversidade. Cantamos enquanto repetiam os gestos, cada um com seus afetos e vergonhas sendo ligeiramente exposto, se libertando de uma timidez talvez, uma insegurança qualquer.
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