Segunda-feira, 23:30. Estava fazendo algo aleatório, quando recebi uma mensagem de uma pessoa que eu estimava muito, e depois me machucou na mesma proporção, me deixou mal.
Ela disse que lia meus textos. ALGUÉM LÊ MEUS TEXTOS! Meus olhos se encheram de lágrimas, ela disse que éramos amigas, mas que reconhecia a pressão que exerceu sobre mim. Ela pediu desculpas, por tudo que fez a mim. Éramos crianças, imaturas, mas palavras me feriam como espadas. Mas suas desculpas fizeram-me perceber que, no final, ela nao era um monstro. Nenhuma pessoa era. Elas faziam isso sem perceber. Quarta-feira, 22:45, dia chuvoso. Estava eu marcando minha retirada de título de eleitora quando recebo uma mensagem... de uma garota que eu pensava que me repudiava. ela pareceu triste de coração por ter deixado uma pessoa como eu tao infeliz na pré-adolescência. Eu fiquei perplexa, nunca achava que ela também pediria desculpas. E então veio outro colega meu, que ficou sensibilizado pelo texto, e também se desculpou.
Eu sofri. Eu me senti indesejada, desequilibrada, perdida. Tinha vontade de sumir. ( eufemismo). Eu fui vítima de comentários maldosos. Eu chorei no escuro quando ninguém ouviu/ viu nada. Eu pedi para a coordenadora para que parassem de me zoar, me diga se adiantou? Mas eu também fui um monstro. Eu apareci como vítima, agora lhes mostro a outra face da moeda, ninguém é inocente. 2013. Era eu, e uma sala cheia de adolescentezinhos maldosos. Eu precisava mostrar que nao era mais aquela garota insegura e que conseguia me enquadrar. O que adolescentezinhos fazem? Zoam os outros. As pessoas ainda me zoavam muito raramente, eu já estava ficando ligeiramente mais esperta, menos idiota, menos estranha. Mas aí veio esse garoto. Ele tinha uma aparência peculiar, olhos azuis, mas de um azul meio doentio, quase branco, uma cara muito inchada, olheiras roxas, cabelo ensebado castanho claro, uma voz fina de doer os ouvidos, uma barriga enorme, canelas finíssimas que não combinavam com nada. E então começaram a zoa-lo, chamavam-no de ET. Eu comecei a fazer o mesmo. Eu fiz um meme com o rosto dele, dizendo algo como : vim de marte, te levo para marte, algo do tipo, não me lembro bem. Nós zoávamos muito o garoto. Nós riamos e achávamos a coisa mais engraçada do mundo, e todos nós zoávamos, sem exceção. Eu ria, gargalhava, ele tentando responder aos insultos, que nós julgávamos fracos, na sua maneira desastrada, ele tentava esboçar uma resposta, mas não deixávamos, éramos muito cruéis. Como eu, ele tentava se encaixar, ele tentava, ás vezes, fazer algo legal para ser aceito, mas não adianta, sua aparência e seus trejeitos foram implicitamente rejeitados pelo bando. Um dia, houve um show de talentos em minha escola, e ele foi cantar Bohemian Rapshody, da banda Queen. Estava sem música no fundo, e eu nem me lembro direito dele cantando, apenas eu rindo, querendo que alguém gravasse aquela figura comica. Ah, digo mais: Falavam que, por ele ter a barriga muito inchada, tinha vermes. Barriga de verme, ET, esquistossomose, Lerdao, entre outros apelidos carinhosos. A pessoa saiu da escola. Hoje eu enxergo o quão ruim fomos para ele, pois eu sofri o mesmo.
Agora imagine esse garoto. O quanto ele deve ter chorado no escuro. O quanto ele ainda tem as cicatrizes, o quanto ainda dói relembrar o quanto foi rejeitado, o quanto ele tentou para ser aceito. E saber que eu, além de outros, fui razão disso, é devastador. Fazemos o mal sem perceber, esse é o pior. Não sei de seu paradeiro.
O Homem, que, nesta terra miserável, Mora, entre feras, sente inevitável Necessidade de também ser fera.Uma das garotas que me machucou muito Foi zoada demais quando era mais nova.Eu fui apedrejada emocionalmente. Eu tinha sede de sangue tanto quanto ela.Eu descontei isso nesse garoto.Hoje esse garoto pode estar descontando em outras pobres criaturas.Palavras cortam mais profundamente que espadas, já dizia George R. R. Martin.Pais, eduquem seus filhos. Estabeleçam limites em suas brincadeiras, ensinem-lhes amor, simpatia, generosidade. Conheçam seus filhos. Eles podem estar sendo maltratados, e podem maltratar. E podem marcar alguém por muito tempo. E isso dói. Dói em mim, dói na garota que citei aqui, dói no garoto que saiu da escola pois não aguentou tamanha dose de maldade.
O meu texto anterior, onde relato o que passei, as dores que enfrentei, alcançou proporções que eu não esperava. Quero que com esse, seja o mesmo. Por favor, passe adiante essa mensagem, mostre o quanto a educação é vital, impeça que esse ciclo que deixa tantos feridos por aí, ( mesmo que no escuro, esses são os que sangram mais), se perpetue.
Desculpe, Luiz Felipe.
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