domingo, 2 de julho de 2017

Cachoeira

Elas se formam, saindo dos seus canais lacrimais
Pensávamos que havia secado, por chorar demais
Uma quantidade ínfima de água começa a se acumular
Forma uma pequenina poça
E ela não quer se romper, quebrar
Estão juntas, as moléculas
Agarradas, apegadas umas ás outras
Aumentam em grande proporção 
Juntas como uma grande esfera ululante
Cristalina, mas salgada
Triunfante
Decidida, molhada
Ao enviar mais fluido para o grande carregamento
Acontece o grande evento, o arrebento
E poça torna-se rio que torna-se mar
Não é possível impedir, barrar
Tamanha perturbação
No silencio mais profundo, elas se vão 
Não mais rio, não mais mar
Inundação
E elas correm, elas despencam
E morrem, em pequenas formas circulares
Mas ninguém tem piedade, ó cachoeira ambulante
Tao melancólica, inquietante 
Seu ruído perturba os ouvidos
De quem não sabe mais ouvir 
Seu encanto não abala mais
Não conseguimos sentir 
Suas águas são perturbação 
Sua correnteza, perdição  
Cuidado, pode nos machucar 
Um desavisado pode se afogar
Alguém, traga um lenço, rápido 
Para suas lágrimas secarem
Para seus rios colapsarem
Para seu sentimento virar pó  
E seu leito, secar, virando duro sedimento
Ó Cachoeira ambulante, suas águas, para nós
Pequenas almas mundanas e sedentárias
Serão interrompidas de nascente á foz
Ó Cachoeira ambulante, pare de fluir
Nós, personalidades solitárias
Pedimos solenemente
Permita-se ruir
Suas lágrimas são desnecessárias 

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