quinta-feira, 29 de junho de 2017

Lágrimas Doces

para ouvir com: https://www.youtube.com/watch?v=fVIh1MFWDVw
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Se tem alguém lendo isso agora, tente entender meu lado, tente compreender. Acho que vocês estavam com saudades dos textos tristes, pois bem.
Nesse aqui não tem sangue, não tem sexo, não tem risos.
Somente lágrimas que ainda não escorreram, talvez daqui a pouco.
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Ontem a noite eu fiz um bolo de cenoura. Minha mãe havia comentado que era seu favorito, e eu adoro cozinhar doces. Mas a cozinha da minha casa não é minha. É da minha avó. E ela não gosta que eu mexa nas coisas dela. Acha que eu sou um desastre na cozinha, tanto que um dia a mesma comentou que "ELA NÃO SABE FAZER NADA". Essa mesma avó minha apenas não me ensinou. Ela dizia que eu precisava olhar ela fazendo e fazer igual, sabe, sem prática nenhuma, sem realmente aquela afetividade e o desejo de me ver prosperar. Ela simplesmente dizia que eu deveria aprender passivamente, no meu canto, e daria certo.
Desculpe.
Eu não funciono assim.
Mas eu também não sou idiota.
A comida de todo "vagabundo" é o famoso miojo. Aprendi que era apenas botar água para esquentar e tacar o negócio lá dentro, esperar três minutos, está pronto. Fiz muitos miojos, ousava picar umas salsichas, botar queijo, feijão, inúmeros condimentos. Em um belo dia de ano novo, não me lembro de que ano, com fome, boto um ovo para ferver em uma panela. E me encanto, pois depois de esperar, consigo comer o ovo cozido, genial. Do ovo cozido, para ovo frito, mexido. Essa pessoa, minha segunda mãe, me viu e achou um absurdo eu NÃO SABER FAZER NADA. Ela me ensinou a cortar legumes, a fazer macarrão, omelete, limonada ( que, desculpa Josy, FICA AMARGA SIM HAHAH). Enfim. No início desse ano, eu comecei a ousar um pouco mais, minha avó viajou e eu tinha toda a cozinha só para mim. Procurando receitas no google, eu consegui me virar, comprava os ingredientes e fazia a festa. O chato era ter que cozinhar E lavar toda a louça depois. Fiz estrogonofe, panquecas de carne e queijo, macarrão ao sugo e a bolonhesa, mousse de morango, um pavê delicioso de três camadas, dentre outras coisas. E eu fiquei feliz com minhas criações, pois eu deposito amor em tudo que eu faço, seja escrever, seja desenhar, seja cozinhar. Dentre os três, o que eu mais quero agradar é a cozinha, alguma razão no meu interior
*Lá vem você me interrompendo de novo, cada vez que me chama meu coração dispara, medo , angústia, não sei*
Alguma razão no meu interior quer que as pessoas gostem, que me incentivem, tanto quanto fazem com meus desenhos. E eu tento ser melhor, passo a passo em direção a cozinhar decentemente.
Sei que isso é irrelevante, vamos todos morrer e isso vai morrer comigo, mas, sei lá, por enquanto isso é importante para mim, e apenas para mim.
Voltemos ao presente. Ontem eu fui fazer um bolo de cenoura, e com a ajuda de meu fiel amigo cozinheiro, fiz um bolo de cenoura com calda de chocolate. Tive que fazer de madrugada, para minha avó não reclamar de eu estar usando sua cozinha. Não adiantou muito, liguei o liquidificador, e , como uma bomba relógio, fiquei aflita para quando ela aparecesse e gritasse. E ela o fez. Mas isso não me impediu de fazer a droga do bolo. E acho que ficou muito bom. Queria que minha família visse e comesse e visse que eu não sou um fracasso total, que pelo menos de dona de casa eu sirvo. Mas acho que depois dessa, eles me vendem como dote para algum fazendeiro no interior do Brasil, porque o que veio a seguir partiu meu coração, de verdade.
Acordei, vi meus avós comendo café da manha. E eu digo:
-Podem pegar um pedaço, se quiserem.
A minha avó olha para meu bolo e fala:
-Você cobriu esse bolo com o pano errado! E começa a dissertar sobre a ordem dos panos.
Ela me faz pegar o pano certo, e, após isso, empurra meu bolo para o canto da mesa. Simplesmente assim. Tudo bem.
Mais tarde, voltando para a cozinha, tento socializar novamente, em uma tentativa desesperada de socializar e interagir com a mesma, distante há muito, mas ela que inicia o diálogo:
-Mariana, coloquei seu bolo na geladeira.
E eu, tolamente esperançosa, pergunto:
-E então, vovó, comeu para ver se está bom?
E ela responde:
-Não tive tempo, fui a rua.
Mas teve tempo para botar o bolo na geladeira.
Tudo bem, penso eu. Talvez ela não goste de bolo de cenoura. Mas quem não gosta de bolo de cenoura?
Para me deixar pior, ela diz:
-Mariana, estou só esperando você acabar com esse bolo, para eu poder fazer o MEU bolo de milho, porque a sua tia me deu milho, e blábláblá.
Minha avó faz esse maldito bolo de milho desde que eu tenho dez anos, só a junção das palavras "bolo" e "milho" me faz ficar enjoada. Sério. Meu estomago está revirando agora.
Acabar com meu bolo.
Eu.
Que tinha feito quase que para eles.
Que queria qualquer coisa, um elogio que preste, que não ouço há muito.
Muito mesmo.
Um suspiro de afirmação me faria feliz.
Qualquer. Coisa.
E aqui chegamos ao ponto:
Eu fiquei mal.
Eu estou mal.
Por ser uma falha para minha avó.
Por ela não confiar em mim.
Sei que eu não devo esperar aprovação de ninguém, mas ela me criou.
E eu queria ser motivo de orgulho, para...
...Eu me sentir menos pior com relação a minha vida?
E é como se ela tivesse me abandonado, em um momento simples que eu desejava a opinião dela.
Pode ser idiota, pode ser dramático por minha parte.
Mas estou sentindo não a habitual raiva por ela, mas... tristeza. Tristeza profunda, não aquela superficial que bate em você quando alguém morre, ou quando escuta uma música triste, não. É uma tristeza que vai sendo construída aos poucos, moldada, e tem gosto de falha, de fracasso.
Não caíram lágrimas.




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