domingo, 11 de junho de 2017

Como eu faria

Chegaria á noite no banheiro, feliz, pois a noite sempre me acolheu mais.
Fecharia a porta, quando todos fossem dormir, para não ser atrapalhada.
Sentaria no vaso sanitário, olharia para o teto, pensaria em tudo que poderia ter sido e não foi.
Pegaria a gilette amarela que tem em cima da mesa. Olharia para ela, para seus detalhes na lateral, para sua lamina, por final.
Passaria suavemente a lamina, na vertical, pela veia do meu pulso direito, pois eu sou canhota. Se não fosse desse jeito, iria mais forte. Se doesse muito, morderia o lábio, fecharia os olhos, talvez eu chorasse, talvez não.
Depois, cortaria o pulso esquerdo. Sei que uma hora eu ficaria com raiva, pois não estaria cortando certo e me estraçalharia com a lamina, sei disso.
Não quero ser uma ‘’vitima de tentativa de suicídio”, não.
Se for, precisa ser para valer.
E quando o sangue estiver brotando dos meus pulsos e eu puder relaxar no chão do banheiro em felicidade e torpor, eu vou indo embora desse mundo.
Oito horas depois minha avó terá acordado.
Ela vai gritar para eu sair logo do banheiro.
Meu pai vai tentar falar comigo, tentar fazer alguma brincadeirinha sem graça que me irritaria mais que tudo.
Mas eu não escutaria mais.
Dez horas depois, eles começariam a ficar, talvez, preocupados.
Por eles não poderem acessar o banheiro, não por eu não sair de lá.
E, depois de um tempo que eu não sei quanto, mandariam arrombar a porta, e lá estaria eu, estatelada no chão, sossegada e dormindo para sempre.
Aí então minha avó diria que eu sou maluca, doida.
Meu avo ficaria meio em choque, mas depois veria televisão normalmente.
Meu pai choraria e tentaria entender, mas acho que ele aceitaria, visto que quase não se comunica comigo direito.
Embrulhariam meu corpo em alguma manta, (eu espero que leiam meu blog, quero ser cremada), e me levariam para o crematório, e haveria meu enterro. 
Espero que as pessoas não falem bobagens sobre quem eu era.
A Mariana era uma pessoa muito doce, gentil, engraçada, sim, MAS ELA ERA QUEBRADA.
Ninguém a ajudou quando ela precisava.
Fica a dica.

PS: Não vou fazer isso, não hoje, não se eu estiver adormecida, vou fechar o notebook e voltar a dormir

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