sábado, 17 de junho de 2017

Dois dias fora

“Festa”. Somente o nome é legal, remete a coisas boas, imagens de pessoas rindo, com suas bocas escancaradas e copos de bebida nas mãos, música ‘’boa”, ( entende-se: da moda), seus “amigos”, e MUITA DIVERSAO.
Fui chamada para a festa surpresa de uma colega minha da faculdade, e lá fui eu. Primeiramente, fomos ao bar, foi legal, pois eu estava animada com algum resto de serotonina que permaneceu no meu organismo, e nós cantamos e foi realmente legal. E então eu fui para a casa dessa colega, deitei em seu sofá e dormi.
No dia seguinte, iríamos fazer uma festa surpresa para ela. Essa colega é muito séria e ás vezes eu fico meio intimidada por suas atitudes; é uma pessoa maravilhosa, mas não é de sorrisos fáceis ou brincadeiras como eu sou. (normalmente, pois agora estou mal). Enfim, eu apenas senti que ela achava minha presença lá desnecessária, ou que não estava à vontade. Se eu perguntasse a ela, a mesma negaria, “absolutamente não, Mariana, sua presença me faz muito feliz.”
Eu estava na casa dela, ela fora com seu namorado, e eu, o pai dela, a namorada dele, os filhos da namorada dele e o irmão da garota, todos estavam lá comigo. Eu desenhei a filha caçula da mulher, nós almoçamos, e... Eu não tinha muito que fazer, eu jogava no computador. O tempo todo. Sério. Se tem uma coisa que eu fiz, foi jogar.
Estou com um vício terrível em tecnologia. E o problema: Eu não estou gostando disso. Eu prefiro muito mais ler a ficar vendo coisas inúteis ou falar com gente que não se importa. Mas eu não estou tendo concentração o suficiente para ler, não estou tendo ingredientes para moldar a minha criatividade, não. O máximo que consigo fazer é escrever essas letrinhas pretas em fundo branco para tentar... sei lá, tentar me desafogar.
-Pausa para checar informações desnecessárias que apenas consomem meu tempo e não acrescentam nada-
Fomos à festa surpresa da garota, a abraçaram, vieram tios, amigos, tudo, fizeram a decoração que ela mais gosta, tinha doces e salgados e bolo e bebidas e tudo muito perfeito. Eu não conhecia nenhum dos amigos dela, e , como sabem , estou de saco cheio de tentar bancar a super social como eu sempre fiz, chegar conversando, chegar sendo a Mariana feliz. Não, a Mariana feliz está do outro lado dessa dimensão, silenciada, ou adormecida. Ou muito mutilada, muito machucada para se expor novamente.
No lugar dela, está a Mariana quieta, a Mariana (mais) estranha, a Mariana triste. Essa Mariana foi para a festa, e ficou lá, prostrada, olhando para todas aquelas pessoas felizes, todos aqueles sorrisos, toda aquela diversão, e queria estar Lá com eles, ser mais um entre tantos. Mas não. Eu estava destacada, sentada um pouco mais longe, mexendo no meu celular. Um bloqueio desceu em mim e não conseguia me intrometer nas conversas alheias e socializar. Apenas não conseguia.
Depois de um tempo nisso, chegaram três colegas meus da faculdade. Eu estava tão destruída que, sentada ao lado deles, não tinha energia nem para me prostrar sentada, e deitei no colo de um deles. E esse me respondeu: - Não vai ficar na bad não , Mariana, levanta. Eu queria ter respondido algo interessante, mas nem poderia dizer que eu tenho depressão de verdade, pois eu ainda não fui ao médico. MAS IREI DIA TRINTA, IEI. Enfim, conversando com um amigo ( esse sim é um amigo), fiquei tao triste mas tao triste que estava a ponto de começar a chorar lá mesmo. Novidade? Não né, já parei de tentar conter minhas lágrimas sempre que elas ameacam mostrar a minha destruição interior ao mundo.
Eu estava bem triste, como ultimamente estou, e resolvi observar os amigos dessa garota. Eles a cercavam e a amavam, e eu estava em um estado nem de inveja pois eu sei que se eu tivesse uma vida desse jeito , provavelmente ainda seria fodida da cabeça e espantaria todo mundo, o problema não é com as pessoas, é comigo mesmo, já aceitei.
Havia uma garota que me chamou a atenção. Ela tinha óculos de fundo de garrafa, um vestidinho preto com rosas que seria algo que eu usaria, e cabelos castanho claros cacheados. Ela pulava, e falava alto, cheia de energia, e dizia, com a voz histérica: -ESTOU TAO ANIMADA, ESTOU TAO FELIZ, VAMOS DANCAR, VAMOS LÁ- e começava a dançar de uma maneira meio estúpida, a meu ver, meio desengonçada. Mas ela não estava nem aí, ela estava gostando e isso que importa. Ela tinha energia. E ela deve ser da minha idade ou até mais velha. Se me botassem para dançar no meio, eu sairia correndo para achar a cadeira mais próxima para me afundar languidez e no repouso das pessoas sentadas.
Primeiramente eu achei essa garota meio irritante. Mas depois achei-a normal e percebi que eu já fui como ela. Eu já fui a animada, que as pessoas elogiam e que se arruma. Já fui essa garota, que emana brilho e felicidade e pula e dança mesmo se estiver passando vergonha, ela não liga, ela só quer se divertir. Já fui assim, Hoje eu praticamente não sei mais me divertir, não mais. Desenhar se tornou uma necessidade, jogar se tornou uma necessidade, mas me divertir mesmo, não sei. Meus colegas até podem me fazer rir durante dois segundos, mas depois desse súbito acesso a uma sombra do resquício da minha felicidade de outrora, tudo volta a ficar negro e eu lembro que estou mal.
E assim fico eu, me sentindo fora de tudo, não pertencente, e começo a brincar de massinha com uma das criancinhas, nós brincamos de pique, gastei um pouco de energia e fiquei ligeiramente menos triste ao escutar as risadas deles. Voltei para cima, vimos um filme (eu e as duas crianças), e pouco a pouco todos caíram no sono. Acordei cedo, tomei um café legal, dormi um pouco, me levaram em casa em uma magnifica carona, dormi mais um pouco, cheguei em casa, dormi mais um pouco, joguei, fiquei mal, e estou mal até agora.
[Muita coisa aconteceu desde que eu escrevi esse último parágrafo. Eu fui ao bar com um amigo (sim, esse é outro amigo de verdade, embora more longe, amo a companhia dele) e bebemos cachaça de mel, eu disse que queria ver o caos, e isso aconteceu, passei mal e tudo mais. FOI LINDO].


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