segunda-feira, 23 de agosto de 2021

texto duda

''você surfa bem para uma mulher'', ''belo backside'', esse e outros dizeres compõem um cenário nada agradável para quem deseja se equalizar na imensidão azul: Esta é a temática do trabalho da artista visual Duda Silf, que busca, através do jogo de palavras ousado, questionar o deslocamento ás margens que o corpo feminino ainda é submetido no Surfe. Democrático, porém o modo como os corpos ainda são dispostos, retratados e observados ainda denotam objetificação. 

Como estar em seu oásis, o local em que o indivíduo não necessita pensar nas inúmeras tarefas que muitas vezes vão para além de seu alcance, e precisar ser julgado e encaixado em estereótipos até nas situações mais unusuais? 

Por isso, Duda Silf se apropria do estereótipo, ao olhar diretamente para a câmera, como se indagasse ''é aqui que quer que eu esteja?'', esboçando a problemática de que este local talvez seja a instância de conforto ao olhar patriarcal, em que aos homens estariam reservadas as aventuras, ás mulheres, o lar. E mesmo no ambiente descontraído que é o Surfe, o discurso de liberdade se perde enquanto mulheres são submetidas a comentários, olhares e vivências desconfortáveis advindas destes sujeitos. 

“O apelo de esportes que envolvem ação, risco e natureza tem ligação com o sentimento de dominar o ambiente e controlá-lo”, explica a psicanalista Joana de Vilhena Novaes. “E a cultura da virilidade tem muito a ver com essa relação com o poder de dominação.”

O surfe ainda é local predominantemente masculino. Por isso, Duda se apropria de uma estética analógica, em uma mistura de pin-up com retrô, estabelecendo uma crítica e paródia deste corpo-mulher-objeto tão desejável esboçado pela mídia, a mulher sempre de biquíni, com enfoque muito maior em seu corpo que acrobacias, diferentemente dos homens. 

Através de sua perspectiva cinematográfica, quebra a quarta parede, como em desafio ao espectador, uma conversa silenciosa que expressa em minúcia a indignação, a frustração de se deparar com estes afiados incômodos dia após dia, em seu santuário de água salgada.

É até amedrontador. Ainda mais no universo de Maya, que enfrenta o universo de onda gigante, tem que disputar mesmo, e na maioria das vezes os caras te olham com cara feia, tipo “o que você tá fazendo aqui?”. Como se você estivesse invadindo o ambiente deles.

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