quinta-feira, 26 de agosto de 2021

A poética de Gabriel França

 Gabriel é o orvalho que amanhece nas árvores após uma noite fresca. Uma brisa de verão por entre territórios desolados,a poética de Gabriel de França Caetano é habitar corpos deixados a mercê do tempo e lhes oferecer mais um sopro de realidade, como em Esse é um ótimo lugar para esperar as folhas caírem (2021).

Gabriel propõe uma apreensão paralela do tempo, para além do frenesi constante e irrisório do cotidiano, o olhar que o artista provoca é o de procurar dentro de si a lupa, esta para enxergar o pólen perdido das asas da borboleta. Gabriel propõe percursos, explorar narrativas, que quando não facilmente preenchidas fisicamente, o são poéticamente, ocupando brechas e silêncios com sua subjetividade que aquieta, mas floresce. 

Gabriel é uma viagem a um tempo de contemplação melancólica, de nutrir-se de seus próprios pensamentos como um sistema de motor silencioso, sempre alimentando uma lareira interior com a curiosidade característica das crianças. Gabriel é o admitir-se criança, nunca ter deixado de sê-lo. Gabriel é o não engessamento do corpo adulto, como em Benjamin:

O autor constrói uma crítica contundente à pretensa experiência vangloriada pelos adultos e ao fato destes se referirem aos mais jovens não raramente como inexperientes. Por isso, o titulo está entre aspas, pois se trata de uma ironia para com a concepção moderna de experiência. A “experiência” do adulto é inexpressiva para o jovem, pois ela é tecida em uma rede de dogmas, verdades e pretensões que se ajustam a uma posição autoritária, individual e cética.

Gabriel é o esperar, é o apreender o mundo com olhos que não buscam olhar através, passar pelas instâncias físicas e metafóricas que lhe aparecem em seu percurso, mas esculpir poéticamente, conceber e acolher as formas para que estas ajudem a calcar seu caminho.

Gabriel é despir-se de carcaças e couraças, é o corpo desnudo que encarna a performatividade de um pinheiro, oscilante ao vento, é o saber que em qualquer momento podem vir pedras e serras para lhe desfocarem o sorriso, mas seu corpo-convite encara este Outro e lhe sussurra: ''Aqui estou, este sou eu.'' Gabriel é o convite ao imaginário, a um procedimento experimental de não apenas esboçar os outros corpos que ocupam as diversas realidades, mas mimetiza-los.

Gabriel é o convite a escuta ativa, é fôlego que habita por entre as árvores, algumas derrubadas, outras repousando firmemente, suavemente balançando com a brisa do verão. Gabriel é o convite a olhar o corpo através da fantasia, do lúdico, é o preencher espaços fisicamente para perceber a dimensão áurea de sua poesia, o silêncio como potência para escutar e abraçar os seres que constituem o entorno, sejam animados ou não. 

Gabriel é a mão que se estende, como em Oferta ( 2019) , é a leveza de uma garoa de outono que beija o solo, perguntando: ''Deseja refrescar o rosto? '' Se não, deixe que os seres inanimados, os animais habitem o corpo poético, Gabriel é a encarnação do Sátiro que concebe a grama, as árvores e o céu como seus parentes, seus íntimos amigos. Como uma aranha tece sua teia, Gabriel tece seus trabalhos com o cuidado de um exímio artesão, a teia firme e brilhante com as gotas de chuva que nela se prendem, forte como as pontes de hidrogênio que estruturam a molécula da água.

Gabriel é uma pergunta, ''Você gostaria de passear sobre as nuvens?'', de olhar a paisagem florescer, murchar, de observar os tons de amarelado e rosado que são trazidos com o pôr do sol, de perceber as nuances da fala, dos olhares, dos sons e sentidos. Gabriel é o espaço entre, a contemplação não utópica do meio, as inseguranças e medos embalados como em finos envelopes de seda em sua psique, proporcionando as espectador um pouco das reflexões, ás vezes tão cristalinas e claras como um suspiro na superfície, outrora um profundo mergulho acerca da perfomatividade de nossas instâncias corriqueiras, acerca do habitar.

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

texto duda

''você surfa bem para uma mulher'', ''belo backside'', esse e outros dizeres compõem um cenário nada agradável para quem deseja se equalizar na imensidão azul: Esta é a temática do trabalho da artista visual Duda Silf, que busca, através do jogo de palavras ousado, questionar o deslocamento ás margens que o corpo feminino ainda é submetido no Surfe. Democrático, porém o modo como os corpos ainda são dispostos, retratados e observados ainda denotam objetificação. 

Como estar em seu oásis, o local em que o indivíduo não necessita pensar nas inúmeras tarefas que muitas vezes vão para além de seu alcance, e precisar ser julgado e encaixado em estereótipos até nas situações mais unusuais? 

Por isso, Duda Silf se apropria do estereótipo, ao olhar diretamente para a câmera, como se indagasse ''é aqui que quer que eu esteja?'', esboçando a problemática de que este local talvez seja a instância de conforto ao olhar patriarcal, em que aos homens estariam reservadas as aventuras, ás mulheres, o lar. E mesmo no ambiente descontraído que é o Surfe, o discurso de liberdade se perde enquanto mulheres são submetidas a comentários, olhares e vivências desconfortáveis advindas destes sujeitos. 

“O apelo de esportes que envolvem ação, risco e natureza tem ligação com o sentimento de dominar o ambiente e controlá-lo”, explica a psicanalista Joana de Vilhena Novaes. “E a cultura da virilidade tem muito a ver com essa relação com o poder de dominação.”

O surfe ainda é local predominantemente masculino. Por isso, Duda se apropria de uma estética analógica, em uma mistura de pin-up com retrô, estabelecendo uma crítica e paródia deste corpo-mulher-objeto tão desejável esboçado pela mídia, a mulher sempre de biquíni, com enfoque muito maior em seu corpo que acrobacias, diferentemente dos homens. 

Através de sua perspectiva cinematográfica, quebra a quarta parede, como em desafio ao espectador, uma conversa silenciosa que expressa em minúcia a indignação, a frustração de se deparar com estes afiados incômodos dia após dia, em seu santuário de água salgada.

É até amedrontador. Ainda mais no universo de Maya, que enfrenta o universo de onda gigante, tem que disputar mesmo, e na maioria das vezes os caras te olham com cara feia, tipo “o que você tá fazendo aqui?”. Como se você estivesse invadindo o ambiente deles.

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

artista pesquisador pontos

'' Isto pode indicar um momento particularmente favorável para a área de artes na universidade, uma vez que um número expressivo de artistas atuantes junto ao circuito de arte pode trazer, para dentro da academia, um fôlego de trabalho urdido em outras instâncias da interface arte/sociedade.''

Em tempos de descarte e descrédito, podemos dizer que a pesquisa em arte no Brasil sobrevive, em padrões filosóficos e críticos incríveis, mediante a ausência de recursos. Se tivéssemos a cultura das galerias mais enraizada, como na Inglaterra, talvez tivéssemos muitos mais artistas despontando e conseguindo viver de suas pesquisas, aulas, dentre outros. Cabe a nós saber se adaptar ás dancinhas tik tok.

''Atenção: não há aqui qualquer hierarquização apressada: trata-se de apostar na presença da arte a partir da universidade como um caminho de ação possível – e potente – para os artistas contemporâneos, e então reforçar as possibilidades de intervenção que se abrem'' 

Muitas vezes o discurso da arte contemporânea a partir da universidade acaba caindo, sem perceber ( ou percebendo) na hierarquia intelectual, são lugares finos e quebradiços que precisamos nos atentar. Como pensar o objeto de estudo? Como pensar oa lugares a serem ativados, e quais?

sa -se a partir de uma mediação diversa daquela a que estamos acostumados dentro do circuito de arte habitual: trata-se do aparelho acadêmico afirmando sua presença, impondo-se como interface concreta – à qual devemos especialmente atentar – ao conjunto de caminhos a partir das quais se apreendem as questões artísticas. Logo, é preciso pensar onde residem – e quais seriam – suas especificidades. 

''Se a universidade é parte de um circuito mais amplo, pertencente ao sistema de arte, não se pode perder de vista a dobra própria que constitui e deflagra neste circuito: aí temos que estar atentos, se queremos que as ações no campo da produção artística, crítica, teórica e histórica geradas na universidade produzam algum efeito de intervenção no quadro geral dos saberes, na dinâmica ampla.''

Acredito que um dos nossos papéis, enquanto universidade pública, gratuita e de qualidade é incentivar a circulação da arte nos mais diversos meios, principalmente entre os que não se denominam ''artistas'', e estabelecer um olhar crítico sobre o meio, abrindo brechas e oportunidades para outras formas de apreensão do mundo, para a concepção democrática que qualquer ponto de vista é valioso e único. É necessário que continuamos a incentivar a produção de arte independente de galerias e instituições, que ressaltemos cotidianamente que a arte, a poesia, a música, a dança, nos nutrem de vida, é o que mantém e auxilia nossas máquinas desejantes, cito Deleuze, a continuar em movimento.

'' Enquanto habitantes do polifacetado mundo contemporâneo, estamos habituados a diversos deslocamentos, e a cada vez (praticamente passo a passo) somos capturados por diferentes circuitos: é em uma multiplicidade de redes que nos deslocamos.'' 

Pelo menos eu me considero Artista Lutadora Pesquisadora Performática da Vida, Curadora, Editora, Poeta, Potência desejante ao exponencial infinito do espectro virtual, corre tinta pelas minhas veias, por isso se me esfaqueiam, a pessoa fica coberta de tinta e fica inspírada. 

Sobre ser um artista pesquisador não significar necessariamente ser um artista do circuito artístico vigente: Tranquilamente, assim como um artista de rua pode não se considerar um artista pesquisador universitário, ou um artista de palco pode não se considerar um teórico, ou um artista que pinta flores e está imerso no circuito e detêm grandíssimo capital acumulado e vinculado a sua obra, uma coisa não exclui a outra.

'' espaços de conexão que permitam aflorar as especificidades dos diferentes lugares, para nesse jogo evitar o enclausuramento em um ou outro lado'' Justamente, meu evento, que mediei com ajuda de Bruno Oliveira, curador e artista, foi pensado com esta perspectiva: englobar música, tatuagem, arte política, graffiti, pintura, gravura, performance, dentre outros. É nosso papel como artistas-pesquisadores encontrarmos as difíceis portas que estão espalhadas e escondidas no circuito e fora dele, trazendo narrativas, dialogando e tecendo firmes redes.

Sobre a arte que se mantém por trás dos muros, mal sabemos por onde começar, uma vez que a escola de Belas Artes, junto com a de Arquitetura, foi transferida para a Ilha do Fundão, local espacialmente desfavorável para a integração democrática e o convite aberto ao público, que, sim, se dá , mas em minúcias, uma vez que estamos distantes de polos culturais e até habitacionais. Outro ponto é como o discurso de arte na universidade ainda é ''difícil'', de repertório e desenvolvimento contínuos, que envolve um trabalho no olhar que muitas vezes não é exercido em maior escala, o que leva a incompreensão da pesquisa do artista, e consequentemente, de sua obra.

A arte acadêmica não se deve manter apenas na academia, decerto. Muitas vezes ela o é, mas muitas vezes o artista parte de seu ponto de vista, de sua localização, e a academia lhe confere legitimidade e embasamento para adentrar a construção de sua rede de significados. Como Basbaum defende, a academia como um portal para poder ter acesso a esses outros circuitos, a estabelecermos conexões e vínculos dentro e fora do circuito, e mais, como artista presente na academia desde 2017, confesso que o que me é mais valoroso nessa trajetória são os vínculos, contatos e vivências que a academia me proporcionou, além de ter alargado meu campo de visão a proporções globais. Inclusive sinto falta de ir tomar um cafezinho no intervalo das aulas, conversar com os colegas que estão desenhando as árvores e o cenário do jardim interno do prédio da Reitoria.

Acredito que o nosso papel como artistas pesquisadores é auxiliar, sempre, na integração da academia e sociedade, na utilização de discurso que o outro poderá facilmente apreender, que este Outro seja perpassado por afetos, por situações subjetivas que lhe permitam experienciar o mesmo ou parecido com que o artista pensou, que ele possa nutrir uma conversa descontraída acerca da dúbia noção de arte-pixo, das polêmicas envolvendo arte performática, da noção errônea de artista gênio, etc. Que o artista pesquisador ajude, auxilie no processo artístico de pessoas de fora da academia, proporcionando um pouco do sopro subjetivo e libertador que a arte pode conferir, uma discussão , uma palavra, uma imagem, uma conversa, uma vivência, uma experiência.

Se o que mais incomoda o artista pesquisador é a legitimação institucional burocrática, que ele vá fazer administração. 

''assim como o esforço em produzir um desvio do circuito que se propague pelos meandros da universidade certamente conduzirá uma corrente de ar que poderá dissolver certos hábitos normativos próprios do espaço acadêmico, que frequentemente impedem a emergência de processos''

 É sobre isso, sobre talvez ser interessante estabelecer a crítica institucional e chacoalhar instâncias normativas acerca do que seria arte nos prédios de engenharia, medicina , filosofia, etc! É sobre o Fauno de Gabriel França habitando o espaço, tocando sua flauta, instigando a todos se perguntarem o que um ser mitológico faz pelo ateliê de escultura e jardins, é a pedra que se desfalece de Vivian se arrastando pelo concreto, é a cadeira gigantesca de Roger no bandejão, cadeira que ele mesmo forjou, é Luana Gatti vestindo uma roupa tão cheia de propagandas que mal se pode ver seu rosto, desfilando pela universidade, são os fios de Vinicius Davi que conduzem tudo a um olhar coercitivo sobre a matriz humana, é o momento de apreensão do meio, é a escuta, é o momento em que são experimentados mecanismos de romper com a performance cotidiana do meio em que habita, em que estuda, em que se vive.

É necessário fôlego.

 (“não morrer é mais agradável / não morra agonizando feito uma barata miserável”

Rafael Sperling

domingo, 15 de agosto de 2021

 que desejo bom

dá menos vontade

AAAAAAAAA

A LETRA A 

FICO TÃO FELIZ

EM PODER ESCREVER A LETRA A COMO ELA É

COM TODOS OS DETALHES

NOSSA

FELICIDADE

Haja folego!

acorde, olhe ao seu redor, perceba esta aglomeraçao de nadas, todos os outros seres humanos desapareceram do globo, sumiram.  O que você faz? eufórico, vai a todas as joalherias e coleta jóias preciosas e coloridas: elas valem o valor que voce, apenas, atribui a elas, podem valer tanto quanto os pedregulhos e rochas pelas calçadas. Vai aos bancos e cata todas as notas, agora pedaços de papel; veste as melhores roupas, adquire veículos e espaços privados interessantes, e é isto. Quando o gozo narcísico se encerra e pode-se vislumbrar a pulsao de morte, sorrindo, comendo um pao com ovo no boteco da esquina?

O gozo narcísico, aliado a deliberada necessidade do feto de ser cuidado, de estar passivo, de ser o objeto de desejo do outro... Que sonho, se pudesse este homem, só no mundo, ter um cuidador que o alimentasse, trocasse, amasse, e assegurasse que seus piores medos sao apenas poeira ao vento. a primeira problematica que aponto nesta coluna é: Se fosse tecer um genero para essa instancia cuidadora, este seria atribuido como feminino. Talvez a segunda problematica que venho percorrendo seja: O homem, enquanto indivíduo, deseja o gozo desesperado como elemento de conforto até o fim de seus dias, sempre se nutrindo, sugando, tentando obter anima por meio de objetos e pulsões parciais. O desejo se manifesta no corpo, em espasmos.

O que é o empecilho para o gozo, nao em sua instancia sexual, mas o momento em paz, o satisfazer-se e saborear a sua condiçao no mundo? Bom, primeiramente podemos apontar o curioso fato de que, hoje, é mais interessante documentar o gozo, transmiti-lo, que procurar vivenciar o momento-espaço-objeto de interesse em sua totalidade; sociedade vigilante, fornecendo dados a todo instante, fornecemos também uma espécie de controle acerca do gozo, o que chega no dilema da transgressao, quando esse sistema esta saturado e perde seu sentido original.

a seguir, o excesso de estímuo visual, de ruído, nossas retinas se esforçam para manter o foco no anúncio publicitario, no e-mail do chefe, na comida cozinhando e no portal de notícias na televisao, tao baixo que mal se escuta o que realmente teria a informar, sendo mais interessante como plano de fundo e escape do silencio frio, a ausencia, o nada. Estamos ligados, desde ao acordar com os carros de som anunciando os costumeiros produtos, ao vizinho no telefone claramente desejando ser ouvido nao somente pelo interlocutor, mas que o Outro, que pode nao nutrir o mínimo interesse em , por ex, escutar a mesma música, divagar pelas histórias, etc, que habita os mesmos espaços, cada vez mais confinados, possa, talvez , entende-lo, apreende-lo, capta-lo. 

O motivo? Talvez o próprio receptor nao o interprete de forma desejada, nao compreenda e apreenda o discurso como o emissor gostaria que o fizesse. aqui, aplicamos o simples conceito de satisfaçao essencial, em Lacan, onde é estabelecida comunicaçao, para liberar o sentido, mas o mesmo apresenta falhas comunicacionais, ou as setas de intencionalidade entre os agentes no discurso nao co-incidem sobre uma problematica comum:  Decerto, podemos dizer que, na era do hiperlink, do dinamismo frenético, um dos maiores equívocos é o erro de interpretaçao. Por que? Pois, as vezes, é instancia de conforto atribuir o erro interpretativo com um ''peso'', uma ''culpa'' que acarreta na responsabilizacao deste outro, constituído muito mais de si que propriamente este indivíduo que nao lhe diz respeito. Neste momento, se ficarmos em silencio, conseguiremos escutar, talvez, Sartre rindo, afirmando que pouca coisa mudou.  

►SATISFAÇÃO ESSENCIAL → comunicação → liberação do sentido → satisfação de ordem semântica → do lado do SUJEITO e do OUTRO.

└→NO SUJEITO → aprisionamento do sentido,

_______________sofrimento→ sintoma→sentido não liberado→recalque.

É vital, claro, salientarmos a importancia danalise, para que o indivíduo possalçar a satisfao essencial, buscando destrinchar os nós que lhe dificultam estagios do processo comunicativo, seja narticulao do discurso, as formas de aproximao, a dificuldade em se expressar enquanto ser desejante, dentre outros. 

Gritamos, falamos demais, por que nao (re-) pensar o código verbal estabelecido, procurar formas distintas para comunicar, por exemplo, nossos sentimentos. É difícil, uma vez que demonstrar sentimentos nao midiaticos e nao assimilados como entretenimento é moeda peso negativa, é imagem de valor nulo na disputa por atençao.  Gritar é apelar a comoçao, a uma instancia nao racionalizante acerca de facilitar a comunicacao, mas de mobilizar em maior número, indivíduos de pensamento praticamente identico, para que se expressem em uníssono, uma vez que a atençao para adultos na sociedade é escassa. as redes sociais sao mecanismos onde a pulsao narcísica opera, e encaminham-se estímulos após estímulos para dizer e vender a ferramenta midiatica: mereço tanta atençao, desejo a sua interaçao, e que interaçao Uma fraçao infinitesimal de segundo, um toque que faz lembrar que o sujeito ainda consegue se inserir na esfera coletiva deste aclamado ''contemporaneo'', (mas cuidado: Se nao o fizer nas próximas duas semanas, sera esquecido e substituído). Haja desapego para conseguir entender que, sim, muitas amizades sao circunstanciais, relacionamentos findam, ciclos se renovam. 

Haja folego para apreender criticamente os mecanismos que estao por tras do estado e substancias que induzem ao estar fora de si, o entretenimento que consome sob o pretexto de que é apenas imagem, pois epistemologias sao fundadas, também em imagens: engana-se quem pensa que o homem opera e altera os símbolos e nao é operado e alterado, também, por eles; haja folego para encarar a repetiçao como lugar-comum e transmuta-la para lugar problema, para perceber que nossa sociedade hoje em meio a crises substaciais, pode vir a estar imersa em um grande espetaculo dionisíaco, em que se procura o gozo perdido de todos os anos que esteve em retençao apolínea, folego para lidar com os excessos de informaçao, todos querem gozar plenamente de uma anti-dor, uma espécie de comprimido natural para limpar a mente, clarear os sentidos. Como?

Pensando de forma pratica, por que insistimos em nos bombardear de mais informaçao, mesmo quando estamos saturados, cansados, ainda queremos visualizar pequenos espaços cenarios, imaginarios, ainda queremos a conduçao por linhas de raciocínio ja passadas, da concepcao de obras ate sua total banalizaçao: Eis aqui, entao, uma questao: antes de dormir, quando for desligar o celular, ou ouvir uma música, dormir sob o som da televisao, tente, durante um dia, tapar as luzes que oscilam até no escuridao total, deitar-se com as costas chapadas na cama, barriga para cima, maos paralelas ao corpo. Ir se distanciando lentamente da consciencia como um processo gradual, natural, respeitoso a velocidade do corpo. E, assim, pensar acerca do dia, da semana, em vez de procurar sedimentos midiaticos, cores berrantes e vozes que nada dizem, escutar o que seu corpo tem a dizer.

Comentando Byung-Chui Han : ''   Todos querem ser diferentes uns dos outros'', o que força a ''produzir a si mesmo''- É impossível ser verdadeiramente diferente hoje porque ''nossa vontade de ser diferente prossegue igual''. Resultado: O sistema induz e viabiliza formas de ''diferenciaçao comercializavel''.Nao nos deixemos cair na tentativa de esboçar singularidade, toda identidade tem aspectos em comum com o Outro, uma vez que somos uma mesma raça, a tentativa de segregaçao na história da humanidade trouxe guerras, conflitos, genocídios. Que consigamos entender que cada indivíduo, sim, é único, através de sua singular cadeia de eventos em sucessao, que mesmo na linha do tempo de maior incidencia probabilistica, a forma de apreensao do mundo diverge, em nuances, em torno do globo. Se nós nao conseguimos enxergar essas nuances, pode ser porque estamos cheios de conteúdos midiaticos, repetitivos, gritantes, nos informando quais protocolos comportamentais seguir, moldando, em vez de acessar subjetividades realmente diversas, e em tempos pandemicos, percebemos o tesouro de poder ter o contato com outras formas de pensar o sujeito, outros cheiros, outros sabores, informaçoes que captam e apreendem os sentidos do indivíduo.

É necessario para o sistema o desejo de status, o desenvolvimento do indivíduo, a acumulaçao de saberes, a acumulacao de bens. Precisamos de clubes para que os que estejam dentro consigam estabelecer um vínculo de pertencimento e propriedade acerca da alteridade, da diferença. assim temos uma disputa de narrativas, entre um discurso igualitario onde nao se enxerga diferença epistemológica alguma entre corpos de diferentes etnias, diferentes generos, diferentes atributos estéticos e psíquicos, e os que precisam afirmar suas identidades no outro, na condiçao de sempre apontar e ressaltar as diferenças, para que sua concepçao fragil de identidade nao seja arruinada. Pergunte-lhes quem sao, e eles responderao: Nao somos o Outro, e somos orgulhosos disso. 

Vemos na sociedade hoje, na manutençao da indústria cultural, todo um aparato para desenvolver mecanismos propulsores de desejo, que iriam instigar o ser a continuar manter a engrenagem girando. Cuidado com as iscas que nos mantem encarando as telas como mosquitos de luz, vidrados, procurando os fragmentos do gozo parcial que um dia foi prometido; Vendem-se sonhos, na medida em que eles nao puderem ser concretizados, vendem-se projeções do que o inconsciente crê que va ou lhe distrair, ou lhe fazer mais pertencente a comunidade vigente, ou que lhe assegure status e ascensao social, o que afague o ego, sobre a premissa de uma comédia irreverente e descompromissada, horas a fio observando produtos que nao podera consumir,  pornografia que traz o desespero mediante a ausenciade sensibilidade para com o outro, o descompromisso em filmes de roteiro facil com explosões e efeitos especiais, enfim, como de costume, o objeto em tudo que nao concerne sua materialidade, mas a apreensao de um conjunto de ideias que podem nutrir e contribuir com o processo identitario do sujeito. O sujeito é o compilado de coisas-designações que consegue acumular em torno de si, O sujeito é o que ele assiste, é um consumir. 

    Nao ha nada de errado em designar-se a partir de gostos coletivos, paixoes, interesses similares em comunidade. a problematica é avaliar criticamente se a designaçao elaborada em questao foi estabelecida por princípios volateis, o mero ser aprovado em comunidade, o mero pertencer em troca de uma singularidade própria, sugiro falarmos sobre nossas singularidades, sobre o momento de recolher-se, o estar só consigo é necessario para entender suas designações, e para deixar claras as barreiras entre o corpo-imagem-coletivo-símbolo, e o corpo-matéria-biologia-pulsaçao-agora, que se metamorfoseia a cada dia. até mes que vem.


sexta-feira, 13 de agosto de 2021

juntar signos é uma arte

sejam banais

bacanas

bumbos ou bananas

performance - alteridade

 eu sou você.

Talvez você goste mais de amarelo

roxo

beleza 

mas eu 

sou você

talvez você nao goste de si

e assim diga que nao goste de mim

talvez, se voce gosta de si

voce se abraça

como se o mundo inteiro lhe abraçasse

gosto disso, espero que voce va para perto do fogo

acenda uma vela 

e pense

que eu, você 

sofremos

vivemos

sobrevivemos

parabéns para nós

de olhos quase fechando

encarando telas

gostamos de ser cativos nelas

me de um beijo

prometo nao pedir nada em troca

nao acredite em nada do que digo

ou seja, nao acredite em si

talvez?

talvez voce duvide de sua identidade, 

talvez voce a deixe ser fluida com o passar do tempo

mas ha marcas que nada lhe tiram

memórias e momentos únicos

as reais preciosidades nao monetarias

eu sou você porque 

você pira

conspira com o futuro

e se auto mutila

masoquista impostor

dance mesmo sentindo dor, dor,dor

quantas vezes olhou no espelho

e nao viu nada

nem eu nem ti

bom

ainda estamos aqui

seja marionete de si

mascara, seja o infinito

seja o descanso

seja a dança e música

seja a dúvida

seja eu, seja mais, seja menos, seja você

mesmo que seja, estranho, né Pitty

seja , ou também nao seja

nao seja legal

nao preste

nao seja necessario

hoje você pode

nao ser

performance 1 e 2

 mono-bus

veículo de uma pessoa só

instrumentalidade : as pernas

por que: porque os onibus foram cortados 

2km em 10 minutos

estreando eu correndo do alojamento ate a prefeitura


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Presenteie-se( Presente-si) 

saco de presenret

Eu vestida de presente interagindo com pessoas como um chacoalhador de realidades, eu vestida de presente saindo de uma caixa de presente

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Cheiro de 

Eu rodando num suporte sendo enchida de perfume por dez minutos

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jiu

eu sentada no meio da praça do museu do amanha pintando sobre jiu jitsu

vestida de kimono


uma mostra artística só com performances encenando músicas da Bjork

 porque sim foda-si

mais vale um texto ruim escrito

 que um silencio pagina em branco recolhido, com medo do julgamento alheio

terça-feira, 10 de agosto de 2021

manual do artista-etc

 1) Desconfie de tudo que lhe diz que vai informar o que fazer.

2)Somos corpos possíveis de realizar tudo que nos vem, se temos acesso a estratos a serem preenchidos com quaisquer subjetividades. Nos encontramos sempre em folego de invençao, de reformulaçao e ressignificaçao dos signos vigentes. ao artista, cabe a si a tarefa de lançar sua visao, interpretaçao e poética ao mundo.

3) a problematica da arte contemporanea no Brasil é real, uma vez que nunca tivemos uma cultura que debate a arte em si atraves de suas multiperspectivas, mas pelos olhares unilaterais nas características que bem conhecemos, a ponto de que o indivíduo se deparar com arte contemporanea decolonial e arte europeia, desqualifique o primeiro  e exalte o último. O mercado e a questao sobre o que qual é a arte a  ser promovida, patrocinada, exaltada e exposta a mídia e público. a crítica infundada somente aponta o fato, ja conhecido, de que o observa, dor que a faz deseja, de forma narcísica e partidaria, falar mais sobre si que sobre o material exposto, tendo com base a concepcao de que arte precisa estar sujeita a determinados padroes éticos e estéticos pré concebidos.

4) Sobre a passividade e a nao necessidade do discurso por tras da obra: se nos anos oitenta seria assim, nao vejo grande diferença pautada nos registros historiograficos: a obra conceitual ainda é uma bolha restrita, podemos perceber claramente que o critério de escolha mercadológica e de circulaçao, acervos em museus, ainda tem carater estético classico predominante, mesmo com o esforço constante de inúmeras instituições para alterar este quadro. ( Geralmente museus e galerias focados em arte contemporanea.)

5) O artista que nao sabe ou nao quer ser criticado, deveria procurar outro ofício, uma vez que a crítica é a repercussao, o contato direto e o impacto reverso público-obra. Negar a crítica é negar a física.

6) Concordo com a transdisciplinaridade como princípio, uma vez que somos seres plurais, e nao convencionais em caixas que nos moldam, mas nós podemos escolher quais ferramentas e artifícios compor conceitualmente, fisicamente e poeticamente nossa obra: marcernaria, dança, filosofia, astronomia, geografia , psicologia, tudo que abarca e perpassa o ser.

7) É importante pensar os diferentes tipos de subjetividades abordados para Basbaum, espaço corpo público-privado, texto-obra, imagem-virtualidade, dentre outros. Os artistas abordados sao ótimos também, trazendo Milton Machado e Waltercio Caldas, assim como uma série de referencias frutíferas e interessates.

8) Olho para esses artistas em coletivo e me sinto um pouco melancóolica de pensar que hoje esse engajamento é bem menor, imagina só, ir em caravana a um local apenas na intençao de produzir arte: se isso fosse nos dias atuais, na verdade, seria uma roda de rap, um role de graffiti ou um baile vogue, mas quem sabe uma questao menos focada em produzir arte, ja produzindo...

9) a cena durante a palestra do crítico italiano parece ter sido divertidíssima de participar. Gostaria de estar presente, sentada ao lado de Eneas Valle, que também ja foi meu professor, a observar a palestra de costas, pelo retrovisor.

10) '' torná-la( a arte-) permeável, tátil, poética – menos fronteiriça e

mais uma zona quente e liminar, onde forças livres e disponíveis

podem tanto carregá-lo de energia quanto dissolver seus planos

pré-preparados. Ali as coisas se movem de modo errático.''

Gosto deste trecho, acredito que assim o contato com a mesma seja mais democratico, mais acessível, mais acalorado, de certa forma.

11)qualquer um que tenha experimentado trabalhar com palavras, imagens e objetos pode ver quão valiosas são as passagens


que conectam campo visível e discurso. Manuseá-las (as passa-

gens) possibilita que se construa um projeto de deslocamento


entre ambas as matérias (arte e texto), descobrindo os signos de

um estado de atenção que permite melhor entendimento acerca

de como sentidos e coisas se entretecem e se relacionam entre si.

Decerto, concordo com tais afirmaçoes, uma vez que , em minha obra, trabalho com objetos-texto, manuseando-os e trabalhando sua plasticidade e elasticidade. O corpo-texto, a materialidade escrita , como em Waltercio ou Kruger, sao interessantíssimos para pensar como o ser tece e é tecido de linguagem, como o signo impera nos locais.

12)

''Porque escolher uma revista como forma de ação? É pos-

sível incorporar aí um programa interessante que atenda às

expectativas dos artistas? Pode uma revista tornar visíveis certas

demandas culturais no interior do circuito de arte? Item surgiu

como parte de uma estratégia de criar um novo campo discursivo

que pudesse articular um certo segmento da produção de arte

contemporânea no Brasil, aquela que não vê o mercado como

o principal objetivo do artista.''

Concordo,zines, rodas , revistas, artigos, todo o meio de propagaçao público, gratuito, que teria como objetivo a informaçao desprendida dos padroes midiaticos correntes, se, engajada, pode ser arma poderosa simplesmente por fornecer pensamento livre, em tempos, até se pensarmos hoje, de vigília ,repreensao e o (terrível e arcaico) retorno aos costumes morais. Inclusive, estou participando de uma revista com viés contemporaneo, que abarca piscologia em seus mais diversos níveis, e seu dialogo sempre constante com a arte, o nome é E-Psicos, recomendo a leitura.

13)''Tal é o círculo


vicioso da escrita sobre arte: artistas fazem o trabalho; críticos


comentam.'' Ou nao, no que provavelmente vai ser abordado mais abaixo, que com a globalizaçao, o acumulo de funções , o artista que busca se inserir no mercado necessita ser seu próprio curador, editor, marqueteiro,galerista, cenógrafo, etc. Talvez seja sobre isso que se trata o livro. Ou nao. Vamos ver.

14)''Podemos dizer, com certeza, que

esta estrutura não preenche as necessidades da arte como um

espaço aberto e experimental.'' acredito que isso é uma utopia, mas que nosso papel pode ser transmutar e tentar tornar acessíveis discursos e debates acerca das manifestações culturais e artísticas que, muitas vezes, ja estao aqui. Podemos apontar , direcionar, e levar a diferentes realidades.

15) concordo e adoro a ideia do texto compor um agregado conceitual-sensorial, saber equivaler os dois é uma arte incrível, a teoria com a pratica, trazendo o atual para o presente, para essa maquina de esboçar o presente, a prospecçao, incrível termo a ser utilizado pelo autor. O texto é sim, o corpo teórico da obra , assim como a obra é o estrato e corporificaçao substancial da experiencia artística.

16)

''se as palavras estiverem acopladas aos trabalhos de um modo especial e interessante.'' Concordo, por isso meu elogio a poesia neoconcreta. Gosto dos trabalhos de arnaldo antunes, vinicius mahier, ferreira gular, décio pignatari, dentre outros.

17) Nunca acreditei, verdadeiramente, que a arte poderia produzir o irreal: descartes fala isso nas meditações, mesmo com a variante infinita de signos, é impossível gerir e fornecer um irreal, uma vez que sempre é feito a partir do real. Talvez seja uma questao da figura mítica do artista e todo esse imaginario nao técnico que perpassa o senso comum.

18) ''O que realmente conta é a habilidade do texto em subverter o padrão de tempo tradicional (a cadeia passado-presente-futuro)'', concordo, fazer o texto-escrita-imagem um objeto plastico, tatil, investigativo, crítico e maleavel.

19) ''A necessidade de transformação não é uma vaga ambição, mas condição de sobrevivência.'' Também inerente , a arte é uma metamorfose, impedir seu desenrolar seria querer confina-la a um casulo rígido e impenetravel.

20) Interessante a mençao ao trabalho de Baltar, uma vez que a mesma se insere no limite entre o que é a instancia que habita e o corpo ''habitante'', o corpo como espaço célula que participa do maior, que pulsa. Corpo como materia que se equipara ao tijolo, como estrutura, esqueleto, material de construçao de subjetividade.

21)  as land arts de Eduardo Coimbra sao absolutamente espetaculares, também dialogando com a questao do ''dentro-fora'', corpo espaço, interno e externo, fico agradecida de ter me deparado com o trabalho deste artista, muito interessante trabalhar e tensionar limites do que confere museu e nao-museu.

22) ''este é de fato um modo de integrar a arte no espaço público através de estampagem, isto é, através da percepção e memória'' a arquiquetura das ruas ja nao seria, também, arte:o pixo, o grafitti, o paisagismo, ja nao se configuram arte integrada no espaço público?

23) ''A arte contemporânea nos dá ferramentas para a produção de Realidade, tornando visível um campo de questões e problemas'' as questoes e problemas sao nosso foco, quais os pontos de atrito a serem provocados, a serem tensionados.

24) ''Também não quer permanecer num espaço marginal alternativo, sem ter acesso ou participar dos acontecimentos. Queremos nos estabelecer numa região ainda vazia, dentro do circuito brasileiro, que permita agilidade para a realização de iniciativas que, de outro modo, teriam que se desgastar na burocracia das grandes instituições'' Também gostaria que minha feira independente , e do artista e curador Bruno Oliveira, a Mostra Cem, estivesse nesse lugar de agilidade , de improviso, de circulaçao nao voltada especialmente ao mercado mas a apreensao do presente, e as possibilidades de dialogo com os estratos do passado e as possibilidades do futuro.

25)  ''penalizando a circulação de trabalhos menos comprometidos com a utilização de suportes convencionais e linguagens já reconhecidas. '' triste realidade de mentes fechadas que ou se negam ao outro, ao experimental, ao desconhecido, ao desapego. É o negar de uma face do ser humano, e também, talvez, de si

26) ''debater ou debater-se?''-> Bom título.

27) Fazer arte contemporanea é adequar-se ao silencio, é se deleitar com as instancias gozantes ( e o que o ego pode proporcionar) mas saber o local do abster-se, calar, ouvir, mais do que falar, escutar e ver , apreender o trabalho do outro, lidar com o outro, perceber-se como o Outro, para tentar desmanchar, aos poucos, essa pelicula de favoritismos e espetacularizaçao.

28)  ''A força de sua ação está em torno de nós, mas, paradoxalmente, não a vemos: isto é arte contemporânea. Abram os olhos'' Posso, entao, como pertencente a gigantesca maratona de invisíveis, assegurar meu metro quadrado no circuito, como sempre produzindo, corpo obra objetos e texto em sintonia com o caos. amem (?) Somos corredores no escuro, buscando tesouros por dentro de nossas peles e perguntas, buscando o motivo pelo qual se busca, dentre outros.

29) ''Talvez pudéssemos pensar na palavra “cósmico” como muito mais ambiciosa do que “global”, esta última enfatizando um tom realista e pragmático, a primeira implicando uma mistura espiritual com as coisas e seres vivos''os povos originarios detem essa conexao cósmica e global-espiritual desde sempre, nao é mesmo? o artista como nao de etnia ou nacionalidade, como ser em um ponto de um mapa cartografico, onde o mesmo esteja tecendo sua grafia acerca do que o perpassa e o que ele consegue apontar transmutar etc, independentemente de fronteiras ou restrições locais.

30)''Mas é necessário trazer para um primeiro plano diversas estratégias de colonização do global que pertencem ao espectro de práticas culturais e artísticas, mostrando que diferentes estratégias de fixação nas regiões do global estão de fato acontecendo'' Nao me cai bem este ''colonizacao'' do global, uma vez que aí ha uma diferença entre colonizadores e colonizados, um olhar hierarquico, que, de certa forma, esta presente no carater teórico da arte: O colonizador vai ser o que julga nutrir um repertório teórico mais denso, visando enaltecer sua epistemologia acerca da apreensao do mundo, creio que nao ha uma brecha para o ''colonizado'' neste discurso, logo, considero problematico.

31)'' Parece muito mais interessante tomar o global como um “campo”, uma região habitada por padrões de relacionamento em que as representações simbólicas podem ser redesenhadas e rearranjadas'' nao acredito que isso seja restrito ao global, e nao acessível ao bairro, município, ao regional, como buscar o regional neste tao aclamado ''global''?

32) '' a conexão local-global é a combinação produtiva na medida em que articula dois campos diferentes e complementares que podem produzir efeitos um sobre o outro'', decerto, como trabalhar o que perpassa a experiencia individual do ser para o trabalho acerca deste perpassar, da experiencia em um plano maior, e que o outro possa experienciar e estar presente na mesma, talvez isto esteja próximo ao ''global''.

33) ''Uma cena completamente diferente foi construída nos anos 1980, quando o circuito de arte brasileiro (como outros circuitos de arte ao redor do mundo) se beneficiou do fácil fluxo de dinheiro vivo da era conservadora Reagan-Thatcher e implementou um ambiente de galerias que iniciaram uma eficiente conexão internacional com o mercado de arte dominante'' o investimento em arte é tao precario, quem vira as costas diante do indivíduo bem adinheirado com um pensamento duvidoso que lhe chega e diz:'' que tal se eu comprasse esta obra sua?'' Para os super engajados ( no brasil, podemos dizer utópicos) se trata de hipocrisia , para quem produz arte, talvez, seja sobrevivencia. Se este indivíduo, como no caso citado no livro, pode fornecer laços para o mercado internacional, incrível. 

34) De que modo é possível hoje falar de uma “arte brasileira”, na medida em que sua mobilidade é determinada principalmente pelo fluxo de capital e não pelas questões levantadas pela produção mesma, mantida numa posição secundária?'' No momento que se discuta arte política, de resistencia , modos externos a galeria, poesia como arte contemporanea, rodas de rap, grafitti, zines, teatro, espetaculo, performances. a arte brasileira chora dourado dos fluxos monetarios direcionados ao convencional do mercado,  e sangra conforme milhares buscam vender seus corpos e subjetividades, muitas vezes por um preço bizarramente inferior ao que seria considerado razoavel, devido a discussao eterna entre arte com a maiusculo vinculada a status e arte no cerne da palavra. talvez um dos erros na comunidade em que vivemos é o famoso ''arte nao da dinheiro'', pelo contrario, tudo é arte, se souber enquadrar um desenvolvimento artístico em filmes, propagandas, videos, músicas, consegue-se muito, muito dinheiro. E o caminho é difícil e dói, mas é gratificante poder trabalhar com o que ama, uma vez que vivemos em um mundo onde os sonhos sao massacrados. a arte de galeria e de a maiúsculo pode ser determinada principalmente pelo fluxo de capital, mas esta é apenas uma parcela ínfima da arte que chacoalha dimensões, cura, questiona, e esta em circulaçao, nos muros e na fala das pessoas hoje. 

35) ''O Tecido local da arte e da cultura brasileira é bastante mais complexo do que isto, revelando diversos esforços de engajamento dentro da cena contemporânea que abordam o contexto de modo mais crítico, isto é, evitando aceitar seus atuais contornos como naturais, fixos e estáveis. '' acredito que seja o mínimo, necessario. 

36) ''ser (ou não) um artista não é algo de que se possa exigir limites rígidos ou absolutos, revelando-se mais como um trânsito'' Hoje ainda é presente uma hesitaçao do que seria ou nao um artista, uma vez que muitos ainda esperam pela aprovaçao de galerias e a legitimaçao institucional para assegurar, para si, o título. Se tivéssemos uma abordagem um pouco menos hostil e mais democratica, talvez se fossemos um pouco menos operados pelo ego e em funcao do mesmo, pudessemos ter um olhar menos imperativo acerca do ser-artista, mas estar artista, uma vez que a poiesis toma conta do ser, lhe perpassa, e nao o contrario. 

37) Não se trata de “ser artista todo o tempo”, ainda que André Breton tenha nos lembrado que o artista trabalha também dormindo, aqui acrescento um agridoce ''infelizmente'', rs.

38) saber perceber e habitar o espaço de mediações em que se constroem as noções do “eu” e do “outro” – É uma arte.

39) ''Esta movimentação para fora de si não deixa de ser uma condição do próprio exercício do gesto poético, que foge do loop narcísico e busca hospedagem no corpo do outro – espectador, audiência, público…''  se o gesto poético ''busca hospedagem'' e é visto como, primariamente proveniente ao que hospeda, nao deixa de ser narcísico, mas torna-se o gozo narcísico projetado em outras estratificações. O exercício do gesto poético nao pode fugir do loop narcísico, porque ele nunca veio dele.

40)''Mas o decisivo acaba sendo mesmo a (feliz) impossibilidade de anulamento da própria poética, cuja presença produz o tempero característico desta expressividade''  a comunicaçao entre texto e obra é uma dança, jamais um se anula perante o outro. a nao ser que essa seja a proposta do trabalho, o que seria interessante.

41)'' o fato de muitos dos principais críticos de arte serem poetas, escritores inventores de linguagem: na inevitável explicitação de sua condição de proximidade para com a palavra é que se passam as manobras e operações verdadeiramente intersígnicas onde volumes de sentidos e camadas de juízos são manuseados – espaços que incorporam transcriações imagem/ palavra em que aquele que escreve igualmente transparece enquanto usina de maquinações poéticas.- uma palavra: Logos.

42) ''Em termos ideais, uma exposição ou evento bem-sucedido seria aquele em que o indivíduo entra enquanto “público” e sai “espectador”, transformado pela experiência, tocado pela – e tocando a – obra de arte'' Gosto da noçao de espectador-participante, ativo.

43) ''(que fique claro: não existem apenas duas, mas a combinatória das possibilidades envolvidas nas linhas de fuga do binarismo simplificador, atingindo-se sempre condições reais complexas) '' Bonito, chega a ser emocionante. Deveria aplicar isso a forma como apreendemos a vida, para além da visao do bem e o mal, o que impera e direciona de forma pre-concebida, hoje, mediante o retrocesso das ordens filosóficas e epistemológicas diante de tantas crises. 

44) '' que utilizando a marca de uma “bienal” imprimisse um funcionamento completamente diverso do esperado em uma situação com esta característica, de modo a desenvolver um modelo mais orgânico e menos burocratizado e hierarquizado'' necessario, quero que a mostra Cem, um dia, quem sabe, venha a ser uma Bienal. Organica ela ja o é.

45) ''– portas se abrem e se fecham a partir deste jogo (mais um a ser conduzido…), que influe diretamente na recepção de sua própria produção (que afinal é um dos itens básicos na legitimação de seu “estar” dentro do circuito).'' gosto do networking, de tecer teias durante os eventos, conexões sao necessarias. bons tempos, antes da pandemia, chuif.

46) Quando o  poético se aproxima deste modo do jogo institucional (do qual não deveria realmente se afastar), forçando sua presença junto às demandas mais formais e pesadas da economia, burocracia e hierarquia política e social, é sintoma e sinal de que alguma agudeza de preparação e delicadeza de pensamento estão sendo reinvindicados como ferramentas necessárias – menos idealizadas e mais próximas das lutas do dia a dia- a burocracia é cansativa, mas é parte do jogo. Infelizmente. Por uma política com editais menos rígidos e cristalizados.

p.78

links

 https://rbtxt.files.wordpress.com/2020/04/manual_do_artista_etc.pdf

https://webpages.ciencias.ulisboa.pt/~ommartins/pdfs/medita%20coesmetaf.descartes.pdf

https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revispsi/article/view/8224/5975

fuck

 oh doutor

tentem matar o mario de mithos

porque sempre que alguem chama ele de foda

ele vira bicho e quer engolir tudo e todos

o mario virou um cara rabugento 

com uma audiçao fodida

silencio, silencio

é tudo que quer

nao, nao tentem matar ele nao

acho que ele é meu melhor amigo

sei la

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

hemorragias em angra

tomei café
para encontar o ca 
dentro do fé
mas entrei no tomar
fumei o adrentrar
injetei o fumo
entrei no tombo
Sambei com bumbo
na corda bamba
comi bambu
levei uma banda
'''salamandra''
para um palco
sem sandra
pulsa e sangra
hemorragias em angra 

pensamentos

 Descartes : a duvida e a necessidade

por que nao sentar numa poltrona e pensar acerca do fenomeno de que talvez, salvo as condicoes cientificamente comprovadas pelos métodos, nossos saberes dilemas e dogmas nao sejam os ''certos'' ou os verossimeis, mas percebendo o fenomeno do outro imperando acerca de nossa subjetividade:

Por que o brasileiro hoje esta correndo atras de vagas de emprego, fugindo das balas perdidas, ansioso pelas próximas partidas de quaisquer esporte série evento, próximos contatos que amaciem a dura realidade de um país imerso em negacionismo e uma espécie de bolha inacessível, esta semelhante a um útero que armazena, em sentido de comunidade, um grupo unido com muita certeza de algo, só nao sabem descrever exatamente o que é.

É interessante pensar que os negacionistas de hoje podem, sim, utilizar esta dúvida em Descartes para contestar se, de fato, se o quadrado tenha mesmo quatro lados, ou se talvez nao tenha dois, e quem atribuiu quatro como norma estava ligado a ideologia considerada,sob ética religiosa, maléfica, o a ser exorcizado e nao cre no que mal questiona-se. Estamos em tamanha liquidez e instabilidade epistemológica, que, considerando o estado de apagamento e perda de dados benéficos a um sistema em que fatos sao riquezas nao monetarias, o nao questionamento acerca das novas notícias reais apenas no plano virtual ( no momento que existem enquanto coisa, enquanto palavras, atreladas a uma imagem, fornecida pelo meio provedor independentemente de qual seja, façam destas mesmas a realidade vigente forjada pelos membros do objeto bolha. O objeto bolha esta presente em todas as areas, academia, medicina, setor da advocacia, o espaço rua, a ocupaçao que exerce o sujeito, classe social semelhante, gostos e direcionamentos em comum.

Estamos vivendo Orwell: disso nao duvidamos. Se antes dizia  Descartes em suas meditacoes: Penso, logo existo, hoje podemos reformular: Reproduzo, logo pertenço, no momento em que pessoas preferem receber manuais acerca de como se expressar em genero, classe, lúdico, sexual, dentre outras esferas, do que forjar seus próprios, por, pelo passado de erros e acertos, vao guiando o cidadao em busca de uma pulsao de morte disfarçada de extase.

Nao conheço, porém, ainda bastante claramente o que sou,eu que estou certo de que sou. Por isso, é preciso que daqui para frente é preciso que eu atente com todo cuidado para nao tomar imprudentemente alguma outra coisa por mim e, assim, nao me equivocar sobre este conhecimento que sustento ser mais certo e mais evidente que todos os que tive até entao.´

Raul Seixas concordaria, se hoje temo e abomino o outro, amanha, em tempos longínquos, sou o outro, me metamorfoseio, tao bom nao se ter certeza obstinada acerca de quem se é, essas possibilidades que conferem a juventude de poder escolher seus caminhos, mas que vao se extinguindo e cristalizando com a idade, faço um comentario: Descartes estava com idade avançada quando escreveu as meditações. Logo, regenerar-se nao esta inerentemente ligado a um corpo jovial, mas uma mente assim. 


domingo, 1 de agosto de 2021

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