Aranha
À sombra dum cedro imenso
Eis-me a sentir e a pensar;
Mas o que sinto não penso
E o que penso está suspenso
Como uma aranha no ar
No ar balouça, fremente,
Num débil fio invisível
Dessa teia intermitente
Que liga o passado ingente
Ao presente irreversível.
Irreversível instante
O estar aqui na paisagem
Dentro dela e já distante
— Pois o que somos durante
É de nós próprios imagem.
Imagem que se desdobra
Sem que a vontade a detenha
No tempo que nunca sobra.
Viver?… Criar uma obra?…
Oh, o mistério da aranha!
Carlos Queiroz
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