quarta-feira, 30 de setembro de 2020
Domandu carangueju
sexta-feira, 25 de setembro de 2020
Aranha
À sombra dum cedro imenso
Eis-me a sentir e a pensar;
Mas o que sinto não penso
E o que penso está suspenso
Como uma aranha no ar
No ar balouça, fremente,
Num débil fio invisível
Dessa teia intermitente
Que liga o passado ingente
Ao presente irreversível.
Irreversível instante
O estar aqui na paisagem
Dentro dela e já distante
— Pois o que somos durante
É de nós próprios imagem.
Imagem que se desdobra
Sem que a vontade a detenha
No tempo que nunca sobra.
Viver?… Criar uma obra?…
Oh, o mistério da aranha!
Carlos Queiroz
terça-feira, 22 de setembro de 2020
óculos para o PM
andando bamboleante pela cidadje, até que me deparo com um PM a paisana, se disfarçando de palmeira. Talvez nem ele saiba que estava se disfarçando de palmeira. A palmeira é mais estilosa, mesmo. Pego de meu bolso uns óculos especiais que separei justamente para o PM.
Chego para ele e falo:
-Boa tarde, Senhor.
-Boa tarde, moça.
-Sou oftalmologista, e estou testando esses óculos de visão apurada para a polícia militar do Rio de Janeiro.
-Isso é alguma brincadeira?
Mostro meu crachá. Eles adoram o crachá.
-Se não for eficiente, você pode tirar a qualquer momento, retirar assim que o pôs na cabeça.
Ele olha para os lados, coça a parte de trás da cabeça, faz um pequeno grunhido de nhmmmm...
Visivelmente desconfortável.
-Vamos, é rápido.
Eu tento me encaminhar da forma mais amistosa possível, e botar os óculos no rosto embrutecido do PM.
No momento que boto os óculos, cachoeiras de sangue começam a desaguar dos óculos, na parte interna , não permitindo que o homem veja nada.
Ele começa a tentar dizer algo, mas o sangue começa a entrar em sua boca.
-Opa, não tenta falar não que é pior.
Ele começa a se afogar e se debater, tentando tirar os óculos, mas derretemos do centro da cinelândia e agora estamos no mundo dos mortos, pelo rio Estige, mas em vez de água, o sangue... o PM não sabe o que fazer, senta e até parece curtir a viagem, sem enxergar, mas balançando a cabeça de lá pra cá de vez em quando.
-Eita, parece que a gente vai cair numa..
Outra cachoeira de sangue. Uhuuuu Adrenalina, sinto meu estômago revirar conforme o barco cai quase em noventa graus, e quando caímos , é justamente numa tela de cinema 6D e começamos a participar do filme.
-José! Diz a mulher, afoita.
-Você matou o seu filho, José.
O PM não entende nada, ele acha que está sonhando, senta e começa a rolar de modo másculo.
-JOSÉ! FALA COMIGO, CARALHO! Diz a mulher, chorando, desesperada.
-José olha para ela e fala:
-Eu... eu... eu atirei no carro branco...
-ERA O CARRO DO MARCOS, E ELE TAVA DENTRO , VOCÊ MATOU O NOSSO FILHO, VOCÊ TEM NOÇÃO DISSO?
-Não, não, eu matei um... um...
-E AGORA, JOSÉ? TÁ FICANDO MALUCO?
José, ainda atônito, diz:
-A polícia militar vai prestar as mais sinceras condolências...
-JOSÉ, ACORDA, JOSÉ! ISSO NÃO É MIOPIA, É PSICOPATIA!
-FALA ALGUMA COISA QUE ME MOSTRE QUE VOCÊ SE IMPORTA, QUE VOCÊ É HUMANO!
-É porque ele cortou o cabelo e ta parecendo... tava....
-Ele não deveria andar por essas bandas a essa hora... é muito violento...
-José, eu não aguento mais escutar isso- a mulher diz, exausta, fica ai com as suas armas, até nunca mais-
-A polícia militar agradece a sua queixa, bip, bip...
José acorda. Procura sua mulher, ela não está. Procura por seu filho, ele não está.
Mais um dia de trabalho.
sobrou uma paçoca do jantar
domingo, 20 de setembro de 2020
em matérias de desejo
achei muito interessante o alter ego de Duchamp, Rrose Selavy, sendo feminino.Pois o alter ego acaba sendo a frase '' Eros, é a vida'', e faz ligação com o trabalho de Gabriela Mureb sobre a máquina que está pulsando, o motor eternamente funcionando, ele deseja. Se Rrose é uma rosa, o orgão reprodutor de uma planta, e também eros, pode-se traçar esse caminho dúbio e irônico, de que o empírico perpassa a razão no que cabe a propagação da espécie, Eros, é a vida, é o impulso desejante que nos guia em direção que não conseguimos determinar, pois há 9 bilhões de pessoas no mundo. Encarnando o desejo de viver outra persona, um universo paralelo se configura para Duchamp, cabe resssaltar que eu também tenho um alter ego, masculino , se chama Mario de Mithos.
Arte deve transmitir conteúdo? Não precisa, ela pode só ser.
Acredito que justamente pelo trabalho não ter sido pensado com base nas suas decisões formais , é mais interessante. Fazer um objeto pensando a forma para ser interessante, é bom. Aparecer com um objeto e descobrir curvas entornos e estilos-próprios que não tiveram a seta da intencionalidade do discurso lacaniano é mais potente, a meu ver, porque é a a captura de um discurso como se fosse uma borboleta perdida no meio de um buraco negro, é um recorte aparentemente aleatório, mas que tem um quê de neoconcretista, pois o objeto acaba trazendo uma sensibilidade , uma subjetividade, uma dúvida, uma questão.
"meu trabalho é respirar, '' meu trabalho é cuspir, duchamp
respirar" diante dessa fala, a independencia do objeto e o centro do self, no texto estética do narcisismo, e também a obra de piero mansoni, em que ele literalmente infla balões com o próprio ar e vende por quantias exorbitantes.
genial duchamp PAROU DE SER ARTISTA: Será que alguém , um dia , deixa de ser artista?
Será que não tem uma visão de mundo diferente , sendo artista?
Será que depois de revolucionar completamente as noções ocidentais de arte , você pode simplesmente levantar , opa , já deu, vou virar jogador profissional de xadrez, parece que o passado nem existiu.
intermédio emitia declarações aforísticas
sobre sua arte. E há também uma intrigante separação
entre essa aura de mito pessoal e a qualidade desper-
sonalizada de sua arte.
Posso dizer sobre minha arte que também não tenho o estilo, e que elaboro essa persona na imagem de Mário de Mithos , e nos outros alter egos que se desenrolam a partir destes.
Duchamp como um inquietante dialético
INQUIETANTE DIALÉTICO
MEXEDOR DE DESTINOS
QUESTIONADOR DE POSIÇÕES
QUESTIONADOR DE DILEMAS
é interessante perceber a geometria dos suportes das obras de Brancusi, como eles acabam sendo a obra, e dialogam com o trabalho de Duchamp no momento em que não se sabe se o vidro em que há a pintura é parte da obra ou o suporte.
segunda-feira, 14 de setembro de 2020
questões
É incrível perceber que , no início do advento da fotografia, essa concepção do movimento possa estar tão adiantada. É muito interessante perceber o movimento que é esperado , em Boccioni, em que o centro da garrafa, a parte que foi retirada, mal se vê, em uma análise que, os objetos, se deslocando ao redor desse eixo vertical, estariam tão rápidos, que mal se enxergaria o centro do mesmo, como um turbilhão de luz. É interessante perceber o eixo central como a manifestação do Movimento Absoluto, como uma manivela das máquinas, como característica vital do movimento futurista.
é interessante também pérceber pelo espaço-que-falta, pelos ínteres ( esqueci aquela palavra) pelo qual a noção conceitual e abstrata da garrafa da cabeça de cada um vai auto moldando a garrafa, e como seus espaços em aberto são propíceos para fazer respirar a obra, o espaço da ''frente'', que deixa observar o negativo na forma, abre caminhos para o abstrato, será que uma série de fotografias de todos os angulos possíveis da escultura satisfariam mais as noções de movimento, uma vez que uma foto precariza muito o movimento da obra em si, ainda pelo fato de que nós, público a trabalhar a obra, não podemos ve-la pessoalmente...
A obra tem um quê de intimista, no momento que lhe é acessível o núcleo, o que é um tema muito potente, atingir o cerne do pulsar de uma rotação que movimenta o sistema inteiro da obra, é o reflexo do futurismo como: vamos para além do opaco, para além dos objetos fechados em si, acessamos o raio-x, acessamos o movimento, a rapidez, o processo mecânico, somos praticamente deuses.( Usar em alguma obra isso , talvez o boneco estar aberto, deixando aparecer o que poderia ser um coração) .Tudo isso busca, de certa forma, acessar esse sistema auto-fornecedor de energia que se equipara ao pensamento. ( A problemática seria: a máquina não é auto-geradora, e os recursos vão ficando escassos, mas aí está a questão: o artista se esgotaria, ele teria esse poder de auto-geração, ou poderia , em algum momento, se desencontrar de sua criatividade?'')
*escultura, entre outras, o uso de materiais não-tra-
dicionais, como vidro, metal laminado, arame ou lu-
zes el étricas .')* vou ser futurista
é interessante como o picasso chega e consegue abordar essa multiplicidade de perspectivas, enquanto os futuristas ainda pensavam em algo nuclear, em algo como um pilar, ou mesmo os construtivistas, com a torre do Tatlin, que , querendo ou não , respeita um eixo vertical, o que picasso faz é dissipar essa nuclearidade, abordar perfis e o máximo de perfis representados possíveis, o que enriquece e traz um ar de confusão , sem saber onde começa, termina, com o fundo se mesclando com o plano em destaque.
quarta-feira, 9 de setembro de 2020
pra terminar
Acabo de escrever infinita. Não interpolei esse adjetivo por costume retórico; digo que não é ilógico pensar que o mundo é infinito. Aqueles que o julgam limitado postulam que em lugares remotos os corredores e escadas e hexágonos podem inconcebivelmente cessar – o que é absurdo. Aqueles que o imaginam sem limites esquecem que os abrange o número possível de livros. Atrevo-me a insinuar esta solução do antigo problema: A Biblioteca é ilimitada e periódica. Se um eterno viajante a atravessasse em qualquer direção, comprovaria ao fim dos séculos que os mesmos volumes se repetem na mesma desordem (que, reiterada, seria uma ordem: a Ordem). Minha solidão alegra-se com essa elegante esperança.
tb borges
A certeza de que tudo está escrito nos anula ou nos fantasmagoriza. Conheço distritos em que os jovens se prostram diante dos livros e beijam com barbárie as páginas, mas não sabem decifrar uma única letra.
Subiu até um suco gástrico aqui
Borges
3 Repito-o: basta que um livro seja possível para que exista. Somente está excluído o impossível. Por exemplo: nenhum livro é também uma escada, ainda que, sem dúvida, haja livros que discutem e neguem e demonstrem essa possibilidade e outros cuja estrutura corresponde à de uma escada
segunda-feira, 7 de setembro de 2020
Fazer hoje nem que vc fique até 3 da manhã , fodaci foi descansar agr faz as paradas
01:55 - Galois entregando trabalho na secretaria da academia mariana
(faixas no cenário mostrando que é o grande prêmio da matemática)
(trabalho precisa ter uma fácil identificação)
Cenário: secretaria
''-Taí ó, meu trabalho.''
porran tá maluco é palavra pra carai
Raspail intervém:
Misericórdia para esta criança frágil e valente, em cujo rosto o estudo já gravou, em rugas profundas, e no espaço de três anos, sessenta anos das mais sábias meditações; em nome da ciência e da virtude, deixem-no viver! em três anos, será o sábio Evariste Galois!mariana