sexta-feira, 3 de abril de 2020

2021

Em 2021, finalmente os direitistas fazem campos de concentração eficientes no mundo todo para negros, LGBTs, artistas desconfortáveis, mulheres feministas e pessoas não-cristãs/evangélicas, queimando, assim, 65 porcento da população brasileira. Todas as universidades globais sofrem colapso econômico e são bombardeadas por entidades anônimas. A Amazônia agora se chama Iam-Sonica, uma empresa de produção de tampas smart de caneta bic . As mulheres não feministas precisam se relacionar com os homens brancos heterossexuais para colonizar novamente o mundo. Os homens ficam cada vez mais agressivos porque grande parte das mulheres brancas heterossexuais não está a fim de compactuar com a ideia de procriação de emergência. Os homens ricos, desesperados, procuram laboratórios para fazer inseminação in vitro, mas estão sem técnicos terceirizados para realizar o ofício, foram todos demitidos pouco antes do colapso total. Os homens brasileiros, então, começam orar para seu Deus, cristão e punitivo, e ele diz que a resposta pra tudo é:
Mais sangue. Os homens começam a botar nos mesmos campos de concentração as mulheres que não são submissas ao sistema de procriação ás pressas, causando uma comoção muito grande nas outras mulheres que estavam de boas em ter quatro filhos em quatro anos. Logo, essas que, de acordo com os homens brancos br-nazis, estavam histéricas, e acabaram tendo que ir para o campo de concentração também.
No fim, sobraram poucas mulheres, e os homens começaram a lutar pela morte por elas. Oceanos de sangue lavavam as ruas de Jacarepaguá. Uma vez, os homens estavam com tanta vontade, e tão ávidos por conseguirem enfim,  deflorar e estar com uma mulher, ou, quer dizer, um vaso de deus divino, amém, que a mulher estava próxima dali e todos arrancaram uma parte dela pra ninguém ficar sem um pedacinho. "-Comunistas!" Gritaram homens brancos limpos para os homens bracos cheios de sangue da mulher, sentados em rodinha, apreciando seus pedaços de mulher. 
Os homens brancos limpos partiram pra cima dos sujos, e todos sacaram suas armas e se mataram lá mesmo, sobrando um, com um olho estourado, um braço e uma perna baleados, um dedo perdido e três costelas fraturadas, que pegou, com vigor, um pedaço do vestido ensanguentado da mulher, e sacolejou o mesmo como uma bandeira, dizendo:
-Ganhei!
Por fim, os homens tiveram um grande surto de ódio e começaram a caçar as mulheres, e elas foram todas parar no Mad Max.
Não , elas só morreram mesmo. 
Mas aí os homens não sabiam mais o que era arte, nem mulheres, nem universidades, e foram morrendo aos poucos, a indústria armamentista nunca lucrou tanto, novas bombas, novas explosões, mais gente morrendo mais rápido, otimização. 
O último humano existente, uma sábia do tibete, que sempre se isolou de tudo, na montanha mais alta do canto mais inóspito do planeta, fechou os olhos quando a penúltima pessoa do mundo pereceu, seu longínquo amigo de toda uma existência. Ela embalou seu corpo em folhas de bananeira, ungiu com os cheiros da floresta seu corpo, e o entregou ao destino, em uma canoa, o rio descendo a montanha. Sua alma de novecentos e cinquenta anos sentia o fim do império humano, ela sentia o fim de uma era, de alguma forma sabia que era a última Homo sapiens sapiens viva. Chegou o respirar, o fim dos bombardeios, o fim da violência doentia humana, o fim da crueldade, da objetificação, do ódio. Ela respira uma última vez, e, em um suspiro, a vida abandona sua casca. 
Em algum lugar de algum escritório dentro do palácio da alvorada, agora repleto de trepadeiras, rios, bichos do cerrado, há a impressão de um print de celular do ano de 2018. O papel está sujo, manchado e rasgado, e só é possível enxergar uma mensagem;
-GANHAMOS!
Um pássaro chega perto do papel, o avalia, inclina a cabeça para a direita, para a esquerda, para a direita novamente, para a esquerda novamente, pega o papel e leva para por em seu ninho.

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