tatu do bom?

Não,
não tá tudo bom
eu não consigo fazer nada
que me diz respeito
não sei respeitar meu próprio silêncio
Não sei me dar prioridade
"estou com saudade de você," não está
ninguém nunca está
é sempre estou com saudade de você me
ajudando com os meus problemas
não quero comer,
não quero pensar em projetos,
não quero falar,
nem sei como quero escrever,
acho que só quero escrever pra dizer
o quanto eu acho tudo chato,
eu me acho insuportável
e qualquer atividade de lazer que vou
não consigo achar nem um pouco divertido
as pessoas só sabem se divertir em paradas extremamente frenéticas
o que, para muitos, parece dizer quem sou
sou frenética enquanto há chama de energia,
enquanto há força
e essa força secou como se todo o petróleo do mundo
tivesse sido extraído
e agora sou um saco de órgãos sem osso
e sabe o que o outro, lendo isso, vai falar?
"Pelo menos você está recebendo para ______ insira algum projeto que estou inserida no momento."
É.
Vivo pelo dinheiro, agora, se consegui economizar um pouco,
não deveria estar me sentindo mal,
pelo contrário ,
vou pular carnaval,
vestida de coringa pego a faca e corto o sorriso na minha cara
para eu tentar mostrar que ainda estou feliz
e que minha alma não cospe e escarra
constantemente
na tentativa de respirar
e sei lá, não sobrou energia no meu corpo
pra tentar ser alguém que eu não sou
e quem eu realmente sou?
na busca pela identidade,
te respondo:
uma pessoa amarga
uma pessoa de saco cheio, que só quer ajudar
lá os artistas independentes e não fazer alarde
eu não sou nada, nunca fui nada,
quero que o meu nada se postergue e eu afunde no ácido
queria poder escrever coisas que não fossem tão negativas
mas foda-se
isso é quem eu sou
eu sou negativa pra caralho, não posso contar com ninguém,
talvez só com a minha mãe
todo mundo foi embora, todo mundo vai embora sempre
talvez eu tenha aprendido a ser tão utilitária que as pessoas foram indo aos poucos
sou uma pessoa insuportável que não se aguenta, e se eu parar de escrever meus
dedos vão cair, minha boca vai tentar alcançar alguma coisa para... tentar sair dessa
poça de lama e cimento em que estou imersa, eu boto a boca pra fora da poça
e vem um monte de gente tacar o cimento delas na minha boca
e eu ainda esboço um grande sorriso e digo
tá tudo bom
não tá tudo bom,
eu faço esporte físico,
não como bicho morto,
tenho uma produtora de vídeo,
tenho 600 textos não publicados,
mais de 10 quadros vendidos em menos
de dois anos,
várias pessoas que dizem ser meus amigos,
uma família que não quer me matar por eu ser artista,
mas não
não está tudo bom
eu sou uma farsa, que sempre que está sorrindo gostaria de estar chorando
mas nem chorar, porque as lágrimas secaram
eu só sinto uma apatia geral pelas pessoas
que corroem o meu corpo e mente assim como eu o faço
eu não me aguento, eu não presto
eu, eu , eu , eu
e quando tento falar com outras pessoas sobre os meus problemas
é o eu delas que preciso aguentar
não vejo saída, se não esperar as aulas voltarem
baixar a bola e pensar
é
ás vezes acontecem coisas ruins
ás vezes você não viaja,
você fica puta com tudo
tá tudo fechado,
a pessoa que você tá do lado é ligeiramente insensível,
 a ponto de simplesmente não perguntar o que está acontecendo
e eu entendo
não tem nada a ver com a pessoa
tem a ver com o meu ódio com tudo
só fico triste porque ele veio pra cá
no intuito de conhecer o Rio de Janeiro
E se depara com uma ótima amiga deprimida
quero bater com a minha cabeça na pedra
repetidas vezes
até sangrar e eu ver se consigo encontrar
um rubi, e não saber se esse rubi está
empapado de sangue, ou se é só um
vermelho muito brilhante.
Quero rasgar cada célula do meu corpo,
procurando o nada que me transborda,
procurando a parte da minha derme que diz
há motivos para se importar
Com o quê, eu pergunto
e ela me diz: se importe com o nada
com o não respirar das suas narinas
se importe com os cachorros de rua
abandonados quando não mais apetecem os donos
se importe com os cortes na educação
e eu digo
me sinto como se esses cortes fossem na minha pele
são lâminas entrando e saindo, raspando minha cabeça , tesouras
cortando minha língua ao meio, cilindros de metal entrando pelos meus ouvidos
e me deixando surda
e em meio disso, eu rio, danço, faço arte
arte, essa palavra que remete tanto a prazer
quero não querer mais nada
quero me encolher numa bola
e desaparecer de tudo
mas, espere
eu já desapareci de tudo
é quase como se estivesse morta
algo em mim pulsa como se quisesse viver
parece que tem uma luta constante dentro do meu corpo
e sempre que tento vir a superfície e dizer algo
sou tão relevante como um papel celofane voando ao vento
talvez eu seja tão inútil como um sentimento
ou um excremento
sou só o regurgitar dos fluidos de pessoas que vieram antes de mim
sou um resto,
não presto,
sou um alimento indigesto,
que parece fruta doce
mas te adoece
sou morte,
sou o oposto de sorte
não sou forte
sou fraca como uma estaca de papel
se desapareci
é porque o vento me varreu