domingo, 10 de setembro de 2017

PARADAS QUE ESCREVO NO ONIBUS II

AQUARELA

Ontem fui a um restaurante com a minha mãe. Havia um homem ao piano, um homem grisalho, com cerca de setenta anos, um pouco menos, um pouco mais, não sei. Ele tocava de maneira apaixonada em seu piano, se movimentando, expressando em sua face o mais sincero entusiasmo pela sua arte. Usava uma boina cinza e óculos de armação vermelha. Achei-o simpático, de prontidão. Lhe daria um abraco. [ Já estou nesse estágio, abracar desconhecidos]. Ele falava com os clientes do restaurante, interagia com eles. Falou com uns franceses, e ele sabia falar ( pelo menos o básico, não prestei atenção). Chamou um garotinho chamado Pierre de uns sete anos, para tocar com ele. O menino estava totalmente entusiasmado, e até tocou direitinho ao lado do senhor. Ele sorria um sorriso banguela, o menino, não o idoso.
E eu conversando com minha mãe, absorta em suas histórias. O garotinho volta correndo para sua mesa, e daqui a pouco eu escuto repetidas vezes um som ao microfone e nada do piano.
-Hello?
-Hey? Hello?
Era o senhor tentando entrar em contato comigo e com minha mãe. Ele estava sorrindo e acenando, que figura doce. Ele achava que éramos estrangeiras. Ela é, eu não. Sorrio pela atenção.
Minha mãe diz:
-Hello!
Ele pergunta de onde nós somos, e minha mãe responde que SOMOS da Sérvia. Somos, somos sim. Eu sou metade. ELE PEDE DESCULPAS POR NÃO CONHECER NENHUMA MÚSICA DA SÉRVIA. E pergunta, em Inglês:
-Any recommendation? (Alguma recomendação)?
E então, eu jurando que minha mãe diria algo, ela olha para mim e diz:
-Tem ideia de alguma música?
E eu respondo, brilhantemente:
-..................Eu não sei.... Éeeeee....
E durante esses dez segundos de silencio eu me sinto em um panico absurdo, pois fez-se breu total, ausência de som. Revistei as bibliotecas e os repertórios para piano na minha cabeça, e , surpresa, ELES ESTAVAM VAZIOS pois eu não toco piano, não ia pedir uma sinfonia de Bach... minha mente era um chapéu com um papelzinho apenas, e nele estava escrito:
-Aquarela!
E ele responde, feliz e surpreso:
-Ahhhhh, temos uma brasileiríssima aí! Aquarela, de Toquinho.
Ele começa a tocar, e eu em meu momento de caos não tinha ciência que ele era um músico profissional. Botei essa música simples que recorria a minha infância pois havia descartado esse fato... Quando ele começou a tocar, bateu essa nostalgia tao grande, de tempos quando eu tinha 4, 5 anos, e escutei essa música pela primeira vez... [botando a música para dar o clima, eu me emocionar e começar a chorar]. [CARA, eu não escrevi nada disso a seguinte, mas estou contando.
ESSA MÚSICA me faz pensar que é uma das primeiras que eu ouvi, que me recordo de ter ouvido, e ela fala de arte, e arte é uma das coisas que eu mais amo nessa vida, então sei lá, sinto uma conexão muito forte, é uma música simples, e só de ouvir as primeiras notas já me vem lágrimas aos olhos... Desenhar é a minha vida e sempre vai ser, é qualquer sentimento, tristeza, felicidade, e eu vou parar de desenhar só quando eu não respirar mais. Meus óculos estão com LÁGRIMAS mas eu não estou nem aí.]
Eu ouvia essa música no CD antigo, o piano era tao alto, tao claro, o som era... mágico. A cada tecla que ele encostava, parecia que ecoava no meu coração...
Eu lá na churrascaria, não conseguia nem falar. Lágrimas me vieram aos olhos, mas não escorreram para minha mãe ver o quanto eu sou idiotamente forte.
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É, Eu sou uma dramática chorona meio tosca mas pelo menos ainda sinto as coisas.

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