domingo, 28 de maio de 2017

Utopia, autismo e conforto

Sabe, pensando aqui, eu queria viver em ignorância, em um universo utópico e totalmente isolado de nossa realidade. Tomar leite com toddy e ver desenho animado, desenhar garranchos e brincar com meus pokemons. Não se preocupar com problemas de gente grande, preconceito, machismo, política, economia, essas coisas chatas. Não, eu queria me botar em uma bolha, ignorante ao mundo exterior, apenas sobrevivendo com minhas pequenezas e meu mundinho, bem autista. Eu, com meu cabelo preso, comendo besteiras, deitada em minha cama confortável, com roupas confortáveis, sem expectativas ou decepções, sem a ideia de um passado que me atormenta ou um futuro que me atordoa, apenas um corpo que quer absorver arte e cultura e aventuras sem me deslocar, uma vida fácil. Eu nem precisaria comer proteínas ou carboidratos, apenas leite adoçado com mel, e assim eu ficaria gordinha como um cordeiro, meu conteúdo seria macio como a carne de vitela. Eu tomaria banhos demorados, quentes, fervendo, e iria para minha bolha, ser uma feliz telespectadora, em meu ninho sem muita iluminação. Eu não teria preocupações, seria uma vida dopada, passiva, entorpecida. O silencio e a solidão em si me entorpeceriam, deixando dormente todo meu corpo. Dormir, eu dormiria quatorze horas por dia, em uma cama confortável, com cobertores e travesseiros. Eu apenas teria de tomar cuidado para não afundar nessa cama, de tanto que minha silhueta se encaixaria. Escutaria apenas ás musicas mais dóceis, mais calmas, e remanesceria eu na bolha, flutuando, com meu comodismo, minha preguiça. Eu não teria conflitos em relações sociais pois não me relacionaria com ninguém, apenas observaria em televisão e livros o que acontece com as pessoas, e tentaria entender, feliz por nada disso ser vivido por mim, minha mente seria imaculada, meu emocional não afetaria nada. É como se fosse um útero gigante, acho que é isso que eu quero dizer. O conforto, a segurança, a paz, a calidez, a felicidade de não ter nada com que se preocupar... Até que seu manto de alegria se desfaz em um segundo, te deixando com frio em um lugar que antes era acolhedor e agora está vazio e te empurra para encarar o mundo, e você chora...

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