domingo, 28 de maio de 2017
Utopia, autismo e conforto
Sabe, pensando aqui, eu queria viver em ignorância, em um universo utópico e totalmente isolado de nossa realidade. Tomar leite com toddy e ver desenho animado, desenhar garranchos e brincar com meus pokemons. Não se preocupar com problemas de gente grande, preconceito, machismo, política, economia, essas coisas chatas. Não, eu queria me botar em uma bolha, ignorante ao mundo exterior, apenas sobrevivendo com minhas pequenezas e meu mundinho, bem autista. Eu, com meu cabelo preso, comendo besteiras, deitada em minha cama confortável, com roupas confortáveis, sem expectativas ou decepções, sem a ideia de um passado que me atormenta ou um futuro que me atordoa, apenas um corpo que quer absorver arte e cultura e aventuras sem me deslocar, uma vida fácil. Eu nem precisaria comer proteínas ou carboidratos, apenas leite adoçado com mel, e assim eu ficaria gordinha como um cordeiro, meu conteúdo seria macio como a carne de vitela. Eu tomaria banhos demorados, quentes, fervendo, e iria para minha bolha, ser uma feliz telespectadora, em meu ninho sem muita iluminação. Eu não teria preocupações, seria uma vida dopada, passiva, entorpecida. O silencio e a solidão em si me entorpeceriam, deixando dormente todo meu corpo. Dormir, eu dormiria quatorze horas por dia, em uma cama confortável, com cobertores e travesseiros. Eu apenas teria de tomar cuidado para não afundar nessa cama, de tanto que minha silhueta se encaixaria. Escutaria apenas ás musicas mais dóceis, mais calmas, e remanesceria eu na bolha, flutuando, com meu comodismo, minha preguiça. Eu não teria conflitos em relações sociais pois não me relacionaria com ninguém, apenas observaria em televisão e livros o que acontece com as pessoas, e tentaria entender, feliz por nada disso ser vivido por mim, minha mente seria imaculada, meu emocional não afetaria nada. É como se fosse um útero gigante, acho que é isso que eu quero dizer. O conforto, a segurança, a paz, a calidez, a felicidade de não ter nada com que se preocupar... Até que seu manto de alegria se desfaz em um segundo, te deixando com frio em um lugar que antes era acolhedor e agora está vazio e te empurra para encarar o mundo, e você chora...
terça-feira, 23 de maio de 2017
Para quem for fazer ENEM e os outros também
Você quer passar no ENEM. Eu quis passar no ENEM. Qualquer estudante de ensino médio, hoje, foca em uma meta, e apenas uma. E não dá para dobrar.
Cursinhos pré-vestibulares, que ensinam musiquinhas, entre muitos outros métodos para você decorar absolutamente tudo dessa prova de inúmeras questões e tempo contado. Não vou mentir, para passar, eu assinei um curso pré-vestibular online, fiz um presencial durante um mês mais a escola focada absolutamente apenas no ENEM. Veem o problema?
Não estamos mais preocupados em formar cidadãos pensantes, que tem uma vida, não. Somos máquinas, dizem para fazermos a prova e nos sairmos bem, e depois... Não há vida após o ENEM? Pois é. Olhem que legal: eu passei, e estava tão acostumada a mandarem em mim, a me dizerem o que estudar, a despejar conteúdo na minha cabeça que eu, como em uma síndrome de Estocolmo, comecei a me convencer de que gostava do que me empurravam.
Não tive muito tempo para pensar, para escolher. Acabei escolhendo errado e quebrando a cara. Acontece. O que preciso enfatizar é o seguinte: Onde está a humanidade das escolas? Pilhas de simulados, um em cima do outro, em fins de semana, alunos com problemas psicológicos graves, e tudo com que se preocupam é uma prova que, na verdade não prova absolutamente nada.
Estamos mais preocupados com uma prova que vai durar dez horas, em média, que todo esse tempo que o aluno deveria estar se formando como um cidadão do mundo. Cidadania, direitos humanos, conscientização; onde está? Queremos formar pessoas melhores? Como? Botando-as para decorar as múltiplas fórmulas de matemática? Ou decorar todo o esquema da geografia física do Brasil e do mundo, mesmo se a pessoa não quiser trabalhar com isso? Ou sabendo as funções da mitocôndria. De cor, sempre. Pra que a pessoa precisa disso? Nem mesmo ela sabe.
O aluno está tão desnorteado que, como eu, sente-se incapaz de fazer escolhas, incapaz de ser ele mesmo. A máquina Mariana deu defeito outra vez, olhe só, não consegue mais estudar o que foi programada para, não consegue se forçar mais. A máquina Mariana quer artes, olha que falha enorme no sistema!
O cidadão não é visto como um ser vivo pensante, e sim mais um operário nesse formigueiro enorme. Me disseram que eu tinha que passar nessa prova, que essa era a etapa mais difícil, mas não foi. Não foi pois eu sabia o que fazer, eu tinha metas, eu tinha apoio, eu dizia ás pessoas:
-Não vou passar...
E as pessoas diziam que eu ia sim. De fato, ponto pra vocês. Passou o vestibular todos os apoios se retiraram, me deixando sozinha com as minhas escolhas. Eu ainda sei pensar? Porque acho que o sistema tentou me encaixar em uma caixa retangular apertada, e me fazer pensar pequeno e dentro do que os outros consideram padrão.
Fico feliz que tenha toda essa enfase em passar e dar um salto em sua vida, ó coleguinha que está lendo esse texto e pretende cursar alguma faculdade ano que vem, e aqui envio minha mensagem: estude, decore essas desgraças, mas pense no depois. Pense no que você quer para sua vida, peça ajuda a quem faz o curso que você tem interesse, busque saber, pesquise, acredite em mim, ISSO É IMPORTANTE, não faça como eu, caí de cabeça em um curso que NÃO TINHA IDEIA DE COMO SERIA. Não adianta você fazer a prova maravilhosamente e depois desnorteado e escolher algo por pressão, ou algo que você ache que "dá dinheiro".
O que o sistema não diz, pois não é proveitoso para ele, é que você pode SIM fazer algo que ama, e deixe sua família berrar e fazer escândalo pois o filhinho não quis fazer medicina, direito ou uma engenharia. O que o sistema não diz é que você pode ser feliz sim. Você ainda consegue pensar?Então faça o que você GOSTA DE VERDADE, e não o que você foi induzido a estudar mecanicamente durante todos esses anos.
A prova importa, mas você importa mais, a sua escolha, a sua pessoa, a sua opinião. Você não precisa ser uma máquina.
Cursinhos pré-vestibulares, que ensinam musiquinhas, entre muitos outros métodos para você decorar absolutamente tudo dessa prova de inúmeras questões e tempo contado. Não vou mentir, para passar, eu assinei um curso pré-vestibular online, fiz um presencial durante um mês mais a escola focada absolutamente apenas no ENEM. Veem o problema?
Não estamos mais preocupados em formar cidadãos pensantes, que tem uma vida, não. Somos máquinas, dizem para fazermos a prova e nos sairmos bem, e depois... Não há vida após o ENEM? Pois é. Olhem que legal: eu passei, e estava tão acostumada a mandarem em mim, a me dizerem o que estudar, a despejar conteúdo na minha cabeça que eu, como em uma síndrome de Estocolmo, comecei a me convencer de que gostava do que me empurravam.
Não tive muito tempo para pensar, para escolher. Acabei escolhendo errado e quebrando a cara. Acontece. O que preciso enfatizar é o seguinte: Onde está a humanidade das escolas? Pilhas de simulados, um em cima do outro, em fins de semana, alunos com problemas psicológicos graves, e tudo com que se preocupam é uma prova que, na verdade não prova absolutamente nada.
Estamos mais preocupados com uma prova que vai durar dez horas, em média, que todo esse tempo que o aluno deveria estar se formando como um cidadão do mundo. Cidadania, direitos humanos, conscientização; onde está? Queremos formar pessoas melhores? Como? Botando-as para decorar as múltiplas fórmulas de matemática? Ou decorar todo o esquema da geografia física do Brasil e do mundo, mesmo se a pessoa não quiser trabalhar com isso? Ou sabendo as funções da mitocôndria. De cor, sempre. Pra que a pessoa precisa disso? Nem mesmo ela sabe.
O aluno está tão desnorteado que, como eu, sente-se incapaz de fazer escolhas, incapaz de ser ele mesmo. A máquina Mariana deu defeito outra vez, olhe só, não consegue mais estudar o que foi programada para, não consegue se forçar mais. A máquina Mariana quer artes, olha que falha enorme no sistema!
O cidadão não é visto como um ser vivo pensante, e sim mais um operário nesse formigueiro enorme. Me disseram que eu tinha que passar nessa prova, que essa era a etapa mais difícil, mas não foi. Não foi pois eu sabia o que fazer, eu tinha metas, eu tinha apoio, eu dizia ás pessoas:
-Não vou passar...
E as pessoas diziam que eu ia sim. De fato, ponto pra vocês. Passou o vestibular todos os apoios se retiraram, me deixando sozinha com as minhas escolhas. Eu ainda sei pensar? Porque acho que o sistema tentou me encaixar em uma caixa retangular apertada, e me fazer pensar pequeno e dentro do que os outros consideram padrão.
Fico feliz que tenha toda essa enfase em passar e dar um salto em sua vida, ó coleguinha que está lendo esse texto e pretende cursar alguma faculdade ano que vem, e aqui envio minha mensagem: estude, decore essas desgraças, mas pense no depois. Pense no que você quer para sua vida, peça ajuda a quem faz o curso que você tem interesse, busque saber, pesquise, acredite em mim, ISSO É IMPORTANTE, não faça como eu, caí de cabeça em um curso que NÃO TINHA IDEIA DE COMO SERIA. Não adianta você fazer a prova maravilhosamente e depois desnorteado e escolher algo por pressão, ou algo que você ache que "dá dinheiro".
O que o sistema não diz, pois não é proveitoso para ele, é que você pode SIM fazer algo que ama, e deixe sua família berrar e fazer escândalo pois o filhinho não quis fazer medicina, direito ou uma engenharia. O que o sistema não diz é que você pode ser feliz sim. Você ainda consegue pensar?Então faça o que você GOSTA DE VERDADE, e não o que você foi induzido a estudar mecanicamente durante todos esses anos.
A prova importa, mas você importa mais, a sua escolha, a sua pessoa, a sua opinião. Você não precisa ser uma máquina.
quinta-feira, 18 de maio de 2017
RESISTIR
Quem me conhece sabe o quanto eu amo o caos.
18/05/17. Cinelândia, centro do Rio de Janeiro. Nas ruas, manifestação pacifica contra nosso presidente interino Michel Temer. Alguns brandindo bandeiras, gritando, esmurrando os punhos no ar, outros apenas acompanhando silenciosamente, dando corpo ao movimento. Lá estava eu, de calcas, blusa preta regata e minha mochila preta de praxe. Eu e mais três amigos. Marchávamos junto aos outros manifestantes pacíficos, até que eu vejo eles, atrás de nós, com seus casacos negros, alguns com máscaras respiradoras, escudos, garrafas, munidos de suas armas caseiras e sabe-se lá o que mais. Eles marchavam juntos, com suas camisas enroladas na cara, e eu só conseguia admirar a tamanha coragem que eles tinham de enfrentar a polícia assim, cara a cara, enquanto a maioria corria. Chegamos no ponto final, a praça da Cinelândia, onde fica o Theatro Municipal, o Cinema Odeon, a Biblioteca Nacional, dentre outros. Lá, começaram a discursar em um carro de um partido político qualquer, e eu estava plenamente entediada, embora sempre reagindo aos gritos e bramidos da população, unindo minha voz ás demais. Até que chega uma garota, também com uma blusa amarrada, e pergunta para um cara: -E então? E ele responde: "-Calma que vai começar..." Não sei quem iniciou, só sei que mais ao norte havia uma ruazinha com muitos fardados, e o tumulto começou de lá.
Ao estourar da primeira bomba, o povo se dissipou com uma rapidez impressionante. Foi bizarro, uma hora a praça estava cheia de gente aglomerada, outra hora ainda estava cheio, mas uma grande quantidade de pessoas foi embora. Eu não iria embora, eu não recuaria perante o som de bombas, eu lutaria, e, se não fosse minha amiga, lutaria mais ainda. Quando eles atiraram as bombas em nós, nos assustamos. O impulso era sair correndo para algum lugar calmo. Mas não fizemos isso, eu disse a mim mesma que resistiria, que não deixaria o movimento morrer, que não estaria lá para nada, que não me assustaria com barulhinhos. As bombas explodiam, saía gás lacrimogênio e de efeito moral, -POE A CAMISA NA CARA, eu gritava para meus amigos que ainda não haviam o feito. Segurei a mão de minha xará e cantávamos em coro :"Não adianta, me reprimir, esse governo vai cair". E mais, estávamos em uma praça enorme, a praça lá da Cinelândia, e chegou um momento em que a polícia realmente estava se aproximando. Diziam para não corrermos, para não se dissipar tanto, e assim o fizemos, aguentamos firme, vimos o caos se aproximando e lá fomos nós para uma rua apertada em direção a um beco com saída para três ruas. Nada de tumulto por lá, apenas seguimos, nesse ponto eu já tinha me separado de cinco dos meus amigos, agora recebi a informação de que um deles está machucado. Chegando a encruzilhada, vi quebrarem as vidraças de um banco aleatório, quebrarem lixeiras, tacarem seu conteúdo no meio da rua, tacarem fogo na porra toda e ver as chamas subindo, mas não foi muito alto não. Mesmo assim foi uma imagem linda de se ver, atearam fogo em vários pontos, aquelas imagens negras, inclinadas em direção das chamas, que cresciam, tudo isso com o gás por trás, pronto para fazer nossos olhos lacrimejarem. A polícia nos cercou por trás e pela esquerda, só havia a direita para ir, e mesmo assim , eles estavam nos pressionando, sem cessar com as bombas, mas meus olhos se recusavam a fechar, minha boca não ardia pois a blusa estava sempre na frente, cobrindo-a e meu nariz também. Enquanto alguns queriam fugir, desesperados, eu queria seguir o fluxo, estava confortável no olho do furacão, no limiar do caos, com todos gritando a minha volta e com corações disparando, e eu apenas me deliciando com aquilo, estava me sentindo viva como não me sentia há muito.Quando estávamos encurraladas, não sabíamos para onde ir, eu peguei na mão dela e disse para seguirmos onde está mais gente, que se nos dispersarmos seria pior. Fomos para a direita e fomos em direção a mesma praça de antes, demos uma volta. O ar estava muito impregnado com o gás, tinha gente passando mal nas calçadas, nas bordas. Meus olhos estavam começando a me incomodar bastante, e os da Mariana também, estavam vermelhos, lacrimejavam, ardiam, e eu sabia que não poderia colocar as mãos nos olhos em hipótese alguma, nessa hora estava bem difícil de seguir em frente. Houve um momento em que eu respirei fundo, pela boca, com a camisa abafando, e senti tudo queimando, boca, garganta, pulmões. Mas só essa vez. Comecei a ficar levemente desesperada, pedi a um cara que borrifasse leite de magnésio nos meus olhos e nos da Mariana, e deu tudo certo, estava sentindo que meus olhos estavam maravilhosamente bem novamente. Gritamos que resistíamos, mesmo encurralados, mesmo com toda a pressão da polícia, nós andávamos e gritávamos e cantávamos e... andávamos rápido novamente. Fato curioso: em uma de nossas escapadas, passamos por um bar, onde as pessoas estavam se amontoando lá dentro com um desespero crescente, e alguém responsável pelo bar estava LITERALMENTE, ESCALANDO AS PAREDES PARA TENTAR FECHAR O LUGAR, foi engraçado de se ver, ahhh o caos estampado no rosto das pessoas.... chegamos a praça novamente, com as caras brancas, levemente cansadas, sem saber para onde ir. Ficamos uns cinco minutos tentando nos decidir, pegamos uma direção, gritaram conosco dizendo que não deveríamos ir por lá, pois a polícia estava cercando novamente, e fomos seguir o fluxo, novamente, em direção a Carioca. Chegando lá, eu ainda queria presenciar o tumulto e a baderna, e a Mariana apenas queria ir embora. Quando começaram a correr na nossa direção, e o barulho das bombas e o gás acompanhando-os, Mariana disse para irmos logo ao Metro, e lá fomos nós, e assim acaba a aventura.
Não sou anarquista, mas também estou longe de apoiar quaisquer governos. Eu só quero ver o caos mesmo.
18/05/17. Cinelândia, centro do Rio de Janeiro. Nas ruas, manifestação pacifica contra nosso presidente interino Michel Temer. Alguns brandindo bandeiras, gritando, esmurrando os punhos no ar, outros apenas acompanhando silenciosamente, dando corpo ao movimento. Lá estava eu, de calcas, blusa preta regata e minha mochila preta de praxe. Eu e mais três amigos. Marchávamos junto aos outros manifestantes pacíficos, até que eu vejo eles, atrás de nós, com seus casacos negros, alguns com máscaras respiradoras, escudos, garrafas, munidos de suas armas caseiras e sabe-se lá o que mais. Eles marchavam juntos, com suas camisas enroladas na cara, e eu só conseguia admirar a tamanha coragem que eles tinham de enfrentar a polícia assim, cara a cara, enquanto a maioria corria. Chegamos no ponto final, a praça da Cinelândia, onde fica o Theatro Municipal, o Cinema Odeon, a Biblioteca Nacional, dentre outros. Lá, começaram a discursar em um carro de um partido político qualquer, e eu estava plenamente entediada, embora sempre reagindo aos gritos e bramidos da população, unindo minha voz ás demais. Até que chega uma garota, também com uma blusa amarrada, e pergunta para um cara: -E então? E ele responde: "-Calma que vai começar..." Não sei quem iniciou, só sei que mais ao norte havia uma ruazinha com muitos fardados, e o tumulto começou de lá.
Ao estourar da primeira bomba, o povo se dissipou com uma rapidez impressionante. Foi bizarro, uma hora a praça estava cheia de gente aglomerada, outra hora ainda estava cheio, mas uma grande quantidade de pessoas foi embora. Eu não iria embora, eu não recuaria perante o som de bombas, eu lutaria, e, se não fosse minha amiga, lutaria mais ainda. Quando eles atiraram as bombas em nós, nos assustamos. O impulso era sair correndo para algum lugar calmo. Mas não fizemos isso, eu disse a mim mesma que resistiria, que não deixaria o movimento morrer, que não estaria lá para nada, que não me assustaria com barulhinhos. As bombas explodiam, saía gás lacrimogênio e de efeito moral, -POE A CAMISA NA CARA, eu gritava para meus amigos que ainda não haviam o feito. Segurei a mão de minha xará e cantávamos em coro :"Não adianta, me reprimir, esse governo vai cair". E mais, estávamos em uma praça enorme, a praça lá da Cinelândia, e chegou um momento em que a polícia realmente estava se aproximando. Diziam para não corrermos, para não se dissipar tanto, e assim o fizemos, aguentamos firme, vimos o caos se aproximando e lá fomos nós para uma rua apertada em direção a um beco com saída para três ruas. Nada de tumulto por lá, apenas seguimos, nesse ponto eu já tinha me separado de cinco dos meus amigos, agora recebi a informação de que um deles está machucado. Chegando a encruzilhada, vi quebrarem as vidraças de um banco aleatório, quebrarem lixeiras, tacarem seu conteúdo no meio da rua, tacarem fogo na porra toda e ver as chamas subindo, mas não foi muito alto não. Mesmo assim foi uma imagem linda de se ver, atearam fogo em vários pontos, aquelas imagens negras, inclinadas em direção das chamas, que cresciam, tudo isso com o gás por trás, pronto para fazer nossos olhos lacrimejarem. A polícia nos cercou por trás e pela esquerda, só havia a direita para ir, e mesmo assim , eles estavam nos pressionando, sem cessar com as bombas, mas meus olhos se recusavam a fechar, minha boca não ardia pois a blusa estava sempre na frente, cobrindo-a e meu nariz também. Enquanto alguns queriam fugir, desesperados, eu queria seguir o fluxo, estava confortável no olho do furacão, no limiar do caos, com todos gritando a minha volta e com corações disparando, e eu apenas me deliciando com aquilo, estava me sentindo viva como não me sentia há muito.Quando estávamos encurraladas, não sabíamos para onde ir, eu peguei na mão dela e disse para seguirmos onde está mais gente, que se nos dispersarmos seria pior. Fomos para a direita e fomos em direção a mesma praça de antes, demos uma volta. O ar estava muito impregnado com o gás, tinha gente passando mal nas calçadas, nas bordas. Meus olhos estavam começando a me incomodar bastante, e os da Mariana também, estavam vermelhos, lacrimejavam, ardiam, e eu sabia que não poderia colocar as mãos nos olhos em hipótese alguma, nessa hora estava bem difícil de seguir em frente. Houve um momento em que eu respirei fundo, pela boca, com a camisa abafando, e senti tudo queimando, boca, garganta, pulmões. Mas só essa vez. Comecei a ficar levemente desesperada, pedi a um cara que borrifasse leite de magnésio nos meus olhos e nos da Mariana, e deu tudo certo, estava sentindo que meus olhos estavam maravilhosamente bem novamente. Gritamos que resistíamos, mesmo encurralados, mesmo com toda a pressão da polícia, nós andávamos e gritávamos e cantávamos e... andávamos rápido novamente. Fato curioso: em uma de nossas escapadas, passamos por um bar, onde as pessoas estavam se amontoando lá dentro com um desespero crescente, e alguém responsável pelo bar estava LITERALMENTE, ESCALANDO AS PAREDES PARA TENTAR FECHAR O LUGAR, foi engraçado de se ver, ahhh o caos estampado no rosto das pessoas.... chegamos a praça novamente, com as caras brancas, levemente cansadas, sem saber para onde ir. Ficamos uns cinco minutos tentando nos decidir, pegamos uma direção, gritaram conosco dizendo que não deveríamos ir por lá, pois a polícia estava cercando novamente, e fomos seguir o fluxo, novamente, em direção a Carioca. Chegando lá, eu ainda queria presenciar o tumulto e a baderna, e a Mariana apenas queria ir embora. Quando começaram a correr na nossa direção, e o barulho das bombas e o gás acompanhando-os, Mariana disse para irmos logo ao Metro, e lá fomos nós, e assim acaba a aventura.
Não sou anarquista, mas também estou longe de apoiar quaisquer governos. Eu só quero ver o caos mesmo.
DEEM ATENCAO ÁS CRIANÇAS
Estou no aeroporto, refletindo acerca da vida, até que me deparo com a seguinte cena: Uma criança de cerca de quatro anos, dançando para seus pais. Ela está toda arrumada, emperiquitada com vários acessórios, os pais adoram fazer isso, deixar as crias como pequenas árvores de natal. Ela está dançando, cantando com aquela voz aguda de criança, não conseguindo dizer nada muito coerente, tudo por um propósito apenas... Chamar a atenção dos pais. É evidente. Ela tenta botar a mão esquerda no pé direito, sem se curvar muito, e os pais continuam estáticos, sentados, conversando. Eles nem olham para a criança. A minha vontade é de parar tudo que eu estou fazendo e ir dançar com ela, dizer que tem alguém que se importa.
Não posso julgar de maneira tao direta, pode ser apenas um momento, uma situação inusitada nessa família, sei lá. Mas cabe ao raciocínio, tentem me acompanhar: Eu vejo isso e me sensibilizo na hora, sei como é isso, essa falta de atenção pela qual as crianças estão passando. Quando eu era criança, digo, quando tinha de quatro a dez anos, eu fazia o mesmo. Tentava chamar atenção dos meus pais, mostrando desenhos a eles, tentava interagir ao máximo com eles, eram meus heróis. Minha mãe sempre tentou ter o máximo de contato comigo, a despeito de não morar comigo, e meu pai tentava também, mas entrou em depressão e isso me afetou também, mas é papo para outro texto.
O que importa é o seguinte: eu me sentia ligeiramente abandonada quando criança, eu com meus desenhos, desenhando sozinha em meu quarto fechado, eu perguntava ao meu pai: -pai, o que eu desenho agora? e ele me respondia: - Não sei, filha... quando na verdade eu só queria ouvir sua voz, eu só queria me envolver com essa pessoa que se tornou tao distante. Eu ficava com meus probleminhas de criança, com ninguém para me ouvir, escrevia em diários que eu guardo até hoje, e, com a distancia da minha mãe, comecei a esconder coisas dela, e... voilá. Cresci uma pessoa extremamente sensível, insegura e ferrada emocionalmente, carente e meio desesperada por atenção.
Eles não me ouviram, e hoje eu ainda acho que eu não tenho valor algum. Eu sei, eu sei, vocês vão me dizer: ''ah não, você vale muito sim". Estou tentando me convencer disso a cada dia, mas é difícil.
É assim que vocês, futuros pais, querem ver seus filhos crescerem? Prestem atenção nos seus filhos. Parem de se importar tanto com a aparência deles, ajeitar seus cabelos e roupas, é importante, mas nao essencial. Conversem com eles, perguntem como foi a aula, insistam para que a conversa nao seja assim:
-Como foi a aula?
-Legal.
Se interessem, porra, eles são pessoas também, parem de menosprezar as descobertas de seus filhos, liberem um pouco desse seu tempo e ouçam, aconselhem , deem apoio, sejam os alicerces que vocês deveriam ser como pais, e não como adultos que fornecem água, comida, e roupa lavada. Seus filhos não são bonequinhos em uma estante para você exibir e dizer" -Meus filhos tiram ótimas notas.", mostrem que eles tem valor, larguem os Smartphones um minuto e ARRANJEM TEMPO para eles. Eles precisam disso, de verdade. Sejam humanos, abracem, beijem-os, estejam presentes, no futuro isso vai fazer diferença. Independente de você ser mãe ou pai solteiro, avó, avô, primo, prima, tio, tia, a questão não é de quem dá atenção a criança... SEJAM HUMANOS.
terça-feira, 9 de maio de 2017
Pó. Redes. Sad.
Vou aproveitar que a internet está ruim e tentar descrever
minha situação dramática. Será que é dramática mesmo? Será que eu estou inventando
coisas apenas para chamar atenção? Enfim, vamos lá.
Pó. É isso que há no meu interior. Vazia. Estou sem propósito. Cursando algo que eu não estou afim,
não me dá vontade de sair da cama e ir lá comparecer á faculdade, nem os meus
amigos conseguem me deixar para cima. E olha que eles são maravilhosos. Estou
com problemas para comer, perdendo o apetite o tempo todo, ficando muito em
casa, ficando a mofar em meus pensamentos destrutivos, só afastando as pessoas
ao meu redor, me distanciando de propósito, saindo de fininho, me ausentando
sem ao menos dizer tchau. De novo. Toda a energia com que eu comecei o ano está
se dissipando, não tenho forças para levantar da cama, quanto mais para
estudar. Eu penso em estudar já me dá vontade de chorar, sei lá. Não gostei do
curso, definitivamente, não é para mim. E nisso, estou ficando enclausurada, queria
modificar minha situação mas nada adianta, estou um caco só. Sinto que não tenho energias para lutar
contra isso.
Redes. Eu não tenho vontade de fazer nada, eu fico nessa cama e
espero mais um dia acabar, e mais um dia, e são apenas reclamações atrás de reclamações
por parte de mim, e me sinto sozinha, abandonada, cada vez mais vazia, um
aglomerado de sentimentos ruins que não consegue se extinguir, não acho paz,
acordo cansada, durmo cansada, acordo triste, durmo triste, presa nessas redes maléficas no meu cérebro, que se voltam contra mim, me apertam, me sufocam, me poem contra mim mesma, uma mosca presa em uma rede, imóvel, debilitada. Essa sou eu.
Sabe, me diziam, com treze anos, que isso não era nada, que
era apenas tristeza. Eu desenhava pessoas se matando, se mutilando, chorando,
era apenas tristeza. Aos quatorze, mesma coisa. Aos quinze, idem. Aos dezesseis
comecei a beber, e não bebia pouco. Quando percebi que estava tentando me
enganar ingerindo álcool, parei. Demorou para eu parar. Agora estou eu, com
dezessete, com esse vazio que me importuna e não me dá prazer em nada que eu faço,
é uma tristeza constante, que, embora eu tente suprimir saindo com alguns
amigos, sexo, jogos, ou até mesmo meus desenhos e textos... Não vai embora.
Está sempre lá, e quanto mais eu fico nessa cama, que me enraíza e me puxa mais
pra baixo, mais eu não tenho vontade de fazer nada.
Até quando vocês vão me dizer que isso não é nada? Que é da
idade? Que é só tristeza? Me disseram que eu tinha que me acostumar com a
tristeza, que ela é constante mesmo. Mas isso está me matando, me deixando em
um estado deplorável.
O motivo desse vazio? Não sei. Tenho uma família que me dá
dinheiro para ir a faculdade, tenho amigos que me fazem rir e ter com quem
contar, e gosto muito deles. Tenho comida, moradia, tive educação. Alguns me
chamariam de ingrata. Agradeço muito por ter tudo isso, mas essa gratidão não abafa
a tristeza e o vazio e a agonia constante que eu passo por.
Minha energia? Foi sugada, levada embora, não há mais a
Mariana sorridente e divertida do começo do ano. Não, apenas uma Mariana
cansada, sempre cansada. E com apenas dezessete anos. É engraçado como as
pessoas me condenam pela minha idade, VOCE TEM 17 ANOS, NÃO PODE ESTAR CANSADA,
NÃO PODE ESTAR TRISTE, NÃO PODE TER PROBLEMAS. Genial.
Sad. Ligeiramente muito triste, levemente muito cansada, exausta.
Cambio desligo.
terça-feira, 2 de maio de 2017
Novamente Sinking
Mais ou menos
Eu não gosto muito da minha pessoa, pois...
Me acho irritante, chata. Acho que já comentei aqui alguma
vez. E sei que tem muitos que concordam comigo. Perdoem todos os meus exageros,
e eu falando alto, e eu sendo hiperbólica o tempo todo, querendo chamar atenção.
É maior que eu.
Tentem entender o meu lado.
Os outros falam que eu sou engraçada, acho que eu sou só um
pouco, ás vezes chego a ser palhaça e me detesto por isso.
Sei desenhar, mas não desenho MUITO bem a ponto de usar isso
para alguma coisa útil, é meramente decorativo.
Sou inteligente, mas não MUITO inteligente, no meu curso
posso citar uma gama de pessoas muito mais inteligentes. E, no caso, nem me
considero realmente inteligente, só capaz de decorar coisas e interpretar
paradinhas, que, no final não vão servir para muita coisa. Inteligência é
superestimada.
Falo alguns idiomas, mas o único que falo realmente BEM é inglês,
e isso todo mundo fala. De qualquer jeito, não serve para muita coisa também,
além de eu ver algumas séries sem legenda.
Não sou feia, mas não sou bonita, não sou aquela pessoa que você
vai dizer: ela é bonita, nem aquela que comentarão: ela é feia de doer. Não,
meu pai é feio, minha mãe é bonita, eu saí a média entre eles, mais uma vez,
mediana, mais uma vez insuficiente.
Queria ser boa nos esportes, mas, de novo, sou bem mediana, não
consigo correr muito, por exemplo, em basquete ou futsal, porque respiro apenas
de um lado, fico arfando logo, enfim, sou bem mediana também, não faço besteira
mas também não sou elogiada.
Escrevo bem, acho, mas não escrevo MUITO bem. Sou uma pessoa
média, que fica perambulando por aí. Tendo ser carinhosa e afetuosa, mas acho
que excesso disso é ruim, tento calibrar, nunca dá certo, me perco entre minhas
muitas médias.
Não tenho dons, não tenho atributos legais, sou uma média
ambulante que pernoita por aí, tem alguns amigos que me circundam e me
divertem, mas... Não sei. É meu vazio existencial falando mais alto, novamente.
Para terminar, citarei um trecho de uma conversa ontem:
-Mariana, você vai ficar sozinha aí? (em uma rua escura e não
movimentada)
-Não tem problema, o único pertence que realmente vale
alguma coisa é meu celular.
-Nossa, e a sua vida?
-Sou desapegada a ela. Tem oito bilhões de pessoas no mundo,
um a menos não faz diferença. Se eu morrer, se você morrer...
E então a pessoa diz algo que me deixa meio mal:
-Claro que não, se eu morrer como fica o basquete? E o
futsal? Se não for eu, a gente não ganha premio, eu sou importante.
Me calei. Realmente, ele faria diferença. Pois ele faz essas
coisas bem , as pessoas precisam dele. Ele é útil.
Eu... Não. Não sou útil. Sou substituível. Sempre. Uma
pessoa média, sem muita coisa a oferecer, eu não faria diferença. Seria apenas
mais uma.
Queria fazer alguma coisa muito bem. Lutar por isso, entrar
nessa causa de coração e não abandonar nunca mais, parar de ser um ponto entre
extremos, eu sou uma congregação de semi-rótulos infinitos que se misturam e me
fazem uma pessoa confusa, sem saber o que quer ou do que gosta.
Não tenho mais o que dizer, acho que é isso.
Mentira, eu sempre tenho o que falar. Eu falo TANTO, que as
pessoas ficam enjoadas de mim, falam que eu falo demais, e é verdade. Por isso,
eu escrevo, e está aqui para quem quiser ler, mas o que eu sei é que isso,
acima de tudo, é para eu botar para fora tudo isso que me aflige o tempo todo.
Ah, e para quem não sabe: Mau humor é apenas você transmitir
o seu estado de vida ruim para os outros, é a tristeza impressa no seu rosto e
na sua fala e em tudo que você faz. O meu bom humor não tem a ver com ausência de
tristeza, eu apenas a escondo bem.
Até mais, assinado pela espectadora da vida.
Assinar:
Postagens (Atom)