Um presente, oferta, um mimo a existência. Pedra fundadora da consciência e existência, marco zero de uma cosmogonia da poética de Gabriel Caetano: Sua poética tem mapa, tem raízes que se direcionam a espaços, corpos-objeto que fazem-se sujeitos e marcam sua própria trajetória:
O trabalho visa estabelecer uma analogia com o corpo humano, em que o espaço desprovido de matéria, o quadrado claramente talhado por mão humana em uma mesa em Juiz de Fora, recebe o contato de outro corpo como diálogo, uma Pedra, apanhada por entre as andanças do artista. Ao estabelecer espécie de jogo-ritual de preenchimento de quebra-cabeças, Gabriel Caetano busca não completar ou ressignificar, mas agraciar, cumprimentar os materiais, que a matéria orgânica que se matrializa na forma de musgo se comunique com o corpo, este outro, que é inserido.
Assim, Gabriel Caetano tece mais um conceito muito bem pontuado em sua pesquisa e obra, o de conectar subjetividades, através da projeção afetiva e sensorial. O contato entre os dois corpos, mesa ( instância de recepção, corpo-objeto-receptáculo) não necessitaria efetivamente englobar e tomar posse do tijolo em questão, o corpo-inserção-outro , uma vez que sua proposta é justamente a conversa, a assimilação e o abraço entre os seres , cada um atribuído a sua respectiva aura simbólica afetiva.
Pode-se estabelecer analogia com a forma dos seres humanos de se relacionar com o que lhes cerca, uma proposta de relação em que percebemos o fenômeno de transpassar afetivamente o ser, sem prejudicar ou invisibilizar sua identidade própria, mas, por mais que tenhamos cores formatos, que os encaixes não sejam precisos, como pode-se ver a partir dos registros fotográficos, consigamos estabelecer a conexão primordial, a aceitação, o fugaz sopro de alívio, o olhar gratificante no final do dia, reconhecer o outro como instância legitimadora, e em vez de apontar as inúmeras diferenças, olhar para dentro da matéria e perceber que somos o eterno retorno ao útero afofado em que germinam e perecem seres.
Assim é Bloquinho de Terra no Quadradinho: Um retorno a terra fofa, um passeio não linear cujas arestas foram aparadas, uma conversa silenciosa, o registro, tão efêmero quanto o bater de asas da borboleta, a quem lhe interessa a inserção deste corpo frágil, diminuto, a ser envolvido e abraçado pela instância maior, uma vez que, ao passar, o espectador mal poderia vislumbrar o corpo ali, envolvido, englobado, protegido pela matéria que lhe é análoga em seu cerne?
Talvez seja sobre a não necessidade do monumento extra-ordinário que se equipara e compara com aranha céus, através de um gozo narcísico e a batalha pelo ''Mais'', mas a documentação e o processo como o momento de abraço, de contato de mãos, constituídas por minérios, cálcio, carbono, água. Gabriel Caetano propõe uma dança leve, um ritual de agradecimento ao anti-monumento, a intervenção que visa ao aconchego, ao carinho, ao cuidado, e não a dominação e controle de territórios.
Gabriel Caetano visa agraciar e contemplar a natureza em cerimonia ritualística, para estabelecer, poeticamente, uma meta-viagem no tempo, em que as cicatrizes, marcas e histórias de um corpo vibrem e façam ressoar nas estruturas do outro. Que os musgos transitem entre os corpos e, assim como o Artista, intervenham e brinquem, estimulem e agraciem o local com suas cores e cheiros.
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