Há essa barrinha, que é praticamente um monte de nozes, avelãs, nibs de cacau, côco, amendoim, tudo. Ela é o sonho. Ela é mais gostosa que aquele chocolate que derrete na boca, porque ela é bem "temperada" com canela e especiarias.
Ia comprar dois pacotes no mercado, mas sei que elas são caras bagarai. Duas barrinhas são tipo, sete reais. Aí beleza, comprei , aproveitando a virada do VA, que, por sinal, já foi totalmente descarregado, mas antes de comprar, no mercado, eu já estava comendo a barrinha.
Isso que eu quero canalizar a energia sexual. Estava sentindo como se eu realmente estivesse depositando toda a minha ansiedade na ânsia de comer a barrinha, de consumir, a necessidade do discurso, a necessidade do alimento lá, dançando pelas minhas entranhas. Por que?
Porque tenho medo do futuro, tenho medo do cara da esquina com cara de filho da puta, tenho medo de quem vou me tornar, a ansiedade estava dizendo: coma algo, antes que eu mesma te consuma.
Comi a barrinha no mercado, antes de pagar. Paguei, vim pra casa.
Chegando em casa, arrumo as coisas devidas em seus lugares, menos a outra barrinha. Eu já estava focando na outra. Comi a primeira tão rápido, que mal tive tempo de apreciar a canela, as nozes, as amêndoas. Só de digitar já fico com água na boca, pois bem. A lembrança de eu (não comendo, mas) devorando, deglutindo, engolindo a barrinha sem mais nem menos me veio a cabeça. Comi a primeira barrinha ás 22h, e para vocês terem ideia, diminuí tragicamente essa droga pesadíssima que é o açúcar, da minha vida, emagreci seis quilos, mas de vez em quando, quando como açúcar, como o que é normal acontecer, você quer mais.
Procurei pela barrinha, essa que eu comi mais cedo com tanta pressa, procurei de forma desesperada, como se o próprio ato de procurar fosse a minha ansiedade. Procurei dentro do meu estojo, dentro do armário, revirei todas as comidas que tinha acabado de comprar, cheguei a olhar dentro de DUAS lixeiras. Olhei dentro da geladeira, falei em voz alta, barrinha, barrinha, fiz uma analogia a um episódio de Padrinhos Mágicos em que o Cosmo perdeu a varinha dele, e ele fica procurando e achando várias coisas e dizendo em voz alta, varinha, varinha, enfim.
Pensei que os meus colegas de apartamento poderiam ter pegado minha barrinha, mas antes de nutrir qualquer sentimento negativo, dei mais olhadas. Abri e fechei gavetas, pensando :
Deveria ter aproveitado mais a desgraça da barrinha. Será que a perdi para sempre?
Resignada, frustrada, mas ao mesmo tempo pensando:
Era pra ser. Se isso foi um sinal para eu aproveitar as coisas com calma e desfrutar propriamente do prazer das coisas simples, beleza, universo, saquei.
Fui deitar para continuar a transcrever as falas do documentário.
A barrinha estava em cima da cama, o tempo todo.
E eu é que não vou comer ela agora. Vou deixar para quando eu estiver disposta a viver essa experiência, fechar a porta do meu quarto, botar uma música, acender um incenso, botar um filtro de cor verde água na luz.
A vida é uma barrinha de castanhas que é pseudo perdida, ela está aí o tempo todo, basta esquecer um pouco dela.
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