Chega a amiga de Luana, ela que morava no cogumelo rosa em forma de cristal.
Luana morava no cogumelo verde em forma de gota.
-Olhe só minha capacidade incrível de mudar de mindset.
Dizia a amiga de Luana, com oito anos.
-Como assim, mudar de mindset? indagou Luana, pensativa.
-Quando eu estou de saco cheio da minha personalidade e da arte que eu produzo desse jeito, eu mudo de cara, mudo minha forma de pensar inteira.
-Mas isso é meio psicopata, não é não?
A cara da vizinha de Luana começa a derreter, os olhos começam a cair, conforme o que resta da boca da vizinha tenta dizer algo.
-Uau, é mais uma metamorfose, dizem os amigos de Luana, olhando para sua amiga.
Essa mesma amiga, agora com uma cara inteiramente nova, começa a arrancar suas asas de cristal, enquanto as asas de Luana são de pó de lua cintilante.
A amiga de Luana fica de boca fechada, conforme ela vai segurando firme em suas asas e arrancando pele junto, deixando muito sangue jorrar de suas costas machucadas.
Luana pensa:
-Ela está trocando de asas. Que lindo.
A amiga de Luana desmaia de dor, e enquanto ela desmaia, asas de sangue tomam vida e crescem sobre a forma dela, fortes, rubras, de um carmim lindo e reluzente.
Ao seu redor, Luana vê os outros colegas seres da floresta e da natureza quebrando suas carapaças, passando por metamorfoses, engolindo suas unhas, cuspindo seus cabelos para fora.
E ela se sente desnorteada.
"Tudo está mudando, eu deveria mudar também?"
"Eu me sinto confortável como sou, preciso realmente mudar, é necessário?"
Luana encontra com sua amiga que tem uma árvore de diamantes, e construiu uma casa na árvore para ela.
-Olha minha árvore, eu rego todos os dias com o meu gozo.
Luana olha, suspira, responde:
-Bonita árvore.
Luana tenta comprar asas. Vai a loja de asas e fala :
Quero um lindo par de asas e um novo mindset.
Ela procura entre asas feitas de rosas para cheirarem bem, de laranja para serem apetitosas, de penas de pássaros para poderem ser leves e ligeiras.
Luana compra um lindo par de asas.
As criaturas da floresta estranham o par de asas de Luana. não a identificam como mais uma fada.
As fadas olham para Luana e dizem:
-Querida, nós não somos fadas. Nós somos demônios disfarçados que vamos corroer seu imaginário, destruir sua ilusão, você também não é uma fada. Nós podemos ser só atrizes e atores, se você quiser ser uma fada, vai ser uma fada longe daqui, porque aqui nós queremos só sugar a sua alegria de criança inocente.
Luana chora e diz:
-Mas eu sou, eu também tenho asas! Eu sou um ser mágico, lindo e brilhante, como vocês!
A fademônio ri um riso irônico e sem graça, e diz:
-Você só tá olhando pras nossas capas, pras nossas cascas. Tenta ver além disso.
Luana diz, em meio a lágrimas:
-Não!! Eu sou como vocês!! Eu sou um ser mágico que merece estar aqui dançando nas florestas, cavalgando renas e dançando com marimbondos!
Luana tenta se aproximar das Fademônias, que silvam para ela como gatos endiabrados:
-TSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS.
As criaturas, de asas brilhantes e olhos claros, deixam transmitir suas trevas interiores, a luz da floresta se apaga por um milésimo de segundo, e Luana, a criatura que ainda não entendeu qual é seu desígnio mágico, estava olhando nos olhos de uma das fademônias, de dentro da pupila dela saiu a imagem de uma serpente indo dar um bote na alma de Luana, o susto foi tamanho que ela caiu pra trás, e a floresta começou a se despedaçar e desaparecer, conforme ela caía em um abismo, que a distanciou das fademônias, e ela começou a se culpar por não ser uma delas.
-Preciso estar na forma de uma fada, ou nunca serei uma. Disse Luana, triste, chorando no início do caminho de sua jornada, no cimento frio de uma cidade quente, e assim ela foi percebendo que não era fada, nem demonia, e que se quisesse, seria uma criatura muito bizarra, ou muito comum, mas que ela acharia o lugar em que as criaturas a aceitassem independentemente de sua espécie, de sua forma, um lugar onde compreendessem sua verdadeira essência, e assim começou sua busca.
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