Ela passava e viravam o nariz
ela deitava com quem que a deixasse
encatadamente feliz
Quem se atrevesse
e a satisfazesse
Ela dançava e exalava
-Vulgar!
Os quadrados da tela não cessavam de clamar
E ela, com seus gozos, não se deixava abalar
ela tomava banho de mar e piscina
e também de chafariz
falava com os moradores de rua
todos já a viram sangrar
Sem necessariamente parir
todos já a viram nua
E das poças surgir
um belo dia, andava tranquilamente
lhe xingam :- perua
e, cansada de todo o mal tratar
foi uma velha feiticeira consultar;
chegando até ele, pôs se a chorar
-Ó feiticeira, o que posso fazer
se com mil pessoas e mais uma quero deitar?
Como posso essa fama apagar
A feiticeira olhou em seus olhos profundos
Pegou suas mãos nas suas
e disse
''Minha amiga,
Impossível apagar coletiva memória
faça da tua saga, história
transforme dor em glória
és senhora do próprio destino
Beba leite quente, cerveja, vinho fino
desfrute do que a vida tem a oferecer
Não deixe te apontarem na cara te apontarem dedo
Brinque com o ranço do outro
Explore o inevitável medo
De ser amado independente de aparências
Aproveite e descubra novas experiências
o que os outros vão dizer
teus espectadores, estáticos
esperando alguma coisa acontecer
seja agente, ativa, estrela
Você, mulher, é suja, imunda
Simplesmente por ser enigmática
Não permita que no negativismo dos outros afunda
Você é mar, cachoeira, enchente
É imensidão, anciã, profunda
Não se faz bom marinheiro
em mar calmo e ameno
Teu semblante é sereno
E tu vales o mundo''
Ela ponderou por um segundo
Respirou fundo
e disse
''-Mas o que fazer
Com as flechas palavras que vem a me atingir?''
A feiticeira nem pensou, já respondeu
"-Pode-te chorar, ganir e afligir
Ou pode aceitar, de peito de aço
Diga
Sei o que sou, sei o que faço
Passe com mãos cheias de sangue
Não és aromatizador para ter cheiro de flor
Seja tu, independentemente do que for
se banhe no mais não sanitário mangue
E saiba quem és"
A mulher olhou para seus calejados pés
Do templo foi-se embora
Hoje ela não tem vergonha
brinca, canta e sonha
Em sua porta
uma legião de pessoas implora
pelo seu amor gosmento
mas ela não mais anda
por piso duro de cimento
ela de coração aberto ama
grita, mas de deleite
se joga, se banha
dane-se o falar, dane-se a fama
se diverte, ela e os porcos
felizes na lama.
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