O Projeto
Brechas - Exposição mediada pela artista visual Mariana Mitic, é um projeto que tem como objetivo a imersão do público-espectador e sua configuração como público-participante, através da proposta sinestésica que visa a ativação dos sentidos vinculados a memória afetiva, a artista busca suscitar um movimento entre o tensionar e relaxar, atravessando os corpos que vivenciaram uma política e memória de choque durante a pandemia do NovoCoronaVírus.
Por que os espaços imersivos? A autora do projeto, enquanto multi-artista, poderia expor quadros, pinturas, retratos e trabalhos gráficos, mas um dos objetivos deste projeto é a participação e possibilidade de assimilação dos sentimentos e desejos deste Outro mediante signos comuns. A mesma percebeu como necessidade abarcar outros sentidos que não apenas o visual, uma vez que a sociedade hoje se baseia em uma indústria visual, a preocupação excessiva com a aparência de algo que é visto através da tela.
Com isso, a mesma busca um espaço que possa realmente atingir os corpos e transpassar suas subjetividades, através do paladar, audição, olfato e tato, busca tirar a ênfase em ''o que preciso ver para continuar sendo'' mas ''o que posso sentir para lembrar que existo e explorar as possibilidades sinestésicas que o lugar enquanto seguro pode proporcionar''.
A partir disto, a mesma se propõe a delimitar espaços em que o sujeito pode erguer para si um compilado de memórias, afetos, adentrando a subjetividade que convida a achar uma brecha diante do frenesi cotidiano: Assim, a mesma estabelece três espaços: Céu, Mil Estrelas e Cosas Malas, espaços em que o espectador pode transitar livremente e vivenciar o que lhe é proposto em cada ambiente.
- Na primeira sala, Céu, com nuvens pintadas sob as paredes, o arranjo instalativo com gaiolas abertas traz a tona a questão da necessidade de deixar ir, deixar de aprisionar preceitos e memórias, recortes afetivos, narrativas deturpadas com o tempo. Pendurados, simultaneamente com as gaiolas, há os poemas da artista dobrados em formato de origamis de pássaros, pendendo com o vento. Os poemas são como estes seres aprisionados que o desejo lança e atravessa os corpos, a poiesis que se estabelece nos intervalos do modus operandi frenético do dia a dia, uma vez que foram gerados em momentos inusitados do cotidiano mediante um turbilhão de estímulos.
A proposta do projeto de Mariana Mitic é exatamente se atentar por um coquetel delimitado de estímulos, todos estes pensados especificamente para proporcionar a esfera imersiva que categorize o espaço como uma espécie de contraste entre o Oásis poético e as camadas de sofrimento e ansiedade escondidas por trás das telas dos aparatos que nos cerceiam.
- Na segunda sala, Cosas Malas, possivelmente localizada espacialmente por entre as duas salas, Céu e Mil estrelas, uma instalação denominada ''Ansiedad y unas cosas Más'' caixa localizada no meio da sala, marca a sala que tensiona a partir do olhar doloroso, a ansiedade, depressão, a agonia diante do confinamento, além de uma brecha na expressão da própria artista, como um manifesto e um grito no escuro, uma vez que os sentimentos denominados ''negativos'' são constantemente escondidos, maquiados, deixados de lado em prol de uma tentativa de mostrar a virtualidade orquestrada.
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