quinta-feira, 26 de maio de 2022

 Desconforto?

Desconforto

Desamparo

Desgosto

Desconforto

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA

Grito, Grito, Grito

Podexá

Aqui eu sou perito

pode se preparando 

que lá vem atrito

Te te te te te te te

Tenho dez balas

Ação comedida 

Vou ficar ali 

Perto da saída 

Seja bem-vinda

aqui é passagem só de ida 

A primeira bala é pra você 

Pra adoçar a sua vida 

Te lembra desde pequeno 

Devorar e passar mal 

Bala não é comida 

Cárie é caro implante canal 

Fila de espera para além do itinerário 

De de de de 

Decida 

 celular ou plano dentário 

Te te te te te te te 

Tenho nove balas 

Nesse embalo nao sonho 

Não bolo, não pão 

Ninho, Danone, mate leão 

Um expresso 

A próxima vai prum cara no congresso 

Branco rico velho de terno 

Imagem de fácil acesso 

Franco rindo tenro prostrado 

Se ri em pé , chora deitado 

Te te te te te te te

Tenho oito balas 

vamo ali pras salas de reunião 

Das novas ordens que regulam então 

Qual o peixe a ser engolido 

Em meio a multidão 

É, cara na lua 

Essa é sua

Enquanto uns deitam na madrugada 

Sangra ferida e alma nua 

Num foguete vai sanar a saúde tua

Vai pro carnaval 

Nas Maldivas ou arraial 

Tua grana sanaria a fome mundial

Te te te te te te te te 

tenho sete balas

Essa é pro cana a paisana

Seu semblante fechado

Me deixa enojado

O fuzil é pra te violentar

Sem disparar

 intimar cu olhar

tu não tem poder nessa porra

Então dessa vez minha rima vai te matá

Não preciso dizer outra vez

Tanto faz matar pobre trinta ou três

Quem mais consome a porra do pó são VOCÊS

 te te te te te te tenho seis balas

Latifundiário desprezível

Acabando com o ar consumível 

impotente em frente

a chacina diária

ces são a cárie

consumindo e transformando em cinza

ceifadores da barbárie

eu digo pra você

guarda uma grana a viagem dos sonhos pode não ser Paris

VAI PRA AMAZÔNIA VER A FLORESTA

NÃO, NÃO DIMINUA O SOM

ANTES QUE O NOME DELA VIRE ''AMAZON''

Queria jogar no teu corpo esse combustível

Matam mais que malária

Casa grande tá aí 

Diria que é a raíz do mal 

mas vocês não tem raíz 

Só vieram de fora e tão matando a que existe aqui 

meu incômodo é ver terra fresca afundando no ócio

E VOCÊS SÓ SE IMPORTAM COM O AGRONEGÓCIO 

te te te te te te te tenho cinco balas

Essa vai pro lar 

Do cara que bate em mulher 

Que precisa que ela lave a colher

pra enfiar na boca 



terça-feira, 17 de maio de 2022

 eu só

eu só queria alguém

que lesse meu poema comigo

não precisa ser amigo sabe

parece tão difícil frágil


quarta-feira, 11 de maio de 2022

O Projeto

 O Projeto 

Brechas - Exposição mediada pela artista visual Mariana Mitic, é um projeto que tem como objetivo a imersão do público-espectador e sua configuração como público-participante, através da proposta sinestésica que visa a ativação dos sentidos vinculados a memória afetiva, a artista busca suscitar um movimento entre o tensionar e relaxar, atravessando os corpos que vivenciaram uma política e memória de choque durante a pandemia do NovoCoronaVírus.     

Por que os espaços imersivos? A autora do projeto, enquanto multi-artista, poderia expor quadros, pinturas, retratos e trabalhos gráficos, mas um dos objetivos deste projeto é a participação e possibilidade de assimilação dos sentimentos e desejos deste Outro mediante signos comuns. A mesma percebeu como necessidade abarcar outros sentidos que não apenas o visual, uma vez que a sociedade hoje se baseia em uma indústria visual, a preocupação excessiva com a aparência de algo que é visto através da tela. 

Com isso, a mesma busca um espaço que possa realmente atingir os corpos e transpassar suas subjetividades, através do paladar, audição, olfato e tato, busca tirar a ênfase em ''o que preciso ver para continuar sendo'' mas ''o que posso sentir para lembrar que existo e explorar as possibilidades sinestésicas que o lugar enquanto seguro pode proporcionar''.

A partir disto, a mesma se propõe a delimitar espaços em que o sujeito pode erguer para si um compilado de memórias, afetos, adentrando a subjetividade que convida a achar uma brecha diante do frenesi cotidiano: Assim, a mesma estabelece três espaços: Céu, Mil Estrelas e Cosas Malas, espaços em que o espectador pode transitar livremente e vivenciar o que lhe é proposto em cada ambiente. 

-    Na primeira sala, Céu, com nuvens pintadas sob as paredes, o arranjo instalativo com gaiolas abertas traz a tona a questão da necessidade de deixar ir, deixar de aprisionar preceitos e memórias, recortes afetivos, narrativas deturpadas com o tempo. Pendurados, simultaneamente com as gaiolas, há  os poemas da artista dobrados em formato de origamis de pássaros, pendendo com o vento.  Os poemas são como estes seres aprisionados que o desejo lança e atravessa os corpos, a poiesis que se estabelece nos intervalos do modus operandi frenético do dia a dia, uma vez que foram gerados em momentos inusitados do cotidiano mediante um turbilhão de estímulos.

A proposta do projeto de Mariana Mitic é exatamente se atentar por  um coquetel delimitado de estímulos, todos estes pensados especificamente para proporcionar a esfera imersiva que categorize o espaço como     uma espécie de contraste entre o Oásis poético e as camadas de sofrimento e ansiedade escondidas por trás das telas dos aparatos que nos cerceiam. 

-    Na segunda sala, Cosas Malas, possivelmente localizada espacialmente por entre as duas salas, Céu e Mil estrelas, uma  instalação denominada ''Ansiedad y unas cosas Más'' caixa localizada no meio da sala, marca a sala que tensiona a partir do olhar doloroso, a ansiedade, depressão, a agonia diante do confinamento, além de uma brecha na expressão da própria artista, como um manifesto e um grito no escuro, uma vez que os sentimentos denominados ''negativos'' são constantemente escondidos, maquiados, deixados de lado em prol de uma tentativa de mostrar a virtualidade orquestrada.

 https://we.tl/t-2HtNHC7Qcw

Notas sobre mulheres, raça e classe de Angela Davis

 Mas as mulheres também sofriam de forma diferente, porque eram vítimas de abuso sexual e outros maus-tratos bárbaros que só poderiam ser infligidos a elas. A postura dos senhores em relação às escravas era regida pela conveniência: quando era lucrativo explorá-las como se fossem homens, eram vistas como desprovidas de gênero; mas, quando podiam ser exploradas, punidas e reprimidas de modos cabíveis apenas às mulheres, elas eram reduzidas exclusivamente à sua condição de fêmeas

. O estupro, na verdade, era uma expressão ostensiva do domínio econômico do proprietário e do controle do feitor sobre as mulheres negras na condição de trabalhadoras


https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4248256/mod_resource/content/0/Angela%20Davis_Mulheres%2C%20raca%20e%20classe.pdf


Frazier descreve de modo dramático o terrível impacto da escravidão sobre o povo negro, mas subestima a capacidade dessas pessoas de resistir à influência da escravidão na vida social que criaram para si. Frazier também interpretou mal o espírito de independência e de autossuficiência que as mulheres negras desenvolveram por necessidade e, por isso, lamentou o fato de que “nem a necessidade econômica nem a tradição incutiram [na mulher negra] o espírito de subordinação à autoridade masculina” [33] . 

[...] a típica família escrava era matriarcal em sua estrutura, pois o papel da mãe era muito mais importante do que o do pai. A família envolvia uma parcela significativa de responsabilidades que tradicionalmente pertenciam às mulheres, como limpar a casa, preparar a comida, costurar roupas e criar os filhos. O marido era, quando muito, o ajudante da esposa, seu companheiro e parceiro sexual. Era quase sempre visto como propriedade dela [o Tom da Mary], assim como a cabana em que viviam. 


Ainda que haja um resquício de supremacia masculina em sua análise, por insinuar, como ele faz, que masculinidade e feminilidade são conceitos imutáveis, Genovese reconhece claramente que O que normalmente tem sido entendido como uma debilitante forma de supremacia feminina era, na realidade, um modo de chegar mais próximo de uma saudável igualdade sexual, maior do que era possível encontrar entre a população branca e talvez até entre o povo negro no pós-Guerra Civil


harriet tubman


Da mesma forma que o estupro era um elemento institucionalizado de agressão ao povo vietnamita, concebido com a intenção de intimidar e aterrorizar as mulheres, os proprietários de escravos encorajavam seu uso terrorista para colocar as mulheres negras em seu lugar. Se elas conseguissem perceber a própria força e o forte desejo de resistir, os violentos abusos sexuais – é o que os proprietários devem ter raciocinado – fariam com que elas se lembrassem de sua essencial e inalterável condição de fêmeas. Na visão baseada na ideia de supremacia masculina característica do período, isso significava passividade, aquiescência e fraqueza.

eu já disse que odeio a sociedade? odeio a sociedade 

P. 26



A cabana do Pai Tomás

Harriet Beecher Stowe 


Talvez a esperança de Stowe fosse que as mulheres brancas, ao ler seu livro, se identificassem com Eliza. Elas poderiam apreciar a superioridade de sua moral cristã, seus inabaláveis instintos maternos, sua delicadeza e sua fragilidade – já que essas eram as qualidades que as mulheres brancas eram ensinadas a cultivar em si mesmas

As Elizas, se existiram, certamente foram as exceções em meio a maioria das mulheres negras. Elas não representam, em hipótese alguma, as experiências acumuladas por todas essas mulheres que labutaram sob o chicote de seus senhores, trabalharam para sua família, protegendo-a, lutaram contra a escravidão e foram espancadas, estupradas, mas nunca subjugadas. Foram essas mulheres que transmitiram para suas descendentes do sexo feminino, nominalmente livres, um legado de trabalho duro, perseverança e autossuficiência, um legado de tenacidade, resistência e insistência na igualdade sexual – em resumo, um legado que explicita os parâmetros para uma nova condição da mulher.

P. 50

segunda-feira, 2 de maio de 2022

no final

  Mas no final fui forçada a admitir que queria me consolar e escapar do porão dos escravos com uma visão de algo diferente dos corpos de duas garotas se assentando no fundo do Atlântico. 

Mas no final somos forçados a admitir que o mundo como o sistema de transição de fluxo de energia e mais-valia em Marx, dos menos favorecidos em uma hierarquia programada e controladora (cujos parâmetros foram estabelecidos com mais de centenas de anos de antecedência através do poderio por força e domínio e disputa epistemológica) talvez continue sendo essa máquina e não há consolo. As projeções de múltiplas realidades possíveis do que seria um terreno de ideias seriam então mais interessantes enquanto distração desta visão historicista realista versus o que opera na literatura: a possibilidade de deturpar. A possibilidade de existir enquanto verdade em um determinado sistema. Temos uma série de fatores, como o distanciamento em uma indústria cultural que busca desumanizar seus roteiristas, diretores, atores, dentre outros. em uma mídia que tenta amenizar com todas as forças o questionamento pelo qual o indivíduo se insurgiria contra este sistema, e assim ele projeta uma imagem mais ‘’digerível’’ e fetichizada, mais cobiçada, para que o indivíduo possa se refugiar num ideal que diga respeito a sua projeção arquetípica. É produzida uma imagem de bravura pelo irromper, do aniquilar o inimigo em prol de um bem maior, desumanizando-o e é com estes tipos de narrativa que mostram o lado do dominado, subjugado, que erguemos um argumento contra boa parte do conteúdo de massa (principalmente o herdado colonialmente). A imagem boa vende. A imagem boa através dos que elaboraram o conceito de ‘’boa’’, e que podem associar quaisquer símbolos a eles, vide algumas instituições religiosas hegemônicas.