sábado, 19 de junho de 2021

Que eu encare

 Mas não enfrente 

Olhe essa cama 

Despida cama 

Que custou dois mil reais 

Dois mil reais pra você se sentir acolhida por ela 

Ela deixa sua coluna reta 

Você sabe que está cansada 

Que tal só dormir 

Durma você e a gatinha 

O mundo é nosso 

Que as lágrimas escorram e limpem minha alma 

Limpem minha consciência 

Lágrimas cachoeiras 





Olhos satélites

 Me deixe viver 

Por entre o mar de citrino que são suas iris 

Eternamente de encontro a pérola negra

As ruguinhas de seus olhos se contraem

Sorriem

Enquanto prosa tua sibilas

Vibram, dançam e riem 

Límpidas pupilas 

Que a dilatação das mesmas 

Venha de súbito, a esmo

E em um espasmo 

Me abrace e meus pedaços 

Ressoando em teu peito 

Tão vivos, os que pulsam

Que suavizem úlceras 

Que distraiam quimeras

Até outras eras

Em meu coração, não crateras 

Toneladas de alimento de alma 

Que não vale um vintém 

Mas um milhão 

E me deixam de pé por cinquenta anos ou mais além 

Tão profanos, frágeis 

Planetas que sucumbem ante o alfinete 

Que júbilo ter-te 

Horas incontáveis me separaram de ti

Agora se aproximam em verbete 






quinta-feira, 17 de junho de 2021

Príncipe do deserto

 Deserto 

Não sopro nada, deixo poeira assentar 

Frio, perpassa a carcaça 

Pelos rios sinuosos, corro com as cobras 

Assim como elas, não temos pernas 

Não temo o outro que pode chegar por trás para enfiar a faca por entre a carne 

No cerne de meus pensamentos 

Talvez procure abrigo 

Talvez seja castigo 

Querer encontrar algo que seja amigo 

Vi? Vejo o sopro desértico que me faz sonhar frio 

Suar frio 

Onde está a identidade, não existe 

Me desfaleci em sons que são um coração descompassado 

Uma respiração ofegante 

Diante do silêncio 

Um grito não passa a meus ouvidos

Soa como os tambores dos revólveres 

Silenciadores não funcionam mas aqui 

Há um certo vácuo 

As cobras açoitam meus lábios quando olho para o céu 

Assim, o sangue dança com minha língua

A míngua de sentidos, satisfaço a sede com o próprio correr do rio rubro 

Minha cara tão sóbria, desejante de morfina para que estivesse eu estirada , nua , banhada pela lua fria, e ria, e tentava comer minha cara crua, para ver se sentia algum gosto. 







quarta-feira, 16 de junho de 2021

Uma das quais

 Não uma , nem a outra.

Tivesse partido antes, tivesse batido o pé

E não se rendido a minha saliva 

Não quero dormir tendo os sonhos pesadelos se entrecortando com os seus 

Ajudou a pobre amiga se não fosse você não seria ninguém 

Pois é . O calor dos seus braços parece ter se esvaido , assim como os beijos que te dou parecem ser tirados a facas. Tão importante para mim, voa, veja, se pudesse antecipar sua partida , não o faria, porque quero ver o curso natural das coisas. Não é algo de uma , de duas , de outras , é sobre saturação, não sou fácil de engolir, nunca fui. Tenho um ego fodido, não tenho personalidade , sou tipo um buraco negro, prazer. O prazer foi ótimo, o conforto também , o frio vem e precisamos ser fortes, temos os livros, ah, os livros. E o medo de encarar meus próprios pensamentos 









segunda-feira, 7 de junho de 2021

Quem vê de fora

 Eles passam de mãos dadas, entretidos na conversa um do outro. Cândidos, embebidos. Olho nos olhos dela, e parece que ela tenta fugir de tudo olhando nos olhos dele, parece que ele está presente. Eles passam, observam os cachorros, ignoram as pessoas. Olhem para mim, penso. A noite está sem graça e a fumaça dos cigarros já se misturou a da poluição. Será que eles têm segredos? Será que são um casal cooperativo? Parecem aqueles casais sem problemas. Estou aqui, bebo meu café, cumpro meu plantão. Minhas botas lustradas, uniforme passado, olho as horas, onze e trinta e oito. Ela vem, olhos que se adaptam da imensidão da rua às mais diversas máscaras do ambiente confinado em que habita. Passa e murmura um rápido :- boa noite , mal posso escuta-lo, mal quero responde-lo. Por que não quero responde-lo? Talvez porque eu nunca serei esse outro do casal, esse ser inexistente que poderia suprir alguma coisa... Eu sou só o cara que olha, mas, claro, tenho minha esposa. E de longe parecemos tristes, eu falo "Angela precisamos parecer menos tristes , os vizinhos vão perceber" , e ela assente passivamente, enquanto deixa queimar mais um bolo. Voltando para a garota , ela me disse seu nome algum dia, carreguei as suas malas para lhe aliviar o desprazer de carregar trezentos quilos de coisas que nem sei o que poderiam ser. Será que carreguei drogas? Sendo um vigilante, o quão contraditório isso seria? Ela chega hoje, acompanhada do cara. Bonito, olhos fixos, estáveis, um quê vidrados, perdidos. Se ela gosta dos perdidos , que pena, sou achado. E o que achei não me agrada. Cheio de mágoas vazias, acrescento esta uma ás outras: me magoo pois você não está comigo, você nem as outras anas claras, Julias, Larissas, Boas, e escolhem esses outros pedros, Marcos , Joãos, Guilhermes. Vocês chegam, dizem um rápido "boa noite", ela parece cansada e aumenta um pouco o tom de voz. Ele parece tentar fazer de tudo para deixa-la bem, seria uma briga? Seria um casal não perfeito, seria um "eu te amo" petrificado, seria um jogo de blefes escondido? Seria um jogo? Venha para mim, Ana , Juliana , Paula , Catarina , prometo lhe amar como esses mascarados não o fizeram, prometo lhe ver por trás da face e da alma, penso. Deve lhe doer? Com ele, amaciam-se as dores e imperam seus silêncios diante da força que dois somam? Ou priva-se da liberdade de ter sua própria subjetividade, será que você é uma farsa, Catarina? Será que vou ver uma matéria sua no jornal dizendo que você matou seu noivo ? Não sei, por isso pego um cafezinho, adiciono um pouco de açúcar, ligo a TV e espero.


passei por camila mais cedo

 Há quem diga que o batom não pareceria com a haste do óculos, em uma observação minuciosa olhando que o vermelho nos óculos é escuro, brilhante de forma a refletir o brilho do ambiente de forma lisa e uniforme, enquanto o brilho dos lábios tem um quê de fosco. E o tom desse vermelho, então, ligeiramente mais claro, olhei nos olhos de camila e via seu semissoriso, um microgesto aguçando a ruga de seu lado direito, e a testa, a testa me intrigara. Percebia que, durante a vida, camila não foi de tentar achar obstáculos para suas quimeras, ela simplesmente desenrolava seus nós, e isso explica a testa lisa. Sabe, as cores de amarelo e vermelho me trazem memória afetiva de quando li o livro Divergente, em que pessoas que se vestiam com tais cores remetiam a Amizade. Em cores quentes, e um colar sugerindo as mais diversas tonalidades, Camila veio, e sem dizer uma palavra, me disse: possibilidades. Onde? Quando? Como? Não posso dizer. É como se fosse uma carta do tarô, carta Camila a tarde, com colar de dança pictórica. Os cabelos, caindo em ondas, mas se mantendo como espirais, lançados ligeiramente para o lado direito, mas é claro que, na perpectiva de camila, seria o lado esquerdo. Com as lentes grossas, resistentes, adentramos a subjetividade de Camila. O encobrir de suas sobrancelhas soa um tanto enigmático, um quê de deixar a expressão ligeiramente mascarada, ou abrandar, poderia ser até mecanismo de dificultar acesso a interpretação de sua feição. Olho nos olhos de Camila, vejo paciência. Poços marrons de águas nem frias ou quentes, mas temperatura ambiente. A cor que pintei minha parede, hoje mesmo, lembra a cor de seus olhos. Por que os poços são marrons? Porque são revestidos por pedras, minerais , que conferem nutrientes e força a água ali presente. Clean, alguns diriam ser seu semblante. Camila me lembra um pouco do conceito do que realmente importaria, se não possibilidades em formatos de contas no colar, óculos para poder enxergar. Esses são óculos limpos, bem cuidados. São óculos que vivenciaram histórias incríveis, algumas delas jamais relatadas. Camila enquadra a câmera perfeitamente no meio, sua composição-corpo, e percebemos que sua cabeça. ,mesmo assim, se desvia ligeiramente para a esquerda, uma nuance. Seus cabelos oferecem um contra ponto para o rosto de expressão relaxada, atenta, mas decidida. Eles são o lado emocional, o desfiladeiro de espirais dançantes que oscilariam com o vento. Assim como o colar, eles apontam para diferentes direções, novamente evocando as possibilidades