Sabe quando chamam favela de comunidade? Eu chamava , há um tempo, porque achava que, por não ser da favela, soaria pejorativo, como se estivesse já recriminando, né. Chamava de comunidade, e sempre achei que esse é um termo ``embranquecido``, um termo que tenta diluir a condição de marginalidade e descarte, um eufemismo.
Estava lendo um artigo de Márcia Leite, socióloga, e me deparo com a noção de Birman (2008), em que o termo comunidade
pode adquirir quando referido às favelas e/ou
enunciado por seus moradores, analisa sua associação a valores católicos (hierarquia, complementariedade e harmonia estruturando as
relações entre os diferentes) e aponta sua consistência com a proposta da Igreja Católica de
assim incorporar a seu projeto civilizacional
“as raízes culturais e étnicas da nação”
Desgraçados né, é o famoso ``pra não ser degenerado e marginal, venha para a igreja``. E muita gente vai.
O medo, ligado aos riscos à integridade física e patrimonial e sem dúvida bem fundamentado, decorre do novo sentido de perigo
representado pela pobreza e marginalidade (doravante associada ao crime violento) que a favela
tipifica no imaginário social.
O medo empregado nos noticiários. Minha avó tem medo de andar na rua depois das sete da noite também por causa de noticiários. O fantasma do Inimigo assombra todos esses que preferem ver a viver.
Pois é , minha mãe já gritou comigo e ficou muito desesperada porque eu disse que subi no Tabajaras. Pra mim é tao normal, moro no fundão , o maior vizinho é o Complexo da Maré, e mesmo assim sei que não sou como eles que habitam aqui FOR REAL, tlgd, sei que eles me veem como o Outro, o outro lado da moeda, porque o lado deles é o que sofre violência cotidiana, o lado da marginalidade, infelizmente a sociedade brasileira carioca tem esse estigma dicotômico e que tira possibilidades ao rotular, impossibilita o desenvolvimento de lugares e pessoas, ao estigmatizar e negar a existência , a cultura e as resistências de lá.
Nessa política dicotômica, ainda, digo: ``nós`` temos tanto medo quanto ``eles``. Porque eles associam O ESTADO também como o ``nós``, o branco, o colonizador, o acadêmico , o ``central`` . O ESTADO como quem virou as costas, como quem deixou ao abandono, sem medidas sanitárias eficientes, sem amparo social , sem nada. Por isso a importância do diálogo não só com um , mas com a rede do lugar, inicialmente para liquefazer a ideia dessa violência sempre infligida de um lado pelo outro.
Representar o conflito social nas grandes cidades como uma guerra implica acionar
um repertório simbólico em que lados/grupos
em confronto são inimigos e o extermínio, no
limite, é uma das estratégias para a vitória, pois
com facilidade é admitido que situações excepcionais – de guerra – exigem medidas também
excepcionais e estranhas à normalidade institucional e democrática.
Sim, o Achile Mbembe fala disso, inclusive, preciso terminar de ler esse texto dele, que é muito brabo, Necropolítica.
Já vi gente questionando e dizendo : A favela é muito violenta, mas nunca pôs um pé lá.
Já fui assaltada mais de dez vezes. Onde? Zona Sul do Rio de Janeiro. Duas vezes na praia de Copacabana, outra na rua em Copacabana, uma num túnel em Botafogo, uma no Aterro do Flamengo, três no Centro, enfim. Nunca fui assaltada em favela do RJ.
A violência que é rebatida, REFLETIDA pelo favelado é sua forma de se proteger, e nem deveria ser chamada de violência, pois não viola a existência, a vivencia, os corpos, as mentes de ninguém. Ele só vai arruinar o seu cartão postal perfeito das férias incríveis at Rioh deh Janeiroh. Dizer que se sente ameaçado ou violentado por esse panorama é praticamente o mesmo que falar sobre racismo reverso. Anexar a ideia de perigo a classe, cor de pele, é um preconceito fodido, incutido na pele de uma boa parte dos brasileiros, e fechar os olhos para os ``bandidos de colarinho branco`` que não vão pegar seu celularzinho, e sim ROUBAR MILHÕES dos cofres públicos todos os dias é uma hipocrisia gigantesca.
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