sexta-feira, 23 de agosto de 2019

prece dos que precisam

ele estava vindo em minha direção, e eu, em um salto de balé, me jogo na frente dele.
o ônibus bate em mim e meu corpo se desfaz em pedaços de gelatina alien, que tremula e
brilha fluorescente. Um cara pega um pedaço de mim e come, e agora estou dentro de sua boca, sendo mastigada, mas não tenho nervos, então somente vejo a saliva vindo, mas respiro embaixo da mesma. Sou empurrada para o estômago e que daqui a pouco o fulano vai me cagar. Abandono a parte da consciência que está dentro do cara, continuo uma pessoa, parada na frente do ônibus:
-Pode me atropelar, eu deixo.
O motorista me olha perplexo, e diz:
-Ô menina, só sai da frente.
Eu cavo no concreto e deito num buraco paralelo ao vão das rodas do ônibus. Ele passa por cima de mim sem que eu sofra um arranhão, e agora estou olhando para um céu verde arroxeado, deitada no concreto e esperando um meteoro explodir a terra em seis.
Ao longe escuto aquela voz irritante que repete:
-"Nome do presidente e  seu respectivo número"
e espero que o meteoro caia logo. Poeiras vem aos meus olhos, e por um segundo sou formiga, só quero exercer meu trabalho, a observação e vigia das estrelas quanto aos maus olhados. Uma profissão só minha, não remunerada, mas o nome cai bem. Nada como ser chefe de si. Meus olhos pendem, caem, e não tenho mais nada a dizer, só que o tempo é frio e as amizades também, o lago é profundo e já não tem mais peixes, fui pular nele no inverno e dei de cabeça no gelo... meu crânio tá preso lá até agora, se vier falar comigo vai ver um escafandro sendo usado de crânio... ah é, você não vai ver, porque está por dentro de toda a pele que eu tive que costurar de volta. Acha isso estranho? No fundo no fundo, cada um de nós sabe como cada um de nós geme. Pelo fim do início, pela volta dos estáticos, pela ética dos porcos, que deus nunca deixe faltar carne humana na minha mesa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário