Não aguento mais. Essa ilha. Não aguento mais não ter com ninguém
com quem compartilhar as coisas, não aguento mais esse vazio, que se preenche
todo dia. Um monte de espaços vazios, um monte de nadas. Virei poeira, pó.
Virei estatística. Morri para o mundo e o mundo morreu para mim, menos essas arvorezinhas
e animais da ilha. Imagine que louco se elas fossem da minha imaginação também.
É o abismo infinito, a mão invisível, meu grande inimigo. É a ausência de som,
a ausência de entretenimento, faz muito tempo que eu não vejo alguém, que não escuto
uma risada, que não aperto uma mão, que não sinto outra energia que não a
minha. E penso: Preciso meditar, tentar focar em algo simples, como não fazer
nada, apenas ser, sem pensar. Infelizmente, preciso comer, preciso me prover, e
tudo isso é duro e difícil. Passar fome está sendo difícil, há dias em que
tenho um mirrado porco selvagem, com a carne dura ``temperada`` com as amoras
que coleto, mas há dias que preciso catar as plantas para conseguir qualquer
coisa, e mesmo assim, meu estomago dói, e a ambição de coisas melhores me vem a
cabeça. Tento compartilhar minhas poucas migalhas com os macacos, com os
pássaros, mas eles de nada podem me ajudar, se não a me encantar com suas
músicas doces e lindas penas. Essa dor que sinto é foda. É horrível. Sinceramente,
queria que uma aranha viesse e me envenenasse, para que eu caísse duro aqui e
esse sofrimento cessasse, mas... Eu sei que é tudo falso. É tudo ilusório. O
sofrimento nunca acaba de verdade, cabe a você controla-lo. Me isolei de tudo e
de todos, falo com vozes na minha cabeça, com seres humanos que tem máscaras e
mais máscaras e no fundo, não consigo olhar em seus olhos. Se olhasse, o que
poderia encontrar? Tenho medo, tenho angústias, sou um homem falho em sua
natureza. Sou um homem quebrado, sou um homem transtornado. Não sei mais lidar
nem comigo mesmo. As lágrimas caem, e elas caem pesadas, dois minutos e já
secaram na areia, volta e meia molhada. Não aguento mais, não aguento mais essa
pressão que eu exerço sobre mim, e sobre o que todos de fora da ilha devem
estar sentindo, infernos, que uma cobra venha e me abocanhe o calcanhar. Tento
gritar, mas não sai voz, tento qualquer coisa, um suspiro, nada. Como me sinto?
Não sinto. É o contrário da plenitude, é o caos silencioso que me abala e me destroça
e acaba com todos os meus planos, todas as minhas esperanças. A esperança é a
última que morre? Pois bem, o último que vai morrer agora sou eu. Por que me
mantenho vivo, se não tenho esperança? Por que? O conselho de hoje é : Estou
muito mal para poder dar qualquer conselho, não sou rei, fantasma ou messias,
sou humano, falho... destruído. Mentira, o conselho de hoje é: Não leve para o coração
nada, você consegue lidar com tudo, nada é um problema realmente que vá te
abalar para a eternidade, toda dor tem um fim, toda tempestade cessa, toda
tormenta tem um fim, seja firme em seus propósitos.
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