terça-feira, 12 de outubro de 2021

amor, e se...

 -oi amooorr!

-Oi amor-                        - Como você tá?

-Tô bem-                                 -

-Cê tá meio pensativa


-Amor....

-Oi

-Se eu te dissesse assim...

-O que?

-Ei. Você me fala uma coisa?

-O que? Que que você ta falando?

-Você pode me prometer que sua resposta vai ser sincera?

-Claro, amor. Pra você, sempre vai ser.

-Amor....... o que você diria se eu dissesse


-que estou grávida?

-Eu diria que é uma pena, que provavelmente a culpa é sua, por ter cedido quando eu pedi para não termos usado camisinha. Depois tentaria viver esse fardo a que nós dois estaríamos atados, diria aborto, claro, mas nossas famílias são da igreja, daria o maior bafafá. Tentaria viver constituindo uma familia, a força, com você, até que nós dois nos detestaríamos tanto e tentaríamos fingir que este ser não arruinou nosso relacionamento e nossas vidas, mas uma hora eu ia ficar de saco cheio e você teria que responder ao seu filho: papai foi embora. Mas não se preocupe comigo, eu não me sentiria culpado, uma boa parte dos homens brasileiros faz isso hahaha talvez eu conseguisse até me esquivar de pagar pensão, talvez sempre que viessem na minha casa me procurar, eu fingiria que não moro lá, e eles iriam embora. Quando o meu filho crescesse eu iria fazer de tudo para mostrar que não tive responsabilidade alguma com a criação ou com a vida dele e que ele deve me esquecer. Mãs não desanime, talvez, só talvez depois eu te bloquearia em todas as redes sociais, diria para minha família que terminamos. É isso que eu diria.

-Ah.                                           



Que bom.

Porque eu não estou.


quinta-feira, 7 de outubro de 2021

 O eu é um outro

Acerca da Obra Morada da Grandeza, de Bruna Werneck

        Signos escondidos pelos vértices do espaço, localidades não facilmente identificáveis.  Se demorar no olhar, experienciar o entorno, captar as sutis oscilações pictóricas que se propõe o trabalho de Bruna Werneck. A obra, denominada Morada da Grandeza, utiliza em seu título a antítese, uma vez que a mesma se utiliza de material em escala diminuta.   

     O trabalho de Bruna Werneck estipula um ponto de tensão acerca da problemática concernindo a   megalomania na apreensão humana, uma vez que o impulso dominar-reter capturar o máximo de informação possível, impossibilita a dimensão sensível-afetiva de ser captada, uma vez que a mesma se dá em minúcia, silêncios , brechas e afins. Aqui abarca-se a problemática da não apreciação, mas o consumir imagem como signo a ser dominado, digerido em segundos, a busca eterna pelo ''novo'', o ''interessante''.

A artista busca questionar e estabelecer um viés crítico a partir do cone de apreensão congnitivo-visual como local de disputa, uma vez que os signos mais brilhantes, mais chamativos, buscam a hegemonia e delimitar a demarcação pictórica das instâncias socio-espaciais pelas quais o indivíduo se desloca. Vide as propagandas, rótulos, banners, outdoors, não apenas buscando o apelo máximo imagético, mas também o fazem enquanto som. 

Para onde incide o olhar humano? Onde está circunscrita a zona de interesse pictórico no que concerne a apreensão do entorno?  Imersa no recorte histórico presente , a obra adota o questionamento: é invisível aos olhos humanos o vírus que alterou as condições de um complexo  modus operandi global, sendo este um ponto-cego, a falha na matriz a qual os homens não haviam previsto. Como estamos, o que estamos e porque estamos vendo? Será que estamos ignorando algo? Será que há mais pontos-cegos nesta matriz? Onde eles se localizam?

O trabalho se desenha conforme a artista projeta uma cartografia dos entornos e adjacências no espaço expositivo, instalando  suas colagens de escala mínima, estes habitualmente passando despercebidos pela incidência costumeira do olhar do sujeito apreensor.

A artista caminha por entre instituições públicas, museus, galerias, espaços culturais, coletando fragmentos para compor sua arqueologia dos cantos, uma vez que estes espaços estão, em sua maioria, indicando e apontando os locais de interesse óptico, como hegemonia. A mesma configurou para si um laboratório dos materiais deixados a deriva, ao olhar periférico da apreensão socio-espacial, em que esta seleciona duas chapas de acetato, e assim passa por um scanner, o que configura e tece uma atmosfera onírica em que fragmentos de cabelo, vidro, flores, poeiras, linhas e espumas, dentre outros, tornam-se seres reconfigurados, personagens a serem conhecidos e explorados, estes que já teriam sua vida útil esgotada, uma vez que são configurados como descarte, lixo, entulho. 

Por fim, a artista busca desafiar-se cotidianamente para trazer esta mudança de paradigmas acerca do olhar condicionado e tão culturalmente moldado, uma vez que, o indivíduo na contemporaneidade, muitas vezes não enxerga por si, mas precisa do condicionamento, o que é interessante? Podemos traçar um paralelo com os influencers digitais, que apontam e condicionam o comportamento em inúmeras instâncias, e por este motivo, influenciadores: O trabalho de Werneck é poder apropriar-se do cone de interesse óptico-espacial, trazendo uma configuração inédita de personagens, objetos tornados sujeitos, questionando a sociedade do descarte. Por que não re-coletar, re-captar, transfigurar os elementos que já se encontram no espaço, uma vez que, buscando o novo, acabamos por descartar mais velozmente. 

O trabalho da artista lida com o produto deste descarte frenético, por que tais artigos se configuram como lixo? Será que podemos, a partir de diferentes perspectivas ópticas, evocar suas subjetividades individuais, suas minúcias, traços, gestos sublimes, suas formas de ocupar o espaço, percebê-los como seres como nós? A poeira, esta que é captada, coletada empiricamente, para configurar uma composição em negativo, são os resquícios das células que deixaram de vibrar. O que Werneck pretende evocar, com a obra, é a conversa atemporal, um rasgo no tecido socio-espacial, uma vez que se busca o (re-) conhecimento de que estes seres-sujeitos captados somos nós, nós do passado que deixamos para trás, nós no futuro, nossos corpos, corpos de nossas matérias, nossas essências. 


terça-feira, 5 de outubro de 2021

continua

''Antes mesmo do mundo existir, quando ainda não havia nada, havia uma mulher.'' Lacave evoca o totem geocosmológico gerador do universo, uma homenagem espiritual aos Desanos, etnia indígena que se encontra no noroeste do Amazonas. Como o universo pode ter sido criado? 

 A obra Maloca Lunar Branca, de Lacave, é o contar desta história, é o evocar realidades que nutrem, que exaltam e respeitam a natureza, assim como o espaço escolhido para acolher o Site: A praia de Grumari. A experiência se constitui em um convite sinestésico, o cheiro do oceano, instâncias meditativas para contemplação e imersão dentro de si, e dentro desta imensidão composta de células, conseguir enxergar o universo.

Dentro do Site, o espectador torna-se xamã de si, deslocando-se, revelando efêmeros caminhos por entre os grãos de areia. Abaixando-se, o espaço interno é acessado poderiam se alocar até duas pessoas, em reclusão, o manter-se em diálogo com os ancestrais, com a praia, com os Orixás, a gratificação a história ancestral, ás marcas e registros deste povo. Banhados com reconfortante luz natural, os espectadores podem desfrutar do tecido como constituinte do próprio corpo: o vento que o atinge eriça os pêlos de seu corpo, a maresia ao tocar na lona. Lacave estabelece uma dança silenciosa entre Yemanjá, ao agracia-la com tamanho presente, esse memorar, registrar e louvar a espiritualidade desse povo dos rios.

Lacave retrata, com este trabalho, a comunhão da imensidão dos oceanos, como alusão ao universo infinito, com o fluir cuidadoso e harmônico dos rios, o cuidado, o lar, que engloba, abriga, acolhe.


 constitui-se em tecidos-vivências atados pela artista, a linha é seu próprio fio norteador em sua espiritualidade. A tenda, de dimensões variadas, é constituída a partir de suas vestimentas, 


Cada componente da obra de Lacave é pensado, as vestimentas de quando era filha de santo, em coloração branca, como o quartzo branco, material constituinte da Maloca do Universo, da tradição Desana. 

A mesma teria sido criada, em sua tradição geocosmológica, por uma mulher, a avó do mundo, Yebá Būró. 


A obra de Lacave traz uma concepção geocosmológica distinta da normatização colonial a que estamos sujeitados no ocidente, uma vez que a mesma não se utiliza de maiores hierarquias entre gêneros, materiais, animais, os seres constituintes do cosmos se revezam entre si, e assim gerem seu equilíbrio. Após a criação do mundo, a avó cria os homens, sob a forma de trovões. 

É interessante pensar que, durante a exposição, o tempo esteve nublado, 




No que permanece, os buracos, registros e rastros da matéria, assim como essa história, tão necessariamente relembrada, sussurrante como o vento que varre os grãos de areia, estes um dia foram minerais, rochas, quartzos. 

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

é sobre


Per

Calço

Per

Curso

Antepasso

Antúrio

Cadarço

Perjúrio

Mormaço 

esguio 

Fugidio

furtivo

fugi

tivo 

desvairado

vértice

arretado

ápice

erguido

tríplice

aplainado

cume

cúrcuma 

quadrado

bambo

cilindro

bambu

estrado

estranha

astrônomica

extrema

trena 

tritura

tana-

jura

prometo

pranto

aca

lanto

sobre

espanto

Pântano

Nu

sobressalto

sobresal

sobremar

sobreviver

sobremorrer

tchau

sobre levantar do túmulo


sexta-feira, 1 de outubro de 2021

sensatíssimo

 Nas regiões temperadas e tropicais onde aparentemente os hominídeos evoluíram

em humanos, o principal alimento da espécie eram os vegetais. De 65 a 80% do que os


seres humanos comiam nessas regiões nas eras do Paleolítico, Neolítico e na pré-

história, era coletado; a carne era o alimento principal apenas no extremo ártico. As


imagens dos caçadores de mamutes ocuparam espetacularmente as paredes das cavernas

e o imaginário, mas o que nós realmente fizemos para permanecer vivos e saudáveis foi

coletar sementes, raízes, brotos, botões, folhas, nozes, frutos, frutas e grãos, além de

insetos e moluscos e pássaros, peixes, ratos, coelhos e outros pequenos animais que

provêm proteína e podem ser capturados com redes ou armadilhas simples. E nós nem

mesmo trabalhávamos muito duro para isso — muito menos que camponeses

escravizados após a invenção da agricultura, e muito menos que trabalhadores

assalariados desde que a civilização foi inventada. Uma pessoa na pré-história podia ter

uma vida boa trabalhando por cerca de quinze horas por semana.

 estar nessa realidade é um castigo. pessoas adoecidas aos gritos, guardando bombas nucleares em seus cus, meus gritos sao um chorar sangue incessante. Desejo o beijo das laminas ou simplesmente o cessar: isso seria uma interrogao. Seria eu tao profana das duas uma sou incrível ou uma tragédia , sou incrivelmente tragica, uma piada de mal gosto, um fantasma sem rosto, um asco, uma ingúria, uma digestao mal executada, uma faca, uma pitada de sal, um frasco de veneno, nada temo, somente os demonios bizarros que alimentam o ódio das pessoas, nada como se escravizar, nah, nadar no marasmo desses rasgos do oxigenio, a hipocrisiaperta meu pescoço, arrrrrrrr, procuro , tao dificil ser. tao dificil estar, tao difícil continuar, Meu rosto, uma careta de ódio ranço e rancor conforme os corpos desejam a ideia idealizada que os mesmos tem de mim. Nao me aguento neste lugar preciso mudar de rosto. meu amor, quer namorar comigo, quero que saiba que estou morta e a qualquer momento posso lhe ferir, mas jamais poderia pensar em nao ficar também com o meu outro amor, meu corao é grande demais e sou tao fragil, deitada nao em posicao fetal, tenho medo da propria tela cravar dedos de vidro no meu corpo e assim padeceria. O que sinto agora é esse cheiro de morte que pode estar exalando de mim mesma, ou dos corpos que se riem e contorcem e gritam, tao vibrantes, tentando se associar com o que corpos jovens deveriam ser, que tragédia, sou um fantasma que renunciao próprio desejo essa noite, sim, joao, acorda , me da colo porque ta foda, mas voce também precisa de colo, acho que todo mundo precisa.