domingo, 9 de abril de 2017

Não quero coroa

Sábado, 09/04/2017. Estava eu andando pelas ruas de Copacabana, vestida de maneira totalmente tosca, é o melhor adjetivo possível. Blusa largada, laranja, shorts jeans gastos, de 2012, chinelos, meu cabelo preso com uma caneta em um coque no alto de minha cabeça, e para completar meus óculos. Andava pela avenida principal, a qual dá nome ao bairro, quando passo por um prédio onde há dois homens conversando, um aparentemente sendo o porteiro,  o outro não sei. Passo por ele, que me encara o mais profundamente possível em meus olhos, um homem com aparência de idoso, cabelos grisalhos, fora de forma, praticamente do meu tamanho. Ele me encara, e fala, exasperado, de uma vez, como se estivesse suspirando:
-Princesa!
A primeira coisa que eu penso é:’’esse cara tem idade para ser meu avô’’. Mas depois eu começo a filosofar, eu em meu silencio, na noite abafada de outono.
Querido homem que eu nunca vi na vida, você está equivocado. Não me compare com uma princesa, eu fico ofendida.
Eu não quero ser a que fica esperando um príncipe me salvar, impecável, trancada em uma torre.  Eu quero ser a que conhece cada canto de seu território, quero por a mão na massa, me sujar, nem que eu tenha cicatrizes, que elas tenham uma boa história.
Não quero ter unhas pintadas, impecáveis, me vestir com joias ( detesto joias, leiam os outros textos) e tecidos maravilhosos, para ser comparada a estátuas, deusas, ser mais uma musa do público masculino alheio (a.k.a alvo de diversas homenagens). Não, eu não quero ser um objeto decorativo, a princesinha, arrumadinha, em busca de seu cavalheiro encantador. Ou o idoso estranho da esquina, vai saber. (Cof, cof, nada a Temer).
Eu não sou agradável de olhar, um não mais tão amigo meu comentou há um ano que minhas feições eram grosseiras. São. Eu não sou uma moça recatada que fala baixinho e ri como uma doninha, não, minha voz é grossa, clara e alta. A graciosidade em mim não existe, qualquer traço de meus desenhos é brutal, concreto, eu não sou uma pessoa leve, setenta quilos de muita consistência.
Eu não danço bem, não canto, não sei seduzir, não sei encantar, não sei ser qualquer coisa que não pareça grosseira . O máximo que eu faço é fazer as pessoas rirem ou chorar com minhas piadas e meus textos, aqui desse blog mesmo. Eu sou um livro aberto, não tenho segredos que escondo por trás de um leque.
Não tenho uma pele perfeita, olhos azuis cristalinos, cabelos louros, pés e mãos pequenos, não, tenho extremidades grandes, funcional, prático, mas nada gracioso como uma princesa. Tenho a minha mínima delicadeza para fazer castelos de cartas e cuidar de animais, mas para por aí, eu não sou a daminha perfeita e fofa, se esse homem ouvisse quando eu falasse algo, mudaria de ideia.

Não sou a princesa, sou a ogra. 
Mas essa ogra tem mais a oferecer, ela tem um coração, e ele não é pequeno. 
Alimente-a com chocolate que é só sucesso.

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