sábado, 8 de abril de 2017

era para ser um texto fofinho mas ficou triste

TEXTO BONITINHO PARA NÃO TER PESADELOS
Vi e absorvi umas coisas que não esperava hoje, foi bem ruim, só de lembrar, me dão arrepios, me deixaram bem mal.
Eu sou muito visual, tenho pesadelos mesmo, as imagens, a mensagem por trás de tudo, não saem da minha cabeça.
Estou com medo de dormir agora.
Por isso eu escrevo agora um texto bonitinho, para não ter pesadelos.

Era uma vez, no vale dos unicórnios, um unicórnio que se chamava Coração. Coração tinha um chifre lindo e muito colorido, com todas as cores do arco-íris, e as cores eram brilhantes, seu corpo era de um lilás muito claro, quase branco, que praticamente reluzia no sol, crina e rabo roxos. Seus cascos eram do mais puro dourado, e, seus olhos eram da cor do mais profundo amor. Ele brincava com seus amigos pelos campos floridos do vale. Coração tomava água das mais puras cachoeiras que se encontravam no meio de florestas encantadas, com árvores de frutos infinitos, que não apodreciam nunca. Ele era feliz, tinha sua cama de feno junto de seus amigos, nunca estava sozinho. Ele tinha um espírito de aventureiro, curioso e entusiasmado.
Mas seu poder era diferente. Coração absorvia os sentimentos dos outros unicórnios, tentando confortá-los quando estavam tristes, e os potencializando quando eram felizes, conseguindo sentir as mesmas emoções, era como se as emoções penetrassem em sua alma, se infiltrassem lá e refletissem para os outros unicórnios.
Um belo dia, Coração sentiu vontade de beber água, disse a seus amigos que já voltava, e resolveu ir a um lugar não convencional, ao outro lado da floresta, também bem frequentado pelos unicórnios. Trotando por entre as árvores, se deparou com um poço. Esticando o pescoço para visualizar o que havia lá dentro, o unicórnio viu um espelho d’água, que logo se tornou turvo. Ele não entendia o que estava acontecendo, nunca tinha visto nada igual antes.
Do outro lado do espelho d’água, imagens começavam a se formar. Imagens nítidas, perfeitas, de uma resolução impecável.
Era um espelho que mostrava as outras dimensões contidas no espaço-tempo, e, por um momento, passou a de um planeta azul bastante conhecido. Por um instante, o unicórnio se perdeu em imagens: havia seres gigantes, com temperamento agressivo, e ele institivamente recuou, mas depois voltou a ver as imagens. Muitas criaturas desconhecidas, coloridas, mas todos pareciam em harmonia, em meio a paisagens diferentes da que conhecia. Depois de alguns minutos assistindo, houve um clarão, e de repente não havia mais criaturas. Ele já não tinha entendido muito antes, agora ficou perdido.  Coração ficou intrigado com uma raça diferente que surgiu no espelho, seres meio claros meio escuros, estranhos, com uma quantidade abundante de pelos em polos concentrados, e mais, eles não andavam em quatro apoios, como assim? Por que a tela estava focalizando tanto nessas criaturas, quando havia outras mais interessantes?
E então ele observou a formação de tribos, aldeias, sociedades. Esses seres tinham algo em especial, eles conseguiam predominância, como se mais importantes. Em suas mãos, surgiam pedras e folhas e cordas e conseguiam fazer... coisas pontudas? Qual seria a funcionalidade daquilo? E pela primeira vez, Coração testemunhou a violência dessa raça. Conforme o tempo ia passando, ele via que esses seres eram quase que mágicos, mas muito ambíguos, eles construíam grandes abrigos de pedra, para depois derrubá-los, pareciam tão sábios, mas também tão tolos, e Coração testemunhou a morte pela primeira vez, visto que os unicórnios são imortais. Ele não conseguia entender porque aquilo acontecia, a vida era retirada de um ser de maneira tão abrupta, e o unicórnio cheio de perguntas sem respostas, mas muito sentido pela raiva que era transmitida por esses seres meio pelados, meio cabeludos.  Ele ficou lá, prostrado, olhando para aquilo, e ficou com muito medo, e muito triste, conforme o tempo passava. Ele via grandes descobertas de substancias mágicas sendo convertidas para violência, mais sentimentos ruins sendo transmitidos, e ele sentia aquilo como facadas, nunca havia se envolvido com uma corrente tão negativa. Até que chegou a um ápice, em que as imagens estavam passando tão rápido, mas com um conteúdo muito denso. Via sangue, mortes, estupros, assassinatos, guerras, e não compreendia, e quanto mais sentia a tristeza emanando através de água no que parecia ser as faces deles, ele chorava o choro mágico dos unicórnios, que é uma espécie de água que faz flores nascerem instantaneamente. E ele chorava, conforme ele via os filhotes dessa espécie sendo arrancado de suas famílias, conforme muitos desses seres eram exterminados, como um sentimento muito amargo de individualidade tomava conta deles e os tornava parecidos com monstros, monstros assustadores que poderiam assombra-lo por toda uma vida.
Ele via esses seres serem nocivos, atacarem toda outra forma de vida, seja por diversão, seja para subsistência, seja para trocas. Ele via uma mudança absurda no cenário, que antes era verdejante, agora era cinza. E, se antes havia outras criaturas, agora só havia os bípedes estranhos controladores.
Mas apesar disso, ele também sentia a compaixão na alma de muitos deles, de como os seres eram divergentes, alguns com muito mal concentrado, outros muito bons. Porém, o lado mal lhe mostrou coisas muito impactantes, instrumentos de algum metal que lançavam outro metal e estancavam a vida para fora de outras criaturas,  substancias tóxicas usadas de propósito para a aniquilação de seus semelhantes. Por quê? Por que tao cruéis? E essa crueldade era diretamente absorvida em Coração, e cada vez mais ele ficava pior, mais triste, cabisbaixo, e mais flores iam crescendo em torno de seu perímetro.
 A lua já estava alta no céu quando Coração saiu de perto do poço, e havia um grande campo de flores ao redor do mesmo. E ele não parava de chorar, estava muito triste, não sabia que existia tamanha dor, tamanho sofrimento, queria ajudar mas não sabia como, era somente um unicórnio. Ele não podia se comunicar com essa espécie desconhecida, não poderia ensinar aos que não conheciam o amor, que essa era a melhor forma de prosperar. Mas nada adiantava, a frustração se acumulava no unicórnio, e ele não sabia nem se conseguiria se mover desse lugar, tamanho o choque dessa outra realidade que ele não conhecia.  Com muita força de vontade e tristeza emanando do pobre ser místico, ele foi, aos poucos, até onde estavam seus amigos.
Chegando lá, seus companheiros estavam  preocupados com seu paradeiro, e ele não tinha vontade de falar, de comer, nada. Só disse-lhes que se espetou em um espinho e precisava de tempo para sarar, nada que uma soneca não bastasse. Seus amigos insistiram, queriam ajudar, queriam saber se havia algo a mais de errado, mas nada acalmaria Coração.
Ele chegou a seu leito, descansou a cabeça na árvore inclinada que se encontrava a frente, e deixou suas lágrimas caírem, uma vez mais. As lágrimas de toda a dor, todo o sofrimento, todas as mortes desnecessárias, toda a avareza, toda a crueldade, todo o ódio, toda a perversão, todo o mal. Ele sentia que não conseguiria suportar tudo aquilo.
Adormeceu, com um lindo campo de flores vermelhas resplandecendo em seu redor.
Ele acordou  de um sono sem sonhos nem pesadelos, ligeiramente melhor, mas mesmo assim, não era o suficiente. Com habilidades telepáticas de unicórnio, ele pegou grafite refinada do minério mágico, e uma folha branca, caída, da árvore-neve, que se encontrava no centro do vale. Pressionando telepaticamente o grafite contra a folha, ele escrevia na caligrafia mágica e perfeita dos unicórnios.
Ele precisava escoar esses sentimentos, transmiti-los para algum lugar, para que o conteúdo não ficasse denso em sua memória, mas nas memórias de vários materiais e substancias.

Então, ele escreveu. E escreveu mais ainda.

Nenhum comentário:

Postar um comentário