04h16min, madrugada de
segunda-feira de 2017.
Eu, tirando os resquícios da
minha maquiagem tosca, de frente para minha imagem ao espelho. Hoje em dia eu
quase não uso rímel, lápis, nada disso. Resolvi passar porque fazia muito tempo que não via meus cílios mais compridinhos. Mas há seis anos, eu usava. Eu usava
constantemente, como se tentasse me esconder por trás da tinta.
Por que eu usava?
Pois as garotas da minha sala usavam. Elas eram diferentes. Minto, elas eram muito iguais, eu que era diferente. Eram (tidas como) bonitas, popularezinhas, engraçadinhas.
Sempre foram. Com dez anos, pedi
a minha mãe para que ela me comprasse um sutiã. Eu não precisava, ainda, mas
mesmo assim pedi. Pelo mesmo motivo. As meninas da minha sala já estavam
usando, eu me sentia para trás, me sentia excluída. E lá fui eu, me sentindo o
máximo, com um sutiã branco que não tinha muito que sustentar.
E lá ia eu, tentando imita-las.
No fundo, entre todas as fofocas de garotos, eu só queria saber de ficar desenhando
minhas pequenezas. E eu me sentia uma alien perto delas.
O ápice disso foi quando eu
decidi comprar umas sandálias plataforma. Umas sandálias de borracha, enormes.
Eu já era alta, parecia um palito, e com aquelas sandálias, era deveras
ridícula.
Minha mãe, como não era muito
presente, compensava isso com elogios e incentivos ás minhas escolhas. Ela me
via com aqueles sapatos e me achava a criança mais linda do mundo. E eu
acreditava. Mas não por muito tempo.
Essas colegas minhas cortaram
minhas asas, disseram-me, na cara dura, o quão ridícula eu parecia naquelas
sandálias. Diziam que era como se fosse um palco. ``Desce do palco, Mariana``,
uma delas comentou, um dia. Quando fomos fazer um trabalho na casa de uma
delas, a dona da casa pegou uma sandália minha e escondeu, outra jogou para
cima, elas se divertiam. E me zoavam. E eu ia embora me sentindo primeiramente
bem, pois pelo menos estava com elas, depois me sentia mal, pois sentia o
desprezo delas, e depois ficava meio triste, mas eu tinha uma positividade
muito grande acumulada, posso dizer que fui forte emocionalmente.
Elas tacavam pedras na minha
alma, dizendo o quanto eu era feia, os garotos concordavam, se esgueiravam para
longe de mim. De fato, eu era estranha.
Um dia, essas colegas disseram
que iam dar um trato em mim. Fomos ao shopping, elas me guiaram, com o controle
em suas mãos, e elas compraram, com o meu dinheiro, um corretor para olheiras e
uma base, que nem da minha cor era.
E então, amigos, chegamos ao
ponto. Eu comecei a usar maquiagem, ia para a escola de maquiagem, achando que
seria mais aceita assim, achando que algo mudaria, que minhas colegas eram
minhas amigas.
Para vocês terem ideia, eu só
beijei o primeiro cara porque queria ser igual ás minhas colegas. Elas estavam
todas felizes contando suas experiências, e lá fui eu, com treze anos recém
formados, ``ficar`` com o primeiro que me elogiou, por recomendação de uma
dessas colegas.
Essas colegas foram saindo da
minha sala, e eu amadureci. Quanto mais elas saíam, mais eu fui libertando meu
espírito, percebendo que estava botando essas garotas em um patamar
inexistente, e que não precisava ser aceita em droga nenhuma, eu preferiria
estar sozinha que convivendo com tamanhas personalidades. Percebi que eu não precisava
de tinta para esconder minhas imperfeições, deixe-as lá, estou bem com elas.
Hoje, eu fico feliz pelas minhas
sandálias plataforma. Quase virei o pé com elas? Quase virei o pé com elas.
Abri o queixo por causa delas? Também. Mas estou satisfeita, pois elas me
criticavam, e eu nunca as joguei fora. Parabéns, vocês foram crianças precoces,
beijaram bocas quando ainda nem sabiam o que mais podiam fazer com elas.
Parei de usar maquiagem, me sinto
muito melhor assim. Elas tentaram me moldar para eu me encaixar, mas a verdade
é que eu prefiro estar fora, com minhas amizades de verdade, com minhas
características. Eu estou satisfeita com a aparência que adquiri ao longo
desses anos. Mas obrigada pelas porradas emocionais, me fizeram mais forte. Ou
só menos cafona. Um tanto mais triste, mas relevemos.
Escrito especialmente para Ana
Beatriz, Juliana, Renata, Yasmin, Larissa, Paula, Pedro Fraga.
Nenhum comentário:
Postar um comentário