quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Carta

Querida Mariana de dez anos

Aproveita todos os momentos com seu hamster. Ele não vai durar muito. Tenta guardar o dinheiro que seu pai te dá, sei que é difícil, mas vai ser importante. Não se precipite, sei que as garotas na sua sala vão falar besteiras e que você é infantil e que não é no ritmo delas, deixe-as e suas ladainhas. Continua estudando, você vai se surpreender consigo mesma, no final você vai passar para uma das melhores faculdades do país. Esses colegas aí da sua turma, pode se desapegando deles, poucos vão continuar contigo, poucos ainda vão te apoiar. Até que você vai perceber que esses poucos saíram, e você está sozinha, mas não pode tombar, precisa continuar, você vai conseguir, vai ser difícil, mas você vai conseguir. Vão te criticar, você vai desejar estar em outro lugar, vai querer sair de lá a todo custo, mas tudo em vão. Você é forte. Pode parecer que não, mas é. Você vai      quebrar vários óculos, vários celulares, tenta ser um pouco mais cuidadosa. Tenta ser mais legal com sua avó, reatar os laços com ela, se não, as coisas podem piorar. E vão, vai ter um ápice aí, que vai ser terrível, uma tempestade de emoções e raiva, mas se segura e vai em frente. Tenta fazer coisas simples, arrumar seu quarto, lavar uma louça, isso vai fazer diferença no futuro. Não precisa usar sutiã, você não tem nada, e não se preocupe, seus peitos vão crescer, você vai ter curvas, vão ter homens interessados no seu corpo. Aquele garoto x que te zoava, hoje te chama para ir a casa dele, olha que legal. Mas você recusa gentilmente. Você poderá escolher, olhe só! Mas agora não. Agora você é magrela e usa aparelho, e não tem nada de legal a oferecer, só risadas infantis. Mas é isso que uma criança de dez anos tem de oferecer mesmo, não precisa fingir que é adulta. Você fala que beber é idiota e se pergunta o porque dos adultos fazerem isso, mas você vai beber também, e vai ver que é para fugir da realidade . Ah, sua mente vai ficar mais obscura, Mariana. Você não vai ser aquela criança feliz, não. O gosto amargo penetrará na sua garganta, o pessimismo invadirá sua visão, e será difícil de transpassar isso, mas vai dar certo. Vai dar certo, pois eu estou aqui. E eu sou você. 

domingo, 22 de janeiro de 2017

Little contacts

Agenda cheia de pessoas vazias

Viva o século vinte e um
E o desapego
E a falta de expressão
Pessoas fechadas
A falta de emoção
Somos utilitários
Somos pedaços de carne
Deixamos inseguranças em nossos armários
Muito felizes
Muito contentes
Tao malandros
Tao inteligentes
Sem compromisso
Uma agenda cheia
De pessoas vazias
Mesmo em um ambiente quente
Carícias parecem falsas, frias.
Mil pequenos contatos
Mas ninguém para realmente contar
Que pena
Pessoas
Simplificadas potencialmente
Reduzidas aos seus corpos jovens, especialmente.
E gostos normais
E olhares desprovidos de sentimentos
E beijos superficiais
E gestos ensaiados
E a carência sexual é nutrida
Deixando a emocional se acumular
Cada um é de cada um
Não confie em ninguém
O que acontece?
Não ame, não vá além.
Mantenha-se são
Faça o bem sem olhar a quem
Apenas
Sempre
Preserve

Seus little contacts

domingo, 15 de janeiro de 2017

Desencaixada

04h16min, madrugada de segunda-feira de 2017.
Eu, tirando os resquícios da minha maquiagem tosca, de frente para minha imagem ao espelho. Hoje em dia eu quase não uso rímel, lápis, nada disso. Resolvi passar porque fazia muito tempo que não via meus cílios mais compridinhos. Mas há seis anos, eu usava. Eu usava constantemente, como se tentasse me esconder por trás da tinta.
  Por que eu usava?
Pois as garotas da minha sala usavam. Elas eram diferentes. Minto, elas eram muito iguais, eu que era diferente. Eram (tidas como) bonitas, popularezinhas, engraçadinhas.
Sempre foram. Com dez anos, pedi a minha mãe para que ela me comprasse um sutiã. Eu não precisava, ainda, mas mesmo assim pedi. Pelo mesmo motivo. As meninas da minha sala já estavam usando, eu me sentia para trás, me sentia excluída. E lá fui eu, me sentindo o máximo, com um sutiã branco que não tinha muito que sustentar.
E lá ia eu, tentando imita-las. No fundo, entre todas as fofocas de garotos, eu só queria saber de ficar desenhando minhas pequenezas. E eu me sentia uma alien perto delas.
O ápice disso foi quando eu decidi comprar umas sandálias plataforma. Umas sandálias de borracha, enormes. Eu já era alta, parecia um palito, e com aquelas sandálias, era deveras ridícula.
Minha mãe, como não era muito presente, compensava isso com elogios e incentivos ás minhas escolhas. Ela me via com aqueles sapatos e me achava a criança mais linda do mundo. E eu acreditava. Mas não por muito tempo.
Essas colegas minhas cortaram minhas asas, disseram-me, na cara dura, o quão ridícula eu parecia naquelas sandálias. Diziam que era como se fosse um palco. ``Desce do palco, Mariana``, uma delas comentou, um dia. Quando fomos fazer um trabalho na casa de uma delas, a dona da casa pegou uma sandália minha e escondeu, outra jogou para cima, elas se divertiam. E me zoavam. E eu ia embora me sentindo primeiramente bem, pois pelo menos estava com elas, depois me sentia mal, pois sentia o desprezo delas, e depois ficava meio triste, mas eu tinha uma positividade muito grande acumulada, posso dizer que fui forte emocionalmente.
Elas tacavam pedras na minha alma, dizendo o quanto eu era feia, os garotos concordavam, se esgueiravam para longe de mim. De fato, eu era estranha.
Um dia, essas colegas disseram que iam dar um trato em mim. Fomos ao shopping, elas me guiaram, com o controle em suas mãos, e elas compraram, com o meu dinheiro, um corretor para olheiras e uma base, que nem da minha cor era.
E então, amigos, chegamos ao ponto. Eu comecei a usar maquiagem, ia para a escola de maquiagem, achando que seria mais aceita assim, achando que algo mudaria, que minhas colegas eram minhas amigas.
Para vocês terem ideia, eu só beijei o primeiro cara porque queria ser igual ás minhas colegas. Elas estavam todas felizes contando suas experiências, e lá fui eu, com treze anos recém formados, ``ficar`` com o primeiro que me elogiou, por recomendação de uma dessas colegas.
Essas colegas foram saindo da minha sala, e eu amadureci. Quanto mais elas saíam, mais eu fui libertando meu espírito, percebendo que estava botando essas garotas em um patamar inexistente, e que não precisava ser aceita em droga nenhuma, eu preferiria estar sozinha que convivendo com tamanhas personalidades. Percebi que eu não precisava de tinta para esconder minhas imperfeições, deixe-as lá, estou bem com elas.
Hoje, eu fico feliz pelas minhas sandálias plataforma. Quase virei o pé com elas? Quase virei o pé com elas. Abri o queixo por causa delas? Também. Mas estou satisfeita, pois elas me criticavam, e eu nunca as joguei fora. Parabéns, vocês foram crianças precoces, beijaram bocas quando ainda nem sabiam o que mais podiam fazer com elas.
Parei de usar maquiagem, me sinto muito melhor assim. Elas tentaram me moldar para eu me encaixar, mas a verdade é que eu prefiro estar fora, com minhas amizades de verdade, com minhas características. Eu estou satisfeita com a aparência que adquiri ao longo desses anos. Mas obrigada pelas porradas emocionais, me fizeram mais forte. Ou só menos cafona. Um tanto mais triste, mas relevemos.

Escrito especialmente para Ana Beatriz, Juliana, Renata, Yasmin, Larissa, Paula, Pedro Fraga.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Buldogue humano

1.1   TIPOS
O homem babão
Imagine um cachorro, um buldogue. Macho. Ele vê o traseiro da fêmea, a muitos metros de distancia, é já começa a se tremer, começa a babar descaradamente, atraído pelo cheiro. Ele fica tão fissurado que quase começa a perseguir a cadela. Agora transforme em ser humano. Voilá.
Todos nós sabemos que, quando submetidos à presença feminina, há uma mudança no comportamento dos machos da espécie homo sapiens. Tudo bem, as fêmeas também o fazem.
A questão é quando essa mudança se transforma em um comportamento extremamente irritante e que dá vontade de mandar o homem pastar.
Eis o homem babão. Todos os homens tem essa personalidade dentro deles, a diferença é quanto eles a expressam e quanto eles deixam a mesma predominar e tomar posse.
Para conseguir caracterizar um homem babão? Simples. O babão sempre vai elogiar a mulher que o interessa, independentemente se gostou do seu cabelo, das suas unhas, do seu corpo, vai falar que você é linda por que... Despertou interesse nele. Não é você, é o interesse dele, não adianta. E ele vai ficar te fazendo elogios e medindo palavras para não estragar a conversa que ele imagina estar abalando.
Sempre com risadinhas acompanhando, para nos distrair da insegurança deles, e dar um ar de descontração. Eles deixam tão aparente que querem te pegar que chega a ser chato.
Ele vai usar todos os seus comentários para tentar te cantar, para tentar MOSTRAR MAIS o interesse deles, eis exemplos:
-Gosto de desenhar.
-Nossa, vem aqui me ensinar a desenhar?!
O homem babão é ligeiramente parecido com o homem-muito-precipitado-chega-a-dar-raiva.
Ele nunca vai falar de coisas mais pesadas com você, muito menos te ajudar em algo. Se for para te ajudar, ele vai dizer algo como:
Você é linda, vai conseguir passar por isso.
Eles são tão pautados em aparências, é repugnante qualquer tentativa de conversa com eles.
Estou fazendo esse texto para alerta-las, no Tinder há muitos homens babões. Na vida também. Os elogios deles são tão vazios que chegam a soar depreciativos.
E assim eu percebi que o tinder não é pra mim. É pra gente normal, que gosta de gente normal e elogios vazios.

Acontece.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Que bicho belo!

Escrevendo esse texto, pois ainda não acreditei no que aconteceu. Eu sou uma pessoa espontânea que gosta de conhecer gente aleatória, tudo bem. Logo, meus amigos, adicionei um homem no meu facebook, ele tinha alguns amigos em comum comigo, nada demais. Adicionei pois achei a cara bonita, falo mesmo. E, ao contrário dos outros caras que EU TAMBÉM ADICIONEI, esse chegou e disse que morava na rua da casa de minha mãe e me chamou para dar uma volta. Rápido, incisivo, como eu gosto.
Minhas experiências de encontrar gente ás escuras não é boa. Sempre crio expectativas e não dá certo. Uma vez encontrei um cara naquele famoso aplicativo o qual não vou mencionar o nome, e a foto aparecia um homem loiro, de olhos azuis, maravilhoso. Quando o encontrei, vi que ele era baixinho e gordinho, não fazia meu tipo nem a pau. Mas tinha uma cara bonita. Outro, me apaixonei pela voz, pelo sotaque gaúcho do qual eu tanto gosto, quando fui encontra-lo percebi que ele não era grande coisa, fiquei deveras decepcionada. Esses e mais outros.
Logo, com esse carinha, nem me dei o trabalho de analisar o facebook do cidadão. Não nutria expectativas, mas, pela foto , parecia que ele tinha menos de um metro e setenta. E estava eu, lendo meu livrinho, pensando que a criatura ia chegar meia hora atrasada.
Atravessou a rua, acompanhado de amigos, um sujeito com cerca de 1,70, cara de lerdo, me olhando estranho. ``Puta que pariu, que seja rápido``, pensei eu. Quando vi, ele estava acompanhado de amigos hispano-americanos, NÃO ERA ELE. E não sabia se ficava aliviada ou não, pois o homem poderia ser até pior, com a minha sorte. E fiquei esperando.
E.....
Imaginem um homem bonito. Agora imaginem um lindo. Maravilhoso. 1,90 e poucos de muita belezura. Ombros larguíssimos, uns trapézios salientes. Meu deus, que trapézios. Eu poderia ficar o dia todo admirando aqueles trapézios. É exatamente do jeito que eu adoro: alto, grande, provido de MASSA PARA APERTAR. Não saradíssimo, mas definidinho, nossa, que corpo delicioso, poderia ficar a noite toda descrevendo aquela obra magnífica. Da cor de um bronzeado incrível, meio amendoado, não sei muito bem como descrever. Mas uma pessoa linda. Um rosto esculpido por anjos, com um sorriso não tão perfeito assim, mas um nariz lindo, com a curva mais simétrica que eu já vi. E uns cabelos louro escuros, perfeitos para botar a mão e ficar alisando o dia todo. E uns olhos castanhos, cálidos, com um olhar deveras interessante. QUE HOMEM. QUE HOMENZARRÃO DA PORRA. 
  Eu achava que aquele espécime humano ia seguir em frente, mas não. Ele chegou até mim e me cumprimentou.
Fiquei na ponta dos pés para cumprimentá-lo.
E eu fiquei meio desnorteada. Do tipo: Cara, que bicho belo, socorro.
Fiquei sem graça, passei a mão nos cabelos, tentei dar uma arrumada de última hora.
Conversei com ele, meio devagar das ideias. Não do tipo inteligente como eu gosto, mas do tipo fica de boas calado para eu te admirar. 
Mas que corpo.
QUE .
CORPO.

Nunca a música da Aguilera fez mais sentido.