domingo, 7 de fevereiro de 2016

Mariana e a quase catástrofe total




Praia da barra, três horas da manhã, clima agradável, brisa suave. Estava Mariana em um luau de aniversário de um parceiro de muitos anos de estrada, divertindo-se como se não houvesse amanhã. Os amigos presentes estavam discutindo sobre sua série favorita e tudo estava muito tranquilo e favorável. Mariana havia levado alguns quitutes para saborear caso sentisse fome, e assim o fez, comeu duas bananas, algumas paçocas e mais algumas coisas. E então chegou a hora de irem todos embora, para o infinito e além, para seus respectivos lares. Levantaram-se as tendas e se botaram em marcha. O problema consistia em ter que andar do posto 3 até a alvorada, no posto 8. Isso cinco horas da manhã, todos cansadíssimos. Nem tremeram, em um grupo reduzido de cinco batalhadores, trabalhadores braçais, Mariana e quatro caras. E lá foram nossos heróis, cruzando as terras da barra da tijuca, conversando sobre os mais diversos temas enquanto a aurora surgia, as nuvens se dispersavam e em um piscar de olhos já estava claro. Mariana trajando coturnos não se incomodou com a longa distância de mais de cinco quilômetros percorridos. No último momento resolveram mudar o plano, não iriam até o fim, pegariam o ônibus até o Méier. Mas Mariana não iria para lá, então ficou esperando no ponto de ônibus cm eles até o dito cujo aparecer. Enquanto isso, contemos como estava a situação do grupo: Esbaforidos, cansados, suados, com sede. Mariana comeu o pudim que restara da ceia vespertina do luau. E então, como em um sonho, dois dos integrantes foram comprar água, e em um movimento gentil estenderam garrafas geladas de água para todos. Mariana tomou 500 ml em um gole apenas. Depois se arrependeria amargamente deste gesto aparentemente inocente. E enfim chegou o transporte de seus amigos, que em um aceno rápido despediram-se de Mariana e se mandaram. Nossa heroína, agora solitária, precisava caminhar mais um quilômetro com uma mochila de três quilos em um ombro e uma de dois no outro, e ainda levando uma fantasia de carnaval no braço. Ela nem por um momento fraquejou, pôs-se em movimento, face determinada, agora hidratada. Caminhou ao lado da grande Avenida das Américas, ruas diminutas e estreitas, carros zunindo a velocidade máxima ao seu lado. E lá foi ela, até precisou correr rapidamente para atravessar a perigosa avenida, evitando a passarela, que seria o caminho mais seguro. Chegando no destino, Alvorada, grande centro de transportes, viu que um estrangeiro estava tentando se comunicar em espanhol com um guarda, e lá foi ela tentar ajudar. Resultado: O amigo era um israelense perdido na Barra ás sete da manhã querendo ir para Ipanema, e Mariana ajudou-o perfeitamente, com seu inglês impecável. E lá foi Mariana esperar na fila para embarcar no conhecido Bus Rapid Transit ( BRT) e demorou mais ou menos duas horas para chegar na estação de metrô Vicente de Carvalho. Nesse meio tempo, enquanto passava pelas lindas paisagens da zona oeste do Rio de Janeiro, o BRT movimentava-se de maneira irregular, como um cavalo selvagem, minto, como um asno manco selvagem, devagar e sacolejando. E Mariana tinha tomado muita água, lá vinha a vontade de usar o banheiro. E a cada sacudida ela sentia a água se remexendo em sua bexiga e o pânico aumentava. Ela olhava as paisagens repetitivas, prédios bonitos, algumas casas se deteriorando e uns banners, da Leroy Marlin por exemplo. Havia muitos banners da Leroy Marlin. Chegando á estação, descobriu que deveria pagar mais 3,80 na passagem, já gastando 1/5 do seu dinheiro meramente planejado. Tudo bem, corrupção a parte, estava ela com muita vontade de ir ao banheiro. Chegando ao início da estação de metrô, perguntou aos dois agentes de segurança presentes... melhor, transcreverei o discurso.

Mariana: ‘’-Olá, tem banheiro nessa estação?
Agente ruim: ”-Não. ”
Agente bom: “-Sim”.
Agente ruim: “-Tem, mas está interditado. ”
Agente bom: “-Não está, não. ”
Mariana: ”-.......”
Agente bom: “-Vou falar com o supervisor. ”
Mariana: ”-Ok. ”
Agente ruim: “-Não adianta, está interditado devido aos ratos. ”
Mariana: ”-Ratos? (Pensando: WTF)
Agente bom: ”-Realmente, não dá, tentei falar com o supervisor.
Pensamento lógico: Há toda uma equipe do metrô. Caixas, supervisores, maquinistas, faxineiros. NÃO É POSSÍVEL QUE EM TODA ESTAÇÃO NÃO TENHA UM BANHEIRO. Mariana pensou em apelar e dizer que estava grávida para poder finalmente ir e ser feliz. Mas não usou esse golpe baixo porque... bom, seria uma boa ideia, ela estava desesperada.
Chegando ao metrô, não aguentou ficar em pé e sentou-se no canto do vagão, desolada. Pelo menos seriam apenas seis estações. Cada estação era um passo mais próximo de casa. E assim ela foi aguentando, pôs a cabeça entre os joelhos e passou todo o sufoco possível, o metrô também sacolejava e a todo momento ela pensava que não poderia mais segurar. Chegou á estação final, Pavuna, e lá foi ela perguntar novamente, agora para um guarda.
Mariana: “-Olá, tem banheiros aqui? ”
Guarda: ”-Interditado. ”
Mariana: ”-Até na saída B? ”
Guarda: “-Interditado devido ao chorume.
Mas mesmo se não fosse isso, estaria interditado. ”
Pensamento lógico: Estamos no carnaval, de fato o metrô está superlotadoe então eles estão bloqueando o acesso da população aos banheiros para que eles não virem chiqueiros, MAS PO, PAGAMOS 3,70 para encaramos mentiras como “Ratos e chorume” quando eles simplesmente fecham as portas ao povo, negando uma condição básica do ser humano. Quando Mariana for rica ainda processará a empresa Metrô Rio por danos morais.
Saiu ela desesperada, teve que andar pela feira eterna dos reinos longínquos da Pavuna, e encontrou o ponto do ônibus que a levaria para casa e poderia ter calma e sossego. Devido ao desespero, colocou as mochilas no chão, esperou vinte minutos em pé agoniada, o número do ônibus seria 736, destino Jardim Botânico. (Fato curioso: Mariana só conhece o Jardim Botânico da Zona sul, mas tudo bem, existe um na zona norte também.)
Fato importante: Mariana é míope. E devido ao desespero, ela teve o incrível raciocínio: “Consigo enxergar o nome do lugar e os dois primeiros números, não estou com vontade de pegar meus óculos, o esforço de me abaixar poderia romper minha bexiga e uma catástrofe aconteceria.
Ao chegar o primeiro ônibus com as características acima, pegou Mariana suas duas mochilas e fantasia e subiu no veículo. Como uma não habitante de São João De Meriti, perguntou ao motorista: “-Passa na área Pernambucana? ” E ele respondeu um curto e sábio: ”-Não”. A cobradora comentou: “-Esse é o 738. Você precisa pegar o 736. ” E então, rapidamente Mariana recolheu a nota de cinco reais que botou na mão da cobradora e desceu. E sentira uma leveza na alma, nos ombros, se sentia mais livre. E de repente percebeu: “MINHA MOCHILA COM MEU NOTEBOOK” e o pânico tomou conta de Mariana. Ela pegou o ônibus atrás, que por coincidência e muita sorte era o tão esperado 736, e quase ordenou: “-SIGA AQUELE ÔNIBUS! ” Por sorte e muita coincidência do destino, o motorista era novo e estava claramente fazendo as vontades de Mariana, acalmou-a e falou, pela discrição de Mariana do motorista e sua cobradora, que conhecia o motorista e que minha mochila estaria sã e salva no ponto final. Em todo o percurso Mariana mal pode apreciar a linda paisagem de São João de Meriti pois estava muito agoniada, e precisava ir ao banheiro e pegar sua mochila, resgatar seus pertences, seus bens. Chegando ao ponto final, conseguira recuperar a mochila, a cobradora chegou com um sorriso e entregou a mochila como se fosse um bebê recém-nascido no colo do pai. E a sensação de Mariana também não era diferente.
Para melhorar, dissera o motorista para seu chefe: “- Chefe, deixa ela entrar por trás (0800), ela já pagou muita passagem hoje. (DETALHE: Mariana não pagara nenhuma passagem de ônibus, foi um agrado lindo do motorista.)
Um dia Mariana será rica e pagará uma bebida ao melhor motorista de todos os tempos da última semana.
E assim, depois de muito sufoco e muita vontade de ir ao banheiro, chegara Mariana ao ponto, saíra do ônibus e fora até a casa. Lá, assobiou, agoniada, bateu na porta e foi algo bem poético;
“-Quem é? ”
“-SOU EU!!”
“-Quem? ”
“-SÓ ABRE, EU VOU MORRER AQUI”
“-Ah, Mariana. ”
*Abre a porta e Mariana sai correndo cheia de areia pelo seu corpo ( devido ao luau) para o banheiro.
E assim passou Mariana as seguintes duas horas limpando a casa pela areia espalhada. Mas tudo acaba bem quando termina bem, e assim terminou a saga de Mariana pelo Rio de Janeiro, com muito ódio do Metrô Rio e muito amor pela companhia de ônibus de St. John.

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