domingo, 28 de fevereiro de 2016

Sonífera Ilha



Meu amor,
Aconteceu algo terrível. Depois de ter mentido, traído e matado por você, finalmente me capturaram. Estava eu em meu solene sono quando de repente sinto braços me agarrando, e então uma agulha foi espetada em meu braço e então de nada me lembro. Mas, resumindo, estão me punindo de forma inédita. Por vivermos em uma ditadura, acho que o tratamento a mim direcionado foi, de certa maneira, leve. Acordei em uma ilha deserta, no meio do oceano. Se é atlântico ou pacífico, ou nenhum dos dois, não sei. Provavelmente é o Atlântico pela temperatura amena da água e cor ligeiramente esverdeada, escura. A ilha é provida de recursos, há alguns rios e árvores frutíferas, acho que consigo sobreviver por aqui por um tempo. Nada foi me dito acerca do tempo que permanecerei aqui ou o porquê do meu isolamento, apenas acordei aqui. Me deixaram com meu mísero rádio. E o pior é que o mesmo é abastado por pilhas, logo, seu período ligado será breve. Aqui o sinal não chega, mal posso ouvir ás rádios de nossa pátria. Para minha sorte foi deixado o CD que estava dentro, então.... Não posso mais viver ao seu lado, mas ao menos tenho meu rádio, o manterei ligado e assim ele permanecerá.... Ouvirei sua voz e assim você acalmará meus sentidos. Irei te sintonizar, sozinha, nesta ilha...e assim minha alma se desfalecerá em saudades. Os tons de sua voz aveludada ficarão vivos em minha memória, e assim você me sossegará, me deixará em paz, ao menos, no meio desta ilha deserta. Quando eu tiver vontade de gritar, os efeitos de sua música me acalmarão. Quando eu olhar para os lados e não conseguir encontrar nada que me agrade, te ouvirei cantando, fecharei meus olhos e esperarei para este pesadelo acabar. Você será meu salvador, minha paz, meu herói, você me encherá de luz quando tudo aqui for escuridão. Sem você aqui comigo, isto seria uma silenciosa ilha.... Com você, mesmo que de forma indireta, isto é uma sonífera ilha...
                                                                                                               Seu amor.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Poema Expresso #1

Por favor
Me traz a garrafa
Me livra da dor
Não tenho amor
Estou com calor
Sinto ardor na alma
Minha mente não se acalma
Não consigo dormir
Não consigo sorrir
Me arranja minha bebida
Estou em um beco sem saída
E assim é minha vida
Nada se prende a mim
A não ser minha garrafa de gim



Mariana Mitic

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Sessão poema #11



Mas eles te amam

Eles esfregam tudo na sua cara
A pressão não para
Eles reclamam
Mas eles te amam

Eles dizem que você não presta
De bom, em você nada resta
Eles te estressam
Mas eles te amam

Eles te põem para baixo todo dia
Dilaceram sua alegria
Externamente te odeiam
Mas eles te amam

Eles te ameaçam
Te assustam
Te caçam
Mas eles te amam

Eles te matam silenciosamente
Se infiltram na sua mente
Dizem que você não é gente
Mas eles te amam

Eles dizem que você não é nada
Te deixam magoada
Com a alma ferida, maltratada
Mas eles te amam

Para as almas desse planeta
Digam para essa família zureta
Que se eles continuarem eu vou me matar
Digam a eles para pararem de me amar.

Mariana Mitic

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Mariana e a quase catástrofe total




Praia da barra, três horas da manhã, clima agradável, brisa suave. Estava Mariana em um luau de aniversário de um parceiro de muitos anos de estrada, divertindo-se como se não houvesse amanhã. Os amigos presentes estavam discutindo sobre sua série favorita e tudo estava muito tranquilo e favorável. Mariana havia levado alguns quitutes para saborear caso sentisse fome, e assim o fez, comeu duas bananas, algumas paçocas e mais algumas coisas. E então chegou a hora de irem todos embora, para o infinito e além, para seus respectivos lares. Levantaram-se as tendas e se botaram em marcha. O problema consistia em ter que andar do posto 3 até a alvorada, no posto 8. Isso cinco horas da manhã, todos cansadíssimos. Nem tremeram, em um grupo reduzido de cinco batalhadores, trabalhadores braçais, Mariana e quatro caras. E lá foram nossos heróis, cruzando as terras da barra da tijuca, conversando sobre os mais diversos temas enquanto a aurora surgia, as nuvens se dispersavam e em um piscar de olhos já estava claro. Mariana trajando coturnos não se incomodou com a longa distância de mais de cinco quilômetros percorridos. No último momento resolveram mudar o plano, não iriam até o fim, pegariam o ônibus até o Méier. Mas Mariana não iria para lá, então ficou esperando no ponto de ônibus cm eles até o dito cujo aparecer. Enquanto isso, contemos como estava a situação do grupo: Esbaforidos, cansados, suados, com sede. Mariana comeu o pudim que restara da ceia vespertina do luau. E então, como em um sonho, dois dos integrantes foram comprar água, e em um movimento gentil estenderam garrafas geladas de água para todos. Mariana tomou 500 ml em um gole apenas. Depois se arrependeria amargamente deste gesto aparentemente inocente. E enfim chegou o transporte de seus amigos, que em um aceno rápido despediram-se de Mariana e se mandaram. Nossa heroína, agora solitária, precisava caminhar mais um quilômetro com uma mochila de três quilos em um ombro e uma de dois no outro, e ainda levando uma fantasia de carnaval no braço. Ela nem por um momento fraquejou, pôs-se em movimento, face determinada, agora hidratada. Caminhou ao lado da grande Avenida das Américas, ruas diminutas e estreitas, carros zunindo a velocidade máxima ao seu lado. E lá foi ela, até precisou correr rapidamente para atravessar a perigosa avenida, evitando a passarela, que seria o caminho mais seguro. Chegando no destino, Alvorada, grande centro de transportes, viu que um estrangeiro estava tentando se comunicar em espanhol com um guarda, e lá foi ela tentar ajudar. Resultado: O amigo era um israelense perdido na Barra ás sete da manhã querendo ir para Ipanema, e Mariana ajudou-o perfeitamente, com seu inglês impecável. E lá foi Mariana esperar na fila para embarcar no conhecido Bus Rapid Transit ( BRT) e demorou mais ou menos duas horas para chegar na estação de metrô Vicente de Carvalho. Nesse meio tempo, enquanto passava pelas lindas paisagens da zona oeste do Rio de Janeiro, o BRT movimentava-se de maneira irregular, como um cavalo selvagem, minto, como um asno manco selvagem, devagar e sacolejando. E Mariana tinha tomado muita água, lá vinha a vontade de usar o banheiro. E a cada sacudida ela sentia a água se remexendo em sua bexiga e o pânico aumentava. Ela olhava as paisagens repetitivas, prédios bonitos, algumas casas se deteriorando e uns banners, da Leroy Marlin por exemplo. Havia muitos banners da Leroy Marlin. Chegando á estação, descobriu que deveria pagar mais 3,80 na passagem, já gastando 1/5 do seu dinheiro meramente planejado. Tudo bem, corrupção a parte, estava ela com muita vontade de ir ao banheiro. Chegando ao início da estação de metrô, perguntou aos dois agentes de segurança presentes... melhor, transcreverei o discurso.

Mariana: ‘’-Olá, tem banheiro nessa estação?
Agente ruim: ”-Não. ”
Agente bom: “-Sim”.
Agente ruim: “-Tem, mas está interditado. ”
Agente bom: “-Não está, não. ”
Mariana: ”-.......”
Agente bom: “-Vou falar com o supervisor. ”
Mariana: ”-Ok. ”
Agente ruim: “-Não adianta, está interditado devido aos ratos. ”
Mariana: ”-Ratos? (Pensando: WTF)
Agente bom: ”-Realmente, não dá, tentei falar com o supervisor.
Pensamento lógico: Há toda uma equipe do metrô. Caixas, supervisores, maquinistas, faxineiros. NÃO É POSSÍVEL QUE EM TODA ESTAÇÃO NÃO TENHA UM BANHEIRO. Mariana pensou em apelar e dizer que estava grávida para poder finalmente ir e ser feliz. Mas não usou esse golpe baixo porque... bom, seria uma boa ideia, ela estava desesperada.
Chegando ao metrô, não aguentou ficar em pé e sentou-se no canto do vagão, desolada. Pelo menos seriam apenas seis estações. Cada estação era um passo mais próximo de casa. E assim ela foi aguentando, pôs a cabeça entre os joelhos e passou todo o sufoco possível, o metrô também sacolejava e a todo momento ela pensava que não poderia mais segurar. Chegou á estação final, Pavuna, e lá foi ela perguntar novamente, agora para um guarda.
Mariana: “-Olá, tem banheiros aqui? ”
Guarda: ”-Interditado. ”
Mariana: ”-Até na saída B? ”
Guarda: “-Interditado devido ao chorume.
Mas mesmo se não fosse isso, estaria interditado. ”
Pensamento lógico: Estamos no carnaval, de fato o metrô está superlotadoe então eles estão bloqueando o acesso da população aos banheiros para que eles não virem chiqueiros, MAS PO, PAGAMOS 3,70 para encaramos mentiras como “Ratos e chorume” quando eles simplesmente fecham as portas ao povo, negando uma condição básica do ser humano. Quando Mariana for rica ainda processará a empresa Metrô Rio por danos morais.
Saiu ela desesperada, teve que andar pela feira eterna dos reinos longínquos da Pavuna, e encontrou o ponto do ônibus que a levaria para casa e poderia ter calma e sossego. Devido ao desespero, colocou as mochilas no chão, esperou vinte minutos em pé agoniada, o número do ônibus seria 736, destino Jardim Botânico. (Fato curioso: Mariana só conhece o Jardim Botânico da Zona sul, mas tudo bem, existe um na zona norte também.)
Fato importante: Mariana é míope. E devido ao desespero, ela teve o incrível raciocínio: “Consigo enxergar o nome do lugar e os dois primeiros números, não estou com vontade de pegar meus óculos, o esforço de me abaixar poderia romper minha bexiga e uma catástrofe aconteceria.
Ao chegar o primeiro ônibus com as características acima, pegou Mariana suas duas mochilas e fantasia e subiu no veículo. Como uma não habitante de São João De Meriti, perguntou ao motorista: “-Passa na área Pernambucana? ” E ele respondeu um curto e sábio: ”-Não”. A cobradora comentou: “-Esse é o 738. Você precisa pegar o 736. ” E então, rapidamente Mariana recolheu a nota de cinco reais que botou na mão da cobradora e desceu. E sentira uma leveza na alma, nos ombros, se sentia mais livre. E de repente percebeu: “MINHA MOCHILA COM MEU NOTEBOOK” e o pânico tomou conta de Mariana. Ela pegou o ônibus atrás, que por coincidência e muita sorte era o tão esperado 736, e quase ordenou: “-SIGA AQUELE ÔNIBUS! ” Por sorte e muita coincidência do destino, o motorista era novo e estava claramente fazendo as vontades de Mariana, acalmou-a e falou, pela discrição de Mariana do motorista e sua cobradora, que conhecia o motorista e que minha mochila estaria sã e salva no ponto final. Em todo o percurso Mariana mal pode apreciar a linda paisagem de São João de Meriti pois estava muito agoniada, e precisava ir ao banheiro e pegar sua mochila, resgatar seus pertences, seus bens. Chegando ao ponto final, conseguira recuperar a mochila, a cobradora chegou com um sorriso e entregou a mochila como se fosse um bebê recém-nascido no colo do pai. E a sensação de Mariana também não era diferente.
Para melhorar, dissera o motorista para seu chefe: “- Chefe, deixa ela entrar por trás (0800), ela já pagou muita passagem hoje. (DETALHE: Mariana não pagara nenhuma passagem de ônibus, foi um agrado lindo do motorista.)
Um dia Mariana será rica e pagará uma bebida ao melhor motorista de todos os tempos da última semana.
E assim, depois de muito sufoco e muita vontade de ir ao banheiro, chegara Mariana ao ponto, saíra do ônibus e fora até a casa. Lá, assobiou, agoniada, bateu na porta e foi algo bem poético;
“-Quem é? ”
“-SOU EU!!”
“-Quem? ”
“-SÓ ABRE, EU VOU MORRER AQUI”
“-Ah, Mariana. ”
*Abre a porta e Mariana sai correndo cheia de areia pelo seu corpo ( devido ao luau) para o banheiro.
E assim passou Mariana as seguintes duas horas limpando a casa pela areia espalhada. Mas tudo acaba bem quando termina bem, e assim terminou a saga de Mariana pelo Rio de Janeiro, com muito ódio do Metrô Rio e muito amor pela companhia de ônibus de St. John.