Praia da barra, três horas da manhã, clima agradável, brisa
suave. Estava Mariana em um luau de aniversário de um parceiro de muitos anos
de estrada, divertindo-se como se não houvesse amanhã. Os amigos presentes
estavam discutindo sobre sua série favorita e tudo estava muito tranquilo e
favorável. Mariana havia levado alguns quitutes para saborear caso sentisse
fome, e assim o fez, comeu duas bananas, algumas paçocas e mais algumas coisas.
E então chegou a hora de irem todos embora, para o infinito e além, para seus
respectivos lares. Levantaram-se as tendas e se botaram em marcha. O problema
consistia em ter que andar do posto 3 até a alvorada, no posto 8. Isso cinco
horas da manhã, todos cansadíssimos. Nem tremeram, em um grupo reduzido de
cinco batalhadores, trabalhadores braçais, Mariana e quatro caras. E lá foram
nossos heróis, cruzando as terras da barra da tijuca, conversando sobre os mais
diversos temas enquanto a aurora surgia, as nuvens se dispersavam e em um
piscar de olhos já estava claro. Mariana trajando coturnos não se incomodou com
a longa distância de mais de cinco quilômetros percorridos. No último momento
resolveram mudar o plano, não iriam até o fim, pegariam o ônibus até o Méier.
Mas Mariana não iria para lá, então ficou esperando no ponto de ônibus cm eles
até o dito cujo aparecer. Enquanto isso, contemos como estava a situação do grupo:
Esbaforidos, cansados, suados, com sede. Mariana comeu o pudim que restara da
ceia vespertina do luau. E então, como em um sonho, dois dos integrantes foram
comprar água, e em um movimento gentil estenderam garrafas geladas de água para
todos. Mariana tomou 500 ml em um gole apenas. Depois se arrependeria amargamente
deste gesto aparentemente inocente. E enfim chegou o transporte de seus amigos,
que em um aceno rápido despediram-se de Mariana e se mandaram. Nossa heroína,
agora solitária, precisava caminhar mais um quilômetro com uma mochila de três
quilos em um ombro e uma de dois no outro, e ainda levando uma fantasia de
carnaval no braço. Ela nem por um momento fraquejou, pôs-se em movimento, face
determinada, agora hidratada. Caminhou ao lado da grande Avenida das Américas,
ruas diminutas e estreitas, carros zunindo a velocidade máxima ao seu lado. E
lá foi ela, até precisou correr rapidamente para atravessar a perigosa avenida,
evitando a passarela, que seria o caminho mais seguro. Chegando no destino,
Alvorada, grande centro de transportes, viu que um estrangeiro estava tentando
se comunicar em espanhol com um guarda, e lá foi ela tentar ajudar. Resultado: O
amigo era um israelense perdido na Barra ás sete da manhã querendo ir para Ipanema,
e Mariana ajudou-o perfeitamente, com seu inglês impecável. E lá foi Mariana
esperar na fila para embarcar no conhecido Bus Rapid Transit ( BRT) e demorou mais ou menos duas horas para chegar
na estação de metrô Vicente de Carvalho. Nesse meio tempo, enquanto passava
pelas lindas paisagens da zona oeste do Rio de Janeiro, o BRT movimentava-se de
maneira irregular, como um cavalo selvagem, minto, como um asno manco selvagem,
devagar e sacolejando. E Mariana tinha tomado muita água, lá vinha a vontade de
usar o banheiro. E a cada sacudida ela sentia a água se remexendo em sua bexiga
e o pânico aumentava. Ela olhava as paisagens repetitivas, prédios bonitos,
algumas casas se deteriorando e uns banners, da Leroy Marlin por exemplo. Havia
muitos banners da Leroy Marlin. Chegando á estação, descobriu que deveria pagar
mais 3,80 na passagem, já gastando 1/5 do seu dinheiro meramente planejado.
Tudo bem, corrupção a parte, estava ela com muita vontade de ir ao banheiro.
Chegando ao início da estação de metrô, perguntou aos dois agentes de segurança
presentes... melhor, transcreverei o discurso.
Mariana: ‘’-Olá, tem banheiro nessa estação?
Agente ruim: ”-Não. ”
Agente bom: “-Sim”.
Agente ruim: “-Tem, mas está interditado. ”
Agente bom: “-Não está, não. ”
Mariana: ”-.......”
Agente bom: “-Vou falar com o supervisor. ”
Mariana: ”-Ok. ”
Agente ruim: “-Não adianta, está interditado devido aos ratos. ”
Mariana: ”-Ratos? (Pensando: WTF)
Agente bom: ”-Realmente, não dá, tentei falar com o supervisor.
Pensamento lógico: Há toda uma equipe do metrô. Caixas, supervisores,
maquinistas, faxineiros. NÃO É POSSÍVEL QUE EM TODA ESTAÇÃO NÃO TENHA UM
BANHEIRO. Mariana pensou em apelar e dizer que estava grávida para poder
finalmente ir e ser feliz. Mas não usou esse golpe baixo porque... bom, seria
uma boa ideia, ela estava desesperada.
Chegando ao metrô, não aguentou ficar em pé e sentou-se no canto do
vagão, desolada. Pelo menos seriam apenas seis estações. Cada estação era um
passo mais próximo de casa. E assim ela foi aguentando, pôs a cabeça entre os
joelhos e passou todo o sufoco possível, o metrô também sacolejava e a todo
momento ela pensava que não poderia mais segurar. Chegou á estação final,
Pavuna, e lá foi ela perguntar novamente, agora para um guarda.
Mariana: “-Olá, tem banheiros aqui? ”
Guarda: ”-Interditado. ”
Mariana: ”-Até na saída B? ”
Guarda: “-Interditado devido ao chorume.
Mas mesmo se não fosse isso, estaria interditado. ”
Pensamento lógico: Estamos no carnaval, de fato o metrô está
superlotadoe então eles estão bloqueando o acesso da população aos banheiros
para que eles não virem chiqueiros, MAS PO, PAGAMOS 3,70 para encaramos
mentiras como “Ratos e chorume” quando eles simplesmente fecham as portas ao
povo, negando uma condição básica do ser humano. Quando Mariana for rica ainda
processará a empresa Metrô Rio por danos morais.
Saiu ela desesperada, teve que andar pela feira eterna dos reinos
longínquos da Pavuna, e encontrou o ponto do ônibus que a levaria para casa e
poderia ter calma e sossego. Devido ao desespero, colocou as mochilas no chão,
esperou vinte minutos em pé agoniada, o número do ônibus seria 736, destino
Jardim Botânico. (Fato curioso: Mariana só conhece o Jardim Botânico da Zona
sul, mas tudo bem, existe um na zona norte também.)
Fato importante: Mariana é míope. E devido ao desespero, ela teve o
incrível raciocínio: “Consigo enxergar o nome do lugar e os dois primeiros
números, não estou com vontade de pegar meus óculos, o esforço de me abaixar
poderia romper minha bexiga e uma catástrofe aconteceria.
Ao chegar o primeiro ônibus com as características acima, pegou Mariana
suas duas mochilas e fantasia e subiu no veículo. Como uma não habitante de São
João De Meriti, perguntou ao motorista: “-Passa na área Pernambucana? ” E ele
respondeu um curto e sábio: ”-Não”. A cobradora comentou: “-Esse é o 738. Você
precisa pegar o 736. ” E então, rapidamente Mariana recolheu a nota de cinco
reais que botou na mão da cobradora e desceu. E sentira uma leveza na alma, nos
ombros, se sentia mais livre. E de repente percebeu: “MINHA MOCHILA COM MEU
NOTEBOOK” e o pânico tomou conta de Mariana. Ela pegou o ônibus atrás, que por coincidência
e muita sorte era o tão esperado 736, e quase ordenou: “-SIGA AQUELE ÔNIBUS! ” Por
sorte e muita coincidência do destino, o motorista era novo e estava claramente
fazendo as vontades de Mariana, acalmou-a e falou, pela discrição de Mariana do
motorista e sua cobradora, que conhecia o motorista e que minha mochila estaria
sã e salva no ponto final. Em todo o percurso Mariana mal pode apreciar a linda
paisagem de São João de Meriti pois estava muito agoniada, e precisava ir ao
banheiro e pegar sua mochila, resgatar seus pertences, seus bens. Chegando ao
ponto final, conseguira recuperar a mochila, a cobradora chegou com um sorriso
e entregou a mochila como se fosse um bebê recém-nascido no colo do pai. E a
sensação de Mariana também não era diferente.
Para melhorar, dissera o motorista para seu chefe: “- Chefe, deixa ela
entrar por trás (0800), ela já pagou muita passagem hoje. (DETALHE: Mariana não
pagara nenhuma passagem de ônibus, foi um agrado lindo do motorista.)
Um dia Mariana será rica e pagará uma bebida ao melhor motorista de
todos os tempos da última semana.
E assim, depois de muito sufoco e muita vontade de ir ao banheiro,
chegara Mariana ao ponto, saíra do ônibus e fora até a casa. Lá, assobiou,
agoniada, bateu na porta e foi algo bem poético;
“-Quem é? ”
“-SOU EU!!”
“-Quem? ”
“-SÓ ABRE, EU VOU MORRER AQUI”
“-Ah, Mariana. ”
*Abre a porta e Mariana sai correndo cheia de areia pelo seu corpo (
devido ao luau) para o banheiro.
E assim passou Mariana as seguintes duas horas limpando a casa pela
areia espalhada. Mas tudo acaba bem quando termina bem, e assim terminou a saga
de Mariana pelo Rio de Janeiro, com muito ódio do Metrô Rio e muito amor pela
companhia de ônibus de St. John.