quinta-feira, 19 de novembro de 2015

NÃO É FRESCURA

Dois tipos de pessoa conseguem me irritar consideravelmente. Um deles é o sujeito que afirma que depressão é frescura. O outro é o que afirma: “Mulher é tudo fraca. Esse negócio de cólica nem deve ser tão ruim assim quanto dizem.
Pois bem, vamos lá.
Quinta-feira de sol, finalmente consigo sair da escola e ficar trancada em casa (não gosto de sol), ando tranquilamente pelo trajeto de dois minutos exatos que realizo durante mais de dez anos. Chego em casa, troco uma ou duas palavras genéricas com a família há muito indiferente, almoço, pego meu livro, leio duas páginas e caio no sono.
                Acordo com a sensação de que facas dilaceram meu útero, que minhas hemácias estão sapateando dentro de mim, que tem um redemoinho de caos e destruição de ácido destruindo meus órgãos, me matando de dentro para fora. Não é exagero. Com isso, não consigo me concentrar em muitas coisas: Rolo para um lado, viro para o outro, me encolho como um tatu-bola, deito de bruços, meu útero raivoso por não ter gerado um descendente. Ou apenas o movimento bruto das plaquetas se agitando. Digo a mim mesma: “Seja forte, é só uma dorzinha”, mas quem eu estava querendo enganar? Começo a procurar o remédio para amenizar a minha dor, vasculho gavetas de remédios, minha escrivaninha, meu armário, nem sinal dos comprimidos.
             Não achando os malditos, resolvo sair e comprar na farmácia aqui em frente. Pego o elevador, tenho vontade de sentar no carpete e me encolher, nunca mais sair de lá, mas seria estranho, os vizinhos perguntariam. Saio do prédio, o sol terrível do Rio de janeiro a queimar minhas retinas e minha pele, e espero os carros passarem para eu atravessar, visto que a farmácia é do outro lado da rua principal. Espero. Um ônibus passa devagar enquanto quase não há carros e cogito sair correndo, mas me contenho. Demora um bocado para conseguir atravessar. Chego á farmácia, peço o remédio; a cartela de comprimidos está em falta, mas ainda tem em gotas, muito bom. Minto, nunca havia tomado em gotas, mas não deveria ser ruim. Espero mais um bocado para atravessar, já pensando em quão bom seria ter a dor aliviada por um tempo, em como eu poderia voltar a fazer as coisas que gosto, desenhar, escrever... enfim, cheguei, pinguei vinte gotas do remédio em uma colher, o líquido amarelo translúcido exalando um fraco aroma cítrico... levei a colher a minha boca...
               Imagine um remédio ruim. Pior que dipirona sódica (vulgo Novalgina), mas pior. É o sabor do inferno, um sabor ácido e amargo ao mesmo tempo, e o pior é que se mantêm na boca, é perpetuado, qualquer coisa que eu comesse tinha gosto desta desgraça. A vontade de vomitar era maior que tudo, mas me contive em prol da dor maior. E a propaganda não é verídica, o alívio não é imediato, é cerca de meia hora depois. E minha dor passou por adoráveis cinco horas. Hora de tomar o elixir de satanás novamente.


Moral da história: Cólica não é frescura, tomar remédio para cólica não é frescura. Para de criticar e julgar, e , sendo homem, agradeça por não ter cólica.

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