quinta-feira, 25 de março de 2021

andando pela rua 3

 andando pela rua 3

Andando pela rua

você vem de lá 

eu venho de cá 

Nos cruzamos e você diz:

-Você não tem medo de andar aqui sozinha?

-Sim, morro de medo, e por mais que cruze por aqui todos os dias, sempre estive a sua espera, para quando você passasse, eu implorasse para que pudesse caminhar a seu lado, porque nessa sociedade doente, se você porta um indivíduo do sexo masculino ao seu lado, há todo um direcionamento do respeito masculino para esse cidadão, uma vez que a mulher é vista como adereço, pedaço de carne ambulante pedindo para ser devorada, pois é, me devore e deixe-me habitar seu estômago, ops, irei te contar meu segredo, sou um verme que vai se alimentando das suas vísceras e te deixo tão vazio quanto o que pretendia ao tentar me domar, tentar implantar medo na minha subjetividade, se tem algo que tenho medo é que eu mesma deteste tanto a vida que tire ela de mim, se a morte não me mantém refém , muito mais seria sua, sou um pedaço de carne envenenada, não tenho nada a perder e prefiro minha liberdade a viver em um estômago , com todos seus ácidos.

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