quinta-feira, 25 de março de 2021

andando pela rua 3

 andando pela rua 3

Andando pela rua

você vem de lá 

eu venho de cá 

Nos cruzamos e você diz:

-Você não tem medo de andar aqui sozinha?

-Sim, morro de medo, e por mais que cruze por aqui todos os dias, sempre estive a sua espera, para quando você passasse, eu implorasse para que pudesse caminhar a seu lado, porque nessa sociedade doente, se você porta um indivíduo do sexo masculino ao seu lado, há todo um direcionamento do respeito masculino para esse cidadão, uma vez que a mulher é vista como adereço, pedaço de carne ambulante pedindo para ser devorada, pois é, me devore e deixe-me habitar seu estômago, ops, irei te contar meu segredo, sou um verme que vai se alimentando das suas vísceras e te deixo tão vazio quanto o que pretendia ao tentar me domar, tentar implantar medo na minha subjetividade, se tem algo que tenho medo é que eu mesma deteste tanto a vida que tire ela de mim, se a morte não me mantém refém , muito mais seria sua, sou um pedaço de carne envenenada, não tenho nada a perder e prefiro minha liberdade a viver em um estômago , com todos seus ácidos.

andando pela rua 2

 Andando pela rua 2

Você vem de lá 

eu venho de cá

Você não tem medo? Andar por aí sozinha?

Eu olho, sem hesitar, e respondo:

-Você vai me estuprar agora? Estou armada com sarcasmo, ironia, deboche, raiva de dez mil tensões acumuladas pacote passado plus, uma adaga, unhas, dentes, alguns golpes de jiu jitsu bem encaixados, uns resquícios do boxe, e um pouco de sociopatia. O que você tem?

Você não sabe se ri, se vai embora andando, se chora, se tenta vir me agredir, então você vira vapor e sobe para a atmosfera 


andando pela rua

 andando pela rua

você chega e me pergunta:

-Você não tem medo?

Eu digo

-De quê?

você olha nos meus olhos e diz:

-De mim. 


-Não sei, você tem medo de você?


-Você me olha com cara de nojo , diz: -Não!

 vai embora
E pensa
''Não... sei?''

segunda-feira, 15 de março de 2021

eu olho para o espelho e arranco a máscara que moldei, feita de vários restos de peles, discursos, cursos de rio. Rio, sem saber se é de ansiedade, desespero, ou uma tentativa última de tentar ser do time dos otimistas. Nunca, desde os sete anos, fui do time dos otimistas. Tento ver o que há por baixo dessa máscara de pele e vejo um abismo e um buraco negro que me devora a cada dia, enfio minhas mãos lá no fundo dele e dele retiro uma bailarina em um tocador de corda, não me lembro o nome disso. Boto a música para tocar, o buraco negro sugando tudo, quebrando meus móveis, fazendo as paredes colapsarem, enquanto escuto a doce melodia que me faz querer alinhar as estrelas mortas do meu espectro para que elas, em seu caos buraco-negrico, dancem para mim. Um ótimo espetáculo, é o que todos querem ver. Tiro um chapéu do meu buraco-negro, e agora estou um buraco-negro estiloso. Não consuma minha obra, ou ela é que vai te consumir, ela foi feita com meus orgãos, o que os juntava era o meu sangue. Ria, Arnaldo, ria. Ria que é melhor que continuar contorcendo o rosto com todo o turbilhão agonizante das mortes de milhares. Deito e rolo no chão, no sangue, meu rosto buraco-negro sugando as poeiras ao redor.  Eu quero comer, devorar, processar tudo que passa pela minha frente , e agora flutuo no espaço e tudo virou um purê. Meio sem gosto, admito, gosto nem de terra, pois terra tem gosto de vida. O gosto que sinto é de marasmo, os gemidos da vizinha altos indicando que ela sente tanto prazer, oh, tanto prazer em continuar nesse confinamento com gosto de dipirona. Talvez eu seja um buraco negro colérico, porque estou com abstinência da droga copulatória, uma vez que minha fonte de serotonina secou. Que bom que pulaste fora, quando mal percebeste, eu iria quebrar seu rosto em dez mil pedacinhos e reordená-los conforme o meu desejo , e nem você se reconheceria mais. Ou não, talvez o rosto a ser dito seja o meu próprio, eu e a capacidade de ordena-lo e reordena-lo conforme meu desejo e tiro o buraco negro e aparece o rosto influencer, pego esse rosto, jogo-o no chão, vou usar de tapete da frente para as visitas, os gatos acabaram com o último. Pego meu rosto pessoa cansada da eternidade, não sei o que faço com ele, penduro-o no armário, onde será que estaria minha caneta da mesa digitalizadora? Escrevo, escrava das mãos, e da subjetividade, pois só ela consegue pegar toda a tristeza que tenho e enfiar nos meios, para um pedido de socorro da minha alma com ela mesma, só ela sabe a angústia que sinto ao descer as escadas, me deparar com pessoas que não tem nada a ver comigo, pessoas que gritam e ferem meus ouvidos com ruídos, e sou eu mesma ruído de uma matriz falha, rasa. Tiro meu rosto cansado, vejo um rosto cheio de vida, cheio de sonhos, digo a ele ''tenha paciência'', mas ao mesmo tempo, parece que sou  o único motor impulsionador de desejo, talvez seja muito intensa, talvez seja densa, talvez eu devesse nadar em águas mais rasas, estou tão fundo que não vejo luz, não vejo peixes, não vejo nem os seres abissais. Estava com um amigo meu mais cedo, ele estava vendo televisão comigo, e eu sempre precisava me convencer que ele não estava comigo por causa do meu ar condicionado, e em certo momento eu realmente queria que ele saísse, que bom que percebeu. Porque chega um momento que eu canso de fingir , canso dos risos falsos, não rio, sou mar, já fui cachoeira, hoje sou só cacto. Sou um coquetel para causar perturbação no estômago. Sou tão nada e tão tudo, fico me perguntando quanto de tudo tenho, e sei que é tão pouco, que diante do universo o tudo se resume a nada, porque sou só uma célula agonizante vendo o câncer se propagar na nossa espécie, no nosso planeta. Somos células que superestimam seu próprio valor e desprezam e matam o outro, somos vis, cruéis, não quero carregar essa culpa, mas o que me resta? Como posso voar com tantos males, com tanto ódio que me suprime os pulmões como uma jiboia constantemente me lembrando que somos estupidamente imbecis e. Tiro minha máscara cheia de vida, ponho-a de lado também, não sei se minha alma minha cabeça tem sono, dormi a tarde inteira, não quero jogar, não estou a fim de ler pela vista cansada de horas , éons em ead. quero, sei lá. arrumar os personagens na mesa do galois.

domingo, 14 de março de 2021

 hei vida

será que sou muito implacável pra você?

Será que não levo na esportiva?

talvez porque meus sentimentos são meio tudo ou nada

e sei que preciso medir 

um conta-gotas de amor

não sei nem se sei escrever ainda

passava pela ponte entre a UFRJ e o parque união

e vejo pessoas nos bares

esperando , talvez, pela próxima atração

não vejo música ao vivo, o que me entristece

e ouvi hoje mais cedo

a minha filha vai para o baile e volta mais nervosa

claro que volta mais nervosa

um lugar extremamente cheio em que todos procuram por sexo

a música só diz 

sexo sexo sexo

e eu pensando , é , preciso de um vibrador

porque o próprio falo

pode ser usado de arma

como um objeto-desejo

e penso preciso ler filósofos sobre isso

e foda-se sou uma filósofa

e foda-se sou egocentrica

e a vida vai me deixando mais fria

tipo esse ar condicionado que comprei

e eu sei que minha cabeça dói

por planos inconclusos

aaa

me sinto só

e pensei

em escrever em ingles

I feel lonely 

mas o quão patético seria

e quando percebi

já o escrevi

porque prefiro escrever em várias linguas