Drummond tinha uma sensibilidade incrível, e me pegou de surpresa no texto sobre os pintinhos.
ele reflete sobre a natureza consumista escrota objetificante e como vidas sao transformadas em entretenimento de uma hora para a outra. Pintinhos coloridos todos nós conhecemos, e é de um egoísmo ferrenho só querer achar adorável o bicho quando é filhote. Mas vejo isso em todas espécies de animais, e claro, a nossa.
Bebes superestimados. Crianças levadas e agitadas. Adolescentes rebeldes. Jovens adultos inseguros. Adultos resignados. Idosos abandonados. Enquanto a energia que erradia dos corpos que vao amadurecendo vai se esvaindo, os entes ao redor também vao se recolhendo. É a metamorfose de Kafka, um idoso, um animal idoso, nao tem mais o brilho nos olhos, mas um resmungo, um lamento, um ronco grosso e um escarro.
Idosos deixados no asilo, a jogar dominó, damas, esperando pelo fim. Isso porque nos restou um resquício de humanidade, se nao existiria uma indústria de extermínio, para poupar recursos alimentícios, de saúde, entre outros. Mas nao seria lucrativo para o ramo farmacêutico, quem compraria os milhares de remédios a serem tomados diariamente?
Quem nao tem algum conhecido que tinha um cachorro que foi abandonado, no início nao, é só flores, o animal na caixa, achando tudo uma incrível novidade... é. Um bebe, esse vai ser médico, esse vai ser engenheiro... droga, virou artista. Acontece. Próximo.
Queremos novidade, Drummond. Queremos uns pintinhos coloridos mas nao queremos a galinha, se nao for para comer. Nao adianta, tudo que passa por nossas Maos é para ser consumido, de uma maneira ou de outra. O decorativo nos cansa. Mesmo que seja um decorativo cansado de tintas artificiais que sejam maléficos para a saúde do ser pintado, no caso, o pintinho.
E a criança já vem sendo educada de maneira estúpida, chega o pai, a Mae, querem ``calar o pestinha``, distrai-lo com qualquer coisa, para que papai e mamãe possam copular em paz depois de cinco anos tendo que cuidar de um filho que extingue todas suas energias. Eles já chegam e dizem: Olha, filho, que bonitinho! Brinquedinho! E lá vai a criança, com valores distorcidos sobre humanidade.
Matei o meu pintinho. Era só um pintinho, só um bicho, era praticamente um inseto, um subordinado a raca humana. Depois compro outro pra você, filho. O que me chocou foi o final, quando o pintinho morre, a criança quer guardar o corpo colorido, um troféu, uma lembrança, para depois ser esquecido em um armário empoeirado, onde o pintinho ficaria cheio de vermes e seus olhos seriam comidos. Agora imagino um conto em que o corpo do pintinho vem assombrar a criança, e corpos de crianças sao pintados para satisfazer galinhas, corpos de bebes rosa, amarelo, azuis.
Crianças podem ser anjos ou demônios, depende da criação. Podem ser destruidores de vidas ou defensores dos animais. Violentadores, torturadores, insensíveis, ou ativistas, amorosos, criativos, exploradores. Cabe aos pais. Sociedade do descarte, da substituição, da ignorância, da irrelevância, tente voce ser diferente.
caralho, sonhei com ti não sei porque. Mas cuidado ao com seu óculos caso o tenha
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