quarta-feira, 31 de outubro de 2018

BLERG ADVOGADOS

A livraria não contava com uma limpeza perfeita — era mesmo um
contratempo inevitável por causa do entra e sai de velharias, e talvez por isso os
fregueses da área jurídica fossem na maioria homens. Promotoras, juízas e
mesmo advogadas, em geral, se esforçavam em andar tão bem vestidas que
deviam ter medo de sujar a roupa ali dentro. Sem falar nas mãos, de pele e unhas
muito bem cuidadas.

terça-feira, 23 de outubro de 2018

devaneios míticos

Escrevo enquanto escuto o maravilhoso
incrível
indescritível
Berimbau de boca
Ressoando
E fazendo esse som de mola
ó, alma minha que se assola
e se esgota
transbordou
aguentaria um maremoto
Um furacao
E estaria mais estável
Se o meio se adequasse ao caos interno
Mas parece que ao redor
Está tudo finito em si
Dormindo
Onde está adrenalina
Escondida emoção
Como sentir algo
Que nao seja fome
Ou consumação
Edito o texto
Mesmo contexto
Quero te preparar
como receita
te mostrar
texto é teste
mas que peste
de gênio inquieto
nao contenta com comida
estudo e tetoa c
Tento
 saudades do teti
Onde me meti
Queria uma corcova
e a casa nas costas
E nas costas água
comida
e tudo que precisar
queria parar de querer
e realmente
transcender
mas transcender nao é possível 
enquanto tenho vontades mundanas e fome
e vontade de carne e sexo e perversão
engulo todo o macarrao
a carne moída entre os dentes
as escovas com cerdas quebradas e os pentes
e as pessoas exigentes\
e todo esse blá blá blá
Falar inesgotável
quando pararmos de falar
Nossos lábios se colarao
e pela primeira vez
O ser humano pensa
mas se pensa cansa
se cansa descansa
cai
pro lado
Repousa e volta a viver no automático
Pensar direto queima
tritura
Come batata frita
fritura
Escova os dentes
Brancura
Imaginária vendida pelo comercial
de águas de jade
águas de vitrine
águas desaguadas
que descem dos céus e molham os couros cabeludos
antes castigados pelo sol
Teu corpo no formol
Para que sua casca dure
por mais um ano
Um milésimo de segundo
Na história que ninguém se importa
Na tua natureza morta
no caixão subtraído
Já comido
Por que comecei a falar de morte
ela está anexada a sorte
a sorte e o sonho
de morrer bem
De morrer em uma praia
Lendo um livro
tudo que mais desejo
Morrer depois de um orgasmo
no meio de um beijo
Morrer em um espasmo
Morrer comendo queijo
Morrer dançando funk
 Escutando sertanejo
Formas estúpidas de morrer
Mas grandes merdas
Nao dá para classificar
Ou estimar
Pois é o último ato teu
A última ação
a testemunhar
que seja tua última palavra :cu
a minha última palavra
é caralho isso é pesado demais
pensar na sua última palavra
no último signo que voce pretende invocar
Imagina que louco se fosse simplesmente
Palavra
é a meta anunciação
hoje nao tem felicidade
diz a música dos titas
É permitido para qualquer idade

 

 

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

terça-feira, 2 de outubro de 2018

Defecar no mato

Há quem diga a expressão ``Ah, vai cagar no mato``. Para quem já disse isso, alto lá.
Você já cagou no mato? Fui acampar com um colega, esse fim de semana, e me surpreendi muito com o sentimento de estar no meio da natureza, e fazer o ato mais comum, repetido, o pós-comer, o se livrar do que não presta para seu corpo, e que vai prestar para o meio. Pensei em inúmeras coisas, como:
A demonização das fezes, quando na verdade é só o que foi ingerido antes com uma série de ácidos e agentes que transformam tudo em uma massa homogênea. Transformamos em algo estúpido, em um xingamento, vai a merda. Negar a merda, negar o que é inerente ao ser humano, o detrito, o resquício, o excreta, o orgânico, é negar a existência.
Fui para o meio do mato, em uma praia longe de minha morada atual, e do nada, como sempre, senti o chamado da natureza, agora que estava rodeada de árvores e palmeiras, o cheiro do mato, de mar. Quis me distanciar o máximo das pessoas que estavam lá na ilha, ter o momento íntimo de concentração, levei um bocado de papel higiênico, me senti ligeiramente ridícula por estar levando-no.
Achei um canto no caminho da trilha, me agachei, e me pus aos trabalhos. Enquanto estava nessa interessantíssima aventura, pensei: Os animais fazem isso sem ao menos racionalizar. Eles somente fazem, e não demonizam. Me senti um animal, com o sangue quente correndo, sem precisar fazer caretas ou teatralidades, simplesmente poderia ser eu, animal, sem vícios, preconceitos e rótulos, só um corpo atendendo ás suas necessidades mais puras.
Olhei para baixo, e lá estava, um belo punhado de fezes. Camuflados, quase, da mesma cor da terra. Se tivesse um lugar perfeito para minhas fezes se encaixarem, seriam no meio daquela terra. Procurava pelo cheiro desagradável, mas esse também se dissipou no cheiro enorme do cenário aberto e tranquilizante. Meu coco ficou lá para servir de adubo, de substrato natural. Que besouros se aproveitem da substancia, que árvores e flores prosperem diante da matéria.
Eu me senti como se... todos os artificialismos, as privadas, em que simplesmente nos desfazemos da merda sem ao menos olhar para ela, se dissipassem, como se ali estivesse expressa toda a concretude e a essência do ser humano, comer, processar, excretar.
Pensei em nem passar o papel higiênico, tamanha minha sintonia com a natureza. Mas, pensando no meu colega de barraca, seria interessante prezar pelos ideais de higiene ocidentais estipulados pela sociedade moderna.
Eu me senti como totalmente bicho, fera, carnal, um macaco que excreta, que fica de quatro, vai procurar alimento, e depois copula com os membros da tribo. Ressaltei novamente o fato de que os nossos tabus são rasos e estúpidos, não querer ver o outro defecando, essa intimidade fútil, somos todos humanos, todo mundo caga.  Essa vida de cidade cansa, acho que não é muito pra mim. Experimentem, cagar no mato é esclarecedor.