Noite de terça-feira, chuvosa, melancólica.
Josefina abriu a geladeira para ver o que lhe aguardava; não se impressionou quando viu que não havia muitas opções; Pegou uma berinjela aqui, uma batata ali, e logo já tinha matado a fome. Porém as horas foram passando, e seu estômago exigia mais. Ele rugia como trovões e agitava-se como um mar tempestuoso. Josefina, desesperada, foi checar o estoque remanescente no armário. Um saco de farinha, outro de linhaça, uma caixa transparente preenchida totalmente por arroz, e três pacotes de miojo.
Na embalagem dizia "talharim", mas é apenas uma subdivisão do miojo, o miojo-talharim.
Josefina então imaginou aquele macarrão sem gosto, mole e grudento, que parece mais comida de presidiários que de trabalhadores esforçados. ( No caso, estudantes). Mas era o jeito.
Encheu metade de uma panelinha com água, pôs óleo e pôs-se a esperar. Ao olhar para trás, viu que tinha tirado um pote de sorvete da geladeira, e então se perguntou:" -O que será que está nesse pote?"
Por experiência própria, a probabilidade de encontrar sorvete em um pote de sorvete era mínima. Era mínima ao extremo.
Abriu o pote e a surpresa estampou-se no rosto de Josefina. Era queijo mussarela ralado recém-tirado da geladeira. E ao abrir o freezer, viu que havia um saco plástico estranho, com formas encurvadas.
Ao abri-lo, viu que eram salsichas, totalmente industrializadas, aquelas com má fama de serem feitas com o pé, olho, cabeça, joelho e pé do porco, mas mesmo assim, eram salsichas, e seriam consumidas.
Ao esperar o macarrão ficar pronto, a expectativa tomou conta de Josefina. Ela sabia que poderia fazer isso, sabia que ficaria delicioso,
E assim o fez, escorreu a água da massa, temperou com o super e eficaz tempero de saquinho do miojo ( cuja salubridade é famosa) , chacoalhando para distribuir o sabor por todo o macarrão. Assim feito, pegou o queijo ralado e espalhou pelo prato aos montes, e depois colocou a massa em cima, adicionando mais queijo ainda na superfície, formando praticamente uma lasanha de miojo. O queijo derretia e o prato parecia cada vez mais apetitoso. Josefina esquentou duas salsichas no micro-ondas e fatiou-as, para depois acrescentar sobre a obra-prima.
Ao experimentar o resultado, surpreendeu-se ainda mais. Anjos brincavam com seu paladar, ela sentia-se no céu, sentiu-se a melhor cozinheira já existente, sentiu-se como um artista apreciando sua arte final, sua obra-prima, deleitado e orgulhoso. Até precisar lavar a louça, mas isso é outra história.
A combinação do queijo derretido com macarrão quentinho e salsichas é algo que uma pessoa precisa experimentar pelo menos uma vez na vida.
Infelizmente o prato não é saudável, logo deve ser consumido com moderação.
Mariana Mitic
sexta-feira, 4 de setembro de 2015
Sobrevivendo na Selva ( de Concreto) dia 2
Sobreviver no ambiente hostil que é a cidade pode ser uma tarefa árdua quando a matriz processadora de alimentos é cortada repentinamente do script; Quando você percebe que está só e precisa fazer de tudo para manter-se são, e que suas habilidades não são suficientes, e os recursos financeiros cada vez menos abundantes, e então você percebe: é você e você mesmo; podes pedir ajuda, buscar alimento de forma menos leal, nas situações extremas há prioridades. A fome começa a tornar-se recorrente como uma sombra, nunca deixa de estar lá. Mas então, contemos como Mariana Mitic continua viva:
Após uma hora de sono mal dormida, foi fazer suas atividades e nisso comeu bolo de cenoura com calda de chocolate, brigadeiro, biscoitos. Açúcar, energia, maravilha. Sabia que a próxima vez que comeria doces seria em um futuro não tão próximo assim. Depois, ao chegar á Base (Lê-se casa também) comera o ensopado de mandioca com carne restante. O ensopado consistia em pedaços de mandioca regados a um molho interessante e pedacinhos de carne boiando por ele, típica comida goiana; este foi o almoço de nossa sobrevivente, e seu jantar também. Infelizmente o jantar foi realizado ás 18:34, a hora em que escrevo esta carta que pode ser minha última, pois acabou o ensopado. A última fonte proveniente de carne na casa acabou, nada de proteínas, agora apenas carboidratos. Alimentos restantes: panela de arroz, panela de feijão, uns cinco pedaços de abóbora, sorvete ruim, bananas. Muitas bananas. Bananas para serem consumidas em situações extremas em 1)falta de açúcar e doces 2) falta de café da manhã. Bananas são os mantimentos mais abundantes na Base. Seguidos de miojo. Mas miojo é uma questão delicada pois nossa sobrevivente sabe fazê-lo com destreza mas o conteúdo assim não é tão nutritivo. Acabou o ensopado de mandioca. Lê-se aipim ou macaxeira para os que não detectaram ainda. Saldo geral para não morrer de fome: Dez reais. Sobreviver sem chocolate será tenso. E isso apenas no segundo dia.
(Para resumir: Minha avó viajou e não sei cozinhar nada)
Mariana Mitic, respirando e bem.
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